Um dos assassinos de Khashoggi diz 'eu sei como cortar' em gravação, afirma Erdogan

Presidente turco diz que Arábia Saudita deve ser responsabilizada pelo crime

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Istambul | Reuters

Um dos responsáveis pela morte do jornalista Jamal Khashoggi diz aos demais "eu sei como cortar", nas gravações de áudio que mostram os últimos momentos de vida do saudita. A revelação foi feita pelo presidente turco, Tayyip Erdogan, nesta sexta-feira (14).

Khashoggi foi morto no consulado saudita em Istambul, na Turquia, em 2 de outubro, em um crime que, segundo a CIA (agência de inteligência americana), foi ordenado pelo príncipe herdeiro, Mohammed Bin Salman, para calar o jornalista, crítico do regime.  

O jornalista foi torturado, sufocado e esquartejado, e seu corpo nunca foi encontrado.

"Os Estados Unidos, a Alemanha, a França, o Canadá, nós fizemos todos eles ouvirem [...] O homem diz claramente 'eu sei como cortar'. Este homem é um soldado. Isto está nas gravações de áudio", disse Erdogan, durante discurso em Istambul.

Presidente turco, Tayyip Erdogan, discursa em conferência em Istambul - Murat Kula/Reuters

O presidente turco criticou ainda a Arábia Saudita por não explicar o que ocorreu no consulado. "O príncipe disse que Jamal Khashoggi deixou o consulado. Jamal Khashoggi é uma criança? Sua noiva estava esperando do lado de fora", questionou.

"Eles acham que o mundo é burro. Esta nação não é burra e sabe como garantir que as pessoas sejam responsabilizadas."

Na semana passada autoridades turcas disseram que a Procuradoria de Istambul concluiu haver uma “forte suspeita” de que Saud al-Qahtani, assessor graduado do príncipe Bin Salman, e o general Ahmed al-Asiri, que atuou como vice-diretor do serviço de inteligência estrangeira, estão entre os mentores do assassinato de Khashoggi.

Turquia pede a extradição ao país de todos os suspeitos pelo crime, mas o ministro das Relações Exteriores de Riad, Adel al-Jubeir, descartou a ideia no domingo passado (9). 

A Arábia Saudita alega que o príncipe não teve conhecimento prévio do crime. Depois de oferecer várias explicações contraditórias, Riad afirmou que Khashoggi foi morto e que seu corpo foi esquartejado quando negociações para persuadi-lo a voltar à Arábia Saudita fracassaram.

A imprensa turca já revelara algumas informações da gravação de áudio feita durante o assassinato do jornalista. Nesta segunda-feira (10), a rede americana CNN disse ter tido acesso a uma fonte que viu a transcrição do áudio e que as últimas palavras de Khashoggi foram "eu não consigo respirar”.

Khashoggi começou a ter dificuldades para respirar quando as pessoas se lançaram sobre ele. Ele repetiu “não consigo respirar” ao menos três vezes.

Ainda segundo a CNN, o jornalista reconheceu um dos homens presentes, o general Maher Mutreb, que lhe disse: “Você vai voltar”. O jornalista teria respondido: “Vocês não podem fazer isso... há pessoas esperando lá fora”.

A noiva turca de Khashoggi, Hatice Cengiz, esperou durante horas do lado de fora do consulado no dia 2 de outubro. O jornalista fora à sede diplomática pedir documentos necessários para o casamento. Quando ele não voltou, Cengiz procurou as autoridades da Turquia para comunicar seu desaparecimento.

Depois, a transcrição usou palavras no singular para descrever os ruídos na sala, como “grito”, “ofegando”, “serra” e “cortando” —a serra de osso teria sido usada para esquartejar o corpo do jornalista.

Mutreb, autoridade de inteligência de alto escalão que é parte da equipe de segurança do príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, chamou autoridades e detalhou o passo a passo da operação, relatou a CNN, dizendo ao final: “Digam ao seus que a coisa está feita, está feita”.

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