Brasileiro estuda como mudar de bairro ajuda a sair da pobreza

Pesquisador Rodrigo Pinto, da Universidade da Califórnia, avaliou impacto de projeto de mobilidade social nos EUA

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Rodrigo Pinto, professor assistente de economia da Universidade da Califórnia (UCLA)
Rodrigo Pinto, professor assistente de economia da Universidade da Califórnia (UCLA) - Acervo pessoal
Nova York

Em 2010, Rodrigo Pinto, professor assistente de economia da Universidade da Califórnia (UCLA), publicou, em coautoria com o Nobel de Economia James Heckman, um estudo que argumentava que investir na primeira infância dava um retorno financeiro maior que o das Bolsas de Valores dos Estados Unidos.

Oito anos depois, o mineiro de Itajubá teve um artigo selecionado pelo site Quartz como uma das 12 pesquisas que moldaram o mundo em 2018.

Ele desenvolveu uma metodologia que permitiu um olhar diferente sobre o impacto de um projeto de mobilidade social nos EUA e extrair uma nova conclusão: migrar famílias de bairros de alta pobreza para vizinhanças mais abastadas tem impacto econômico positivo para elas.

Pinto, 41, analisou os dados do projeto Moving to Opportunity (Movendo para a Oportunidade), implementado de 1994 a 1998. No experimento social, 4.248 famílias que viviam em bairros de alta pobreza em cinco cidades americanas –Baltimore, Boston, Chicago, Los Angeles e Nova York– foram separadas aleatoriamente em três grupos.

Um deles recebeu um voucher para se mudar para bairros de média e baixa pobreza. Outro obteve incentivo para migrar apenas para bairros de baixa pobreza. O grupo de controle não recebeu nada.
As famílias eram entrevistadas de tempos em tempos para que os pesquisadores pudessem acompanhar o resultado. O MTO já foi alvo de várias análises, mas os resultados se limitavam a estudar o impacto econômico do voucher.

Esse efeito é mais simples de avaliar: bastaria comparar famílias que receberam o voucher com as que não receberam. "Mas não é o efeito do bairro, que é uma coisa mais complexa", diz. "Para fazer o efeito do bairro, tem que usar a teoria de randomização com a teoria de escolhas econômicas."

A randomização é a escolha aleatória das famílias que vão ser estudadas. A teoria da escolha pressupõe que uma pessoa tem uma preferência entre opções apresentadas.

No caso do MTO, por exemplo, apenas metade das famílias que receberam o voucher para ir para bairros de baixa pobreza realmente usou o dinheiro. Ou seja, a escolha é um fator que deveria ser incluído na pesquisa para que se pudesse identificar o resultado do efeito econômico do bairro.

"Quando estatísticos fazem uma randomização num campo de centeio para produzir um tipo de fertilizante, a planta não escolhe se vai produzir mais ou menos. No caso dos seres humanos, eles escolhem se vão se mudar para um bairro ou não. A escolha do ser humano não é arbitrária, é baseada em princípios econômicos", diz.

Segundo o economista, famílias que permaneciam em bairros de alta pobreza eram aquelas que muito provavelmente tinham um membro com invalidez, que tinham morado na vizinhança por um período longo e que tinham adolescentes.

Ou seja, a decisão era influenciada pelo fator mobilidade e laços com a comunidade.

A mudança também era influenciada pela busca por melhores escolas ou pelo medo da atuação de gangues.

Ao incluir o componente humano, ele chegou ao resultado que mostra que famílias que se mudam de um bairro de alta pobreza para um mais rico têm, em média, um aumento de 14% na renda, de 20% no emprego e de 38% na chance de sair da pobreza.

Segundo o economista, a partir da aplicação de sua metodologia é possível desenvolver políticas públicas de oferecer incentivos a famílias de extrema pobreza para se mudarem para bairros onde a pobreza é menor.

O economista faz parte da "quarta geração da família nascida em Itajubá", como brinca. Com um ano, se mudou para Brasília. Aos 17, entrou na faculdade de engenharia da Unicamp. "Sempre gostei de pesquisa, e a engenharia é interessante, porque gosto muito de matemática."

Em 2002, Pinto participou de um congresso sobre econometria em São Paulo no qual conheceu o trabalho de Heckman. Interessado pela atuação do economista, o mineiro tentou vaga em um curso de PhD em economia na Universidade de Chicago. Lá, completou o curso e ficou mais quatro como pesquisador sênior na equipe de Heckman.

"Heckman é um grande amigo na vida", diz. Para o Nobel de Economia, a metodologia de Pinto é um "padrão ouro" para avaliação da pesquisa econômica. "Usando teoria básica, Pinto mostra como melhorar a informação dos experimentos", afirmou ao Quartz.

"O trabalho dele reforça amplamente a evidência do poder do lugar e da habilidade de política para reduzir a desigualdade dentro e ao longo de gerações."

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