Descrição de chapéu Venezuela

Maduro está acuado e isolado, diz líder opositora venezuelana

Para María Corina Machado, eleições para vereadores deste domingo (9) foi nova fraude

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Caracas

"Como todo regime que está acuado, isolado e perdendo apoio internacional e interno, o governo venezuelano está reagindo com mais violência”, conta à Folha a líder opositora María Corina Machado, 51, no escritório de seu partido, o Vente Venezuela, em Caracas.

Em outubro, enquanto ia para um ato no sul do estado de Bolívar, em Upata, viu sua caravana cercada por “coletivos” (paramilitares aliados à ditadura de Nicolás Maduro) e policiais. Ela e sua equipe, de 25 pessoas, saíram feridas. 

“Depois de me baterem com cassetetes, me puxaram com força pelo cabelo e me deixaram caída no chão. A ideia era que eu não realizasse o ato que convoquei, mas eu fui, mesmo estando dolorida.”

A oposicionista venezuelana María Corina Machado, em Caracas - Alexander Martinez - 23.nov.17/AFP


Corina está especialmente preocupada com o sul do país, abandonado pelos serviços públicos, onde atuam guerrilhas e há uma espécie de “corrida do ouro”, pela qual se digladiam cidadãos comuns, paramilitares e guerrilheiros. 

“É uma terra de ninguém, superviolenta, sem cobertura da imprensa, e em que a população local está assustada e tendo as terras invadidas, o gado roubado.”

Para ela, a eleição para vereadores neste domingo (9), foi uma nova fraude. E mesmo o número baixo de comparecimento apresentado pelo regime (27,5%) é mentiroso. 

“Por isso que defendo que não se vote mais. A parte da oposição que decidiu negociar com Maduro, e depois participar das eleições regionais para governador, se fragmentou e acabou sendo descabeçada pelo regime.” 

De fato, na votação de domingo, os principais partidos de oposição foram impedidos de participar.
Corina crê que os novos governos da Colômbia, de Iván Duque, e do Brasil, do presidente eleito Jair Bolsonaro, “precisam e vão tomar medidas mais duras, porque sabem que o que vem por diante vai ser um fluxo ainda maior de refugiados”.

A ex-congressista, porém, não defende o uso da força, nem o fechamento de fronteiras ou uma intervenção militar. “Pode-se expor as contas, as propriedades e outras fontes que alimentam o sistema, e estancar essa entrada de recursos. E, mais importante, usar a inteligência conjunta.”

Ela afirma que os países de toda a região têm de expor o que sabem sobre os delitos financeiros e de direitos humanos do regime Maduro. “Isso vai causar fragmentação dentro do próprio regime, pois ao acusar um ou outro funcionário, eles vão começar a brigar entre si, e isso diluiria o apoio popular e militar que o governo ainda mantém.”

Corina crê que, nas Forças Armadas, já há um nível de deserções importante. “Nos níveis médios e mais baixos há muita insatisfação, pois as famílias desses oficiais também sofrem a falta de remédios, alimento e dinheiro.”

Para a líder opositora, o atual regime é mais do que uma ditadura, é um Estado criminoso. “Não basta mudar o regime ou tirar Maduro. Há que se levar à Justiça todos os integrantes deste bando e fazer com que paguem pelas 300 mil mortes de venezuelanos.”

Corina diz que não se pode comparar o que está acontecendo na Venezuela com as ditaduras do Chile ou do Brasil nos anos 1970 e 1980. “É muito pior. Aqui não cabe nenhum tipo de anistia.”

Sobre a chegada do esquerdista Andrés Manuel López Obrador ao poder no México, Corina não vê um potencial apoio a Maduro.

“López Obrador tem um tema interno para abordar, que é a violência, e um externo, que é a relação com os EUA. Além disso, a opinião pública deixou muito claro em sua posse [quando Maduro foi vaiado e chamado de ditador] que não vai aceitar ajuda ao regime.”

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