Morre ex-presidente da Colômbia Belisario Betancur

Ao longo de sua vida, foi também poeta, autor de livros, encabeçou ações filantrópicas e liderou o partido Conservador

Ex-presidente conservador da Colômbia Belisario Betancur - REUTERS
Sylvia Colombo
Caracas

Morreu na noite desta sexta-feira (7) o ex-presidente conservador da Colômbia Belisario Betancur (1982-1986), aos 95 anos.

Nascido no Departamento de Antioquia, cuja capital é Medellín, atravessou os anos sangrentos do país, tanto no que diz respeito às guerrilhas (Farc e ELN estavam ativas) quanto dos cartéis do narcotráfico (Medellín e Cali) e foi um dos primeiros a sinalizar com propostas de paz, enquanto também combatia as facções, tentando estabilizar o país.

Ao longo de sua vida, foi também poeta, autor de livros, encabeçou ações filantrópicas e liderou por muitos anos o partido Conservador.

Ganhou projeção ao opor-se à ditadura de Gustavo Rojas Pinilla, militância que o levou a ser preso temporariamente. Depois de liberado, foi ministro do Trabalho e concorreu à Presidência em 1970 e 1978. Acabou vencendo apenas em 1982, justamente quando o país se encontrava conflagrado.

Foi o primeiro presidente a não apenas adotar medidas de força contra guerrilhas e cartéis, pois também buscou canais de diálogo e semeou o que seria o esboço dos acordos de paz que viriam anos depois.

Um dos piores episódios de violência que teve de afrontar foi o atentado do M-19 contra o Palácio de Justiça, em novembro de 1985, em Bogotá, que deixou 98 mortos, entre eles vários juízes da Suprema Corte do país.

Seus inimigos, porém, não eram poucos, os cartéis de Medellín e Cali haviam transformado a Colômbia no maior exportador de cocaína aos EUA, posto que ainda ocupa. Também durante seu período ocorreram os assassinatos do então ministro de Justiça, Rodrigo Lara Bonilla, e outros membros do governo.

Betancur ameaçou os criminosos com a extradição e iniciou assim uma longa queda de braço com os chefões dos cartéis, chamados então de “extraditáveis”. O grupo era formado por Pablo Escobar, Carlos Lehder (Medellín) e os irmãos Orejuela (Cali).

Depois de sua Presidência, foi chamado por vários de seus sucessores para ser o símbolo das campanhas de paz.

Na véspera do plebiscito para aprovar o acordo de paz com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), em outubro de 2016, a Folha assistiu a uma palestra sua em Medellín, durante o Festival Gabo. 

Muitos dos que estavam na plateia questionavam o acordo, que acabou derrotado nas urnas e aprovado pelo Congresso. 

Betancur insistia pelo “sim”. “Vivi toda minha vida pública em meio à guerra, não se podem comprometer as novas gerações de colombianos por conta de diferenças pequenas em detalhes dos acordos”, afirmou.

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