Júri sentencia à prisão perpétua supremacista que atropelou manifestante nos EUA

James Fields atropelou manifestantes contrários a supremacistas brancos

Danielle Brant
Nova York

Um júri sentenciou nesta terça-feira (11) James Fields, 21, à prisão perpétua e a cumprir uma pena adicional de 419 anos pela morte de uma mulher atropelada durante manifestação contrária a uma marcha de supremacistas brancos em Charlottesville, nos EUA.

Em agosto de 2017, Fields, apoiador de crenças neonazistas, atirou o carro contra um grupo que protestava contra o ato “Unite the Right” (“Una a Direita”), matando a ativista Heather Heyer e ferindo 35 pessoas.

A recomendação ocorreu um dia depois de os jurados, sete mulheres e cinco homens, ouvirem relatos emocionados da mãe de Heyer. Eles deliberaram durante quatro horas ao longo de dois dias.

O neonazista James Alex Fields em ato da direita no Parque Emancipação, no mesmo dia em que atropelou manifestantes contrários ao protesto - Eze Amos-12.ago.2017/Reuters

Fields foi sentenciado à prisão perpétua por homicídio em primeiro grau. O júri também recomendou 70 anos para cada uma das cinco acusações de ferimentos dolosos com agravantes, 20 anos para cada uma das três acusações de ferimentos com intenção e a nove anos por abandono da cena do acidente.

Na sexta-feira (7), o mesmo júri havia condenado o supremacista branco. Ele ainda será submetido a um outro julgamento por crime de ódio, de âmbito federal.

Durante o julgamento, os promotores buscaram provar que ele tinha a intenção de ferir os manifestantes, enquanto a equipe de defensores tentou alegar que Fields estava em pânico e agiu em legítima defesa.

Do lado da acusação, foi exibida uma troca de mensagens entre Fields e a mãe em que ela pedia que o filho tomasse cuidado. “Não somos nós que temos que ter cuidado”, respondeu em uma mensagem que incluía a foto de Adolf Hitler.

Os promotores mostraram também uma charge compartilhada meses antes no Instagram pelo acusado e que trazia a imagem de um carro sendo jogado contra uma multidão, com a frase “Você tem o direito de protestar, mas eu estou atrasado para o trabalho”.

O carro Dodge Challenger que James Alex Fields Jr. lançou contra manifestação contrária a supremacistas brancas - Matthew Hatcher-12.ago.2017/AFP

Uma das testemunhas de acusação, o policial Clifford Lee Thomas, disse que Fields acelerou para uma velocidade de 45 km/h antes de bater em um Toyota Camry.

Uma filmagem do dia mostra ainda o carro do acusado passando lentamente por uma interseção e dando ré, antes de acelerar rumo à multidão. 

Do lado da defesa, o argumento foi de que Fields, no início do dia, havia sido atingido por algo que parecia urina e que se sentia desprotegido sozinho. “Ele achou que as pessoas estavam atrás dele”, afirmou a advogada Denise Lunsford.

“A diferença entre uma multidão alegre e uma turba irada está nos olhos de quem vê.”

A marcha “Unite the Right” foi convocada em protesto contra a decisão de retirar uma estátua do general Robert E. Lee (1807-1870) de um parque local.

Lee comandou as tropas confederadas na Guerra Civil dos EUA (1861-65), quando estados do Sul lutaram para se separar do Norte abolicionista e manter seus escravos. Durante o protesto, os supremacistas brancos carregaram a bandeira vermelha com a cruz azul estrelada, símbolos neonazistas e da organização supremacista Ku Klux Klan.

A reação do presidente americano, Donald Trump, aos eventos foi bastante criticada à época. O republicano disse, inicialmente, que havia “pessoas muito boas” nos dois grupos de manifestantes.

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