Justiça argentina inicia processo contra Cristina Kirchner por corrupção

Caso envolve ainda empresários e outros políticos; senadora tem foro privilegiado

Sylvia Colombo
Buenos Aires

Depois de semanas investigando os chamados “cadernos da corrupção”, fornecidos por um ex-motorista do ministério do Planejamento durante o kirchnerismo (2003-2015), o juiz federal Claudio Bonadio decidiu iniciar processos contra políticos e empresários.

A mais destacada entre eles é a ex-presidente Cristina Kirchner, que possui foro privilegiado por ser senadora. Bonadio pediu mais uma vez que o benefício seja retirado para que Cristina seja levada a prisão preventiva e responda a processo.

Foram deixados de fora, porém, os também mencionados nos “cadernos da corrupção” Gianfranco e Franco Macri, irmão e pai do presidente Mauricio Macri.

A senadora e ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner em evento em Buenos Aires - Martin Acosta - 19.nov.18/Reuters

Os cadernos reúnem informações sobre entregas de dinheiro de empresários a membros do governo, para que fossem beneficiados em concursos por obras públicas. Pela primeira vez, a Justiça argentina está usando o recurso da Lei do Arrependido, parecido com a delação premiada brasileira, para casos de corrupção.

Nas últimas semanas, vários empresários famosos do país, como Paolo Rocca, da Techint, ou Angelo Calcaterra, da IECSA e primo de Macri, compareceram para dar declarações. Alguns fizeram acordos.

Cristina Kirchner, que tem intenção de disputar as eleições de 2019, também compareceu a dar explicações. A senadora também figura como acusada em outras 7 causas judiciais.

No caso dos “cadernos da corrupção”, Cristina será processada pela acusação de ser supostamente chefe de uma associação ilícita e de ser responsável pela estrutura de arrecadação ilícita de dinheiro, envolvendo subornos, junto a empresários.

O pedido de Bonadio para que seja retirado o foro privilegiado seria enviado na tarde desta quinta tarde ao Senado, casa em que, porém, o peronismo possui maioria.

Num caso inédito na Argentina, doze empresários também serão processados. E, se o pai e o irmão de Macri se livraram, o primo do presidente, Calcaterra, será processado. Sua ex-empresa (ele a vendeu quando começaram a ser revelados os escândalos) era a sócia da Odebrecht no soterramento do trem Sarmiento, mais importante obra da empreiteira brasileira na Argentina.

O processo contra Cristina, assim como as outras causas pelas quais ela responde, só poderá ir adiante se e quando ela perder o foro privilegiado. 

Apesar de ser algo difícil, por conta da maioria no Congresso de peronistas, é preciso lembrar que seu ministro e homem-forte, Julio De Vido, perdeu o foro como deputado e hoje está preso.

No caso de o processamento ir adiante, a Procuradoria terá de apresentar evidências do envolvimento da ex-presidente nos delitos. Se isso for alcançado, o juiz Claudio Bonadio pode levar o caso a “juízo oral”, ou seja, Cristina seria considerara ré e o julgamento entraria em nova fase, que poderia levar à sua condenação.

Os tempos da Justiça argentina, assim como a brasileira, são lentos. Quando Macri foi eleito, em 2015, estava indiciado num processo sobre escutas telefônicas ilegais. Isso, porém, não foi um impedimento para a campanha e nem para a posse. 

Pouco depois de assumir como presidente, a Justiça desestimou a causa contra ele, embora tenha condenado os que participaram da mesma operação.

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