Descrição de chapéu

Líderes do G20 recorrem ao guarda-roupa para passar mensagem diplomática

Roupas dos políticos e das primeiras-damas são termômetros dos humores entre os países

As primeiras-damas dos EUA, Melania Trump, e da Argentina, Juliana Awada, durante evento em Buenos Aires paralelo ao G20
As primeiras-damas dos EUA, Melania Trump, e da Argentina, Juliana Awada, durante evento em Buenos Aires paralelo ao G20 - Sebastian Pani - 30.nov.18/Associated Press
São Paulo

Encontros de chefes de Estado como o do G20, na Argentina, são termômetros dos humores entre as nações. Um aperto de mão mais efusivo, como o que o russo Vladimir Putin dispensou ao príncipe saudita Mohammed bin Salman, ou os conjuntos elétricos de uma Theresa May empenhada em se fazer notar revelam mais do que a agenda de reuniões montadas para a foto.

O oceano de gravatas azuis, profundos como o tailleur roxo azulado da primeira-ministra britânica, homenagearam o anfitrião da noite, o presidente Mauricio Macri, na foto oficial do encontro.

Não fosse a gravata vermelho berrante de Donald Trump, grossa e com ponta abaixo da cintura, dois resquícios mal acabados do uniforme “yuppie” americano, o registro poderia até dissipar a névoa incômoda impressa nos números catastróficos da economia local.

Se Angela Merkel apagou a presença alemã na foto oficial porque não conseguiu chegar a tempo para o retrato, acendeu a luz vermelha nos encontros indigestos com Putin e Trump no sábado (1º), nos quais contrastou a polidez dos sorrisos com a imagem vivaz do vermelho de seu blazer.

May também jogou panos quentes naquele dia, optando por usar um laranja coral, meio vermelho, que poderia ser lido como o momento meio lá, meio cá do Reino Unido às vésperas do “brexit”.

Os ritos diplomáticos mais evidentes, como é de praxe nesses convescotes da política dita pluralista, partiram das primeiras-damas. A americana Melania Trump e a argentina Juliana Awada foram dois contrapesos importantes em meio à euforia imagética do guarda-roupa ocidental.

Para contrastar a retórica passiva agressiva do marido, Melania desembarcou em Buenos Aires, na sexta (30), trajada com o que parecia uma homenagem pessoal ao país.

O casaco de couro marrom da Ralph Lauren, combinada a uma saia branca do mesmo material e escarpins Manolo Blahnik com estampa de vaca pareciam uma caricatura idealizada da pecuária argentina.

No encontro a sós com Juliana, Melania usou um vestido florido da coleção de outono-inverno 2018/2019 da grife italiana Gucci. É curioso, ainda que não surpreendente devido ao reconhecido tino irônico do guarda-roupa da ex-modelo, que a peça escolhida guarde mensagens subliminares sobre a ocasião.

A coleção do vestido de Melania ficou famosa na moda, no início deste ano, por versar sobre a anarquia. Desfilada na semana de moda de Milão, as roupas expõem um futuro pós-apocalíptico onde humanoides dominam um mundo despedaçado e a sociedade americana subjuga culturas.

Juliana parecia prever comparações entre elas e tratou de hastear a bandeira branca no encontro. O vestido de silhueta helênica em tom “off-white” balanceou a explosão de cores impressa na foto oficial das primeiras-damas.

A argentina, aliás, encarnou o personagem de cabide da costura nacional, papel que a indústria americana sonhava um dia encontrar nas escolhas de Melania, que pretere os designers de seu país em detrimento de grifes italianas.

Vestidos e acessórios de marcas portenhas como Evangelina Bomparola, Javier Saiach, Ricky Sarkany e Ménage a Trois, foram combinadas por Juliana a bolsas da francesa Chanel, usada no encontro com a primeira-dama francesa Brigitte Macron, e da italiana Bottega Veneta. Escolhas sóbrias e diplomáticas que resumiram o espírito inclusivo de fachada desse G20.

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