No sul da China, Delta do Rio das Pérolas é laboratório para recriar 'Singapuras' pelo país

Projeto visa a integrar centros urbanos para acelerar crescimento econômico

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Jaime Spitzcovsky
Guangzhou, Zhaoqing, Zhuhai e Shenzhen

A região do Delta do Rio das Pérolas, no sul da China, caminha a passos largos para se transformar em laboratório do plano de criar diversas “Singapuras” no país.

O projeto significa integrar centros urbanos, para acelerar um crescimento econômico movido a inovações tecnológicas e faraônicas iniciativas em infraestrutura.

Com 68 milhões de habitantes, a “super-região” entrelaça 11 cidades, com metrópoles como Guangzhou, Hong Kong, Macau, Shenzhen, Zhuhai e Zhaoqing. Responde por 5% da população chinesa e 14% do PIB nacional, numa economia que, se fosse um país, corresponderia à quinta maior da Ásia.

Prédios comerciais e residenciais do distrito de Kowloon, em Hong Kong - Anthony Wallace-30.out.2018/AFP

O governo chinês trombeteia a pretensão de ver a área triplicar seu PIB, atualmente em US$ 1,4 trilhão, até 2030, para rivalizar com outras famosas baías, como as de Tóquio e San Francisco.

A história ajuda a compreender a estratégia do regime. Ao iniciar as reformas, Deng criou “zonas econômicas especiais”, a fim de facilitar, em alguns pontos do país, a chegada de investimentos.

Escolheu, por exemplo, Shenzhen e Zhuhai, pela proximidade, respectivamente, às então colônias de Hong Kong (britânica) e de Macau (portuguesa). As duas regiões foram devolvidas a Pequim no fim dos anos 1990.

O patriarca das reformas queria absorver know-how capitalista e capitais. Em 1979, Shenzhen vivia da pesca e contabilizava 20 mil habitantes. Hoje, ganhou o título de o Vale do Silício da China, com população de 13 milhões.

Abriga a sede de gigantes da tecnologia, como Tencent, da internet, Huawei, das telecomunicações, e DJI, de drones.

Portanto, desde a era Deng, Pequim confia na criação de polos de desenvolvimento, mas agora com perfis diferentes. Exemplo também é Guangzhou, que acumulou a fama de “fábrica do país”.

Em 2011, autoridades locais lançaram o mote “esvaziar a gaiola e trocar os pássaros”, com objetivo de estimular a transição da manufatura ao setor de serviços. O governo federal, capitaneando a estratégia, estimulou o crescimento da super-região do Delta do Rio das Pérolas, contribuindo, por exemplo, com gigantescos projetos de infraestrutura.

Em outubro, foi inaugurada a ligação Hong Kong-Macau-Zhuhai, com 55 quilômetros de extensão e descrita como a maior ponte do mundo sobre o mar. A construção começou em 2009 e consumiu US$ 20 bilhões, apesar do orçamento inicial de US$ 9 bilhões.

Sobrevivem ainda dúvidas sobre a própria relevância da obra e seu impacto ambiental. O governo chinês, no entanto, comemora a conquista da engenharia e o promove como símbolo da integração física entre cidades líderes da super-região.

Em centros urbanos do delta, áreas modernas, com prédios futurísticos, convivem com bairros da China tradicional, com trânsito caótico e bolsões de pobreza.

Proliferam, portanto, em meio aos contrastes chineses, os sinais das tentativas de repetir Singapura. E a história também evidencia o flerte. Em novembro de 1978, Deng desembarcou em solo singapuriano, para conversar com Lee Kuan Yew, timoneiro do pequeno país asiático.

E houve reciprocidade. Líder de seu país entre 1959 e 1990, Lee, que morreu em 2015, visitou a China 33 vezes. Uma aproximação em nome de sistemas autoritários e de expansão econômica.

O jornalista Jaime Spitzcovsky viajou a convite do China International Publishing Group-Revista China Hoje

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