Trump ameaça paralisar governo se democratas vetarem verba para muro na fronteira com México

Democratas liberaram US$ 1,3 bilhão dos US$ 5 bilhões pedidos pelo republicano

Nova York

Em um vislumbre do que deve ser a dinâmica da relação da administração de Donald Trump com a maioria democrata na Câmara dos Deputados que assume em janeiro, o presidente e líderes da oposição bateram boca nesta terça-feira (11) sobre o financiamento do muro que o republicano quer construir na fronteira com o México.

O presidente ameaçou paralisar o governo caso os democratas se recusem a aprovar o orçamento para o financiamento do muro —há a possibilidade de uma paralisação parcial acontecer já no fim da próxima semana, no dia 21 de dezembro.

A paralisação do governo ocorre quando o Congresso não consegue chegar a um acordo sobre o orçamento. Algumas agências federais precisam descontinuar funções não essenciais até a próxima legislação de financiamento ser aprovada e virar lei.

 

A construção de um muro na fronteira com o México foi uma das promessas de campanha do republicano. Trump quer US$ 5 bilhões para o muro em 2019, enquanto os democratas acenam com US$ 1,3 bilhão.

“Se nós não tivermos segurança na fronteira, nós vamos paralisar o governo. Esse país precisa de segurança na fronteira”, afirmou Trump no Salão Oval da Casa Branca.

As declarações foram rebatidas pelo senador Chuck Schumer, de Nova York, líder da minoria democrata no Senado, e por Nancy Pelosi, da Califórnia, líder da minoria democrata na Câmara --papel que continuará representando quando a oposição virar maioria na Casa, em janeiro.

Foi o primeiro encontro em mais de um ano entre o republicano e os dois líderes de oposição —chamados por Trump de dupla “Chuck e Nancy”— envolvendo uma negociação.

O resultado foram dedos apontados para o rosto do adversário, vozes elevadas e falas interrompidas repetidamente.

Pelosi pediu que as discussões sobre a negociação ficassem na esfera privada, ao que Trump respondeu: “Não é tão ruim, Nancy. Isso se chama transparência.”

A deputada democrata sugeriu que pode haver uma “paralisação do Trump” em torno do que ela caracterizou como um muro pouco efetivo e de desperdício.

“A população americana reconhece que nós devemos deixar o governo funcionando, que uma paralisação não vale nada, e que nós não deveríamos ter uma paralisação do Trump”, disse.

“Uma o que?”, rebateu o presidente.

Schumer, por sua vez, lembrou a Trump que “eleições têm consequências, sr. presidente.”

“Nós achamos que você não deveria paralisar [o governo]”, afirmou Schumer.

“Eu tenho orgulho de paralisar o governo pela segurança na fronteira, Chuck”, rebateu Trump. As discussões terminaram sem um acordo.

Após a reunião, a Casa Branca emitiu um comunicado no qual qualificou o diálogo de Trump com os líderes democratas de "construtivo".

"Grandes desacordos permanecem na questão da segurança da fronteira e transparência", afirma a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders. 

"O presidente Trump foi grato pela oportunidade de permitir a entrada da imprensa no encontro para que a população americana pudesse ver em primeira mão que enquanto os republicanos estão lutando para proteger nossa fronteira, os democratas estão lutando para proteger imigrantes ilegais."

Antes do encontro exaltado, o presidente parecia estar amenizado sua posição. Ele escreveu em uma rede social, que “as pessoas não perceberam quanto do muro, incluindo renovação realmente efetiva, já foi construído.”

“Se os democratas não nos derem os votos para garantir a segurança de nosso país, as forças militares vão construir as seções que faltam do muro. Eles sabem quão importante isso é!”

Pouco antes das eleições de meio mandato presidencial, soldados americanos foram enviados à fronteira com o México para evitar o que Trump chamou de “invasão” de uma caravana de migrantes da América Central.

O governo do republicano ainda precisa gastar boa parte dos US$ 1,3 bilhão aprovado pelo Congresso para segurança da fronteira no ano passado. Mas restrições impostas impedem que o dinheiro seja usado para erguer o muro de concreto que o presidente considera essencial.

Se não houver acordo até o fim da próxima semana, o Departamento de Segurança Doméstica e outras agências, como Justiça, Interior e Agricultura, podem ficar sem financiamento para 2019. Elas representam cerca de 25% do total dos gastos do governo federal.

Elas operam por uma lei de curto prazo aprovada pelo Congresso na semana passada para estender o prazo final para a paralisação. O resto do governo, incluindo o Pentágono, já está com o financiamento garantido pelo orçamento para o ano de 2019.

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