Descrição de chapéu Financial Times

Escala da derrota de May lança dúvidas sobre abordagem da UE ao 'brexit'

Uma minoria em Bruxelas se pergunta se o foco da UE não deveria ser evitar a saída do Reino Unido

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Pessoas contrárias ao 'brexit' protestam em Londres - Daniel Leal-Olivas/AFP
Alex Barker
Financial Times

O voto da Câmara dos Comuns contra o acordo de Theresa May para o “brexit” não é apenas um golpe histórico para a primeira-ministra britânica. É também um momento de avaliação da estratégia da União Europeia sobre a saída do Reino Unido.

Desde a votação dos britânicos no plebiscito de 2016, a UE tem agido como se não houvesse uma escolha fundamental entre organizar a saída ordenada de Londres e manter a unidade e integridade do projeto europeu. O ônus de ceder estava nas costas do Reino Unido.

A escala da derrota do acordo do divórcio —um tratado de 585 páginas exaustivamente negociado por 18 meses—  joga essa abordagem em dúvida, forçando ambos os lados a revisitar suas ideias do que é politicamente viável nos próximos meses.

Hosuk Lee-Makiyama, um ex-funcionário comercial da UE que agora dirige o Centro Europeu de Economia Política Internacional, disse que o acordo preliminar foi uma vitória de Pirro para o bloco. 

Negociadores da UE conseguiram condições favoráveis por parte dos britânicos, mas “correm o risco de perder porque elas não podem ser ratificadas”, disse ele.

Bruxelas vai insistir para que Londres tome a iniciativa após a votação. Mas altos funcionários da UE no centro da negociação veem o resultado como uma verificação da realidade em três frentes: a data marcada para a saída britânica, 29 de março; a durabilidade de um contrato previamente vendido como a “melhor e última” oferta; e a questão de como administrar o impacto de um não acordo na fronteira da Irlanda do Norte, o tópico mais contencioso.

Com tantas coisas no ar, uma minoria em Bruxelas está se perguntando se o foco da UE agora não deveria ser evitar completamente o “brexit”.

Espera-se que o bloco acelere os preparativos para um não acordo, mas Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, e muitos países-membros estão relutantes em convocar uma cúpula especial sobre o “brexit” antes que “a poeira assente” em Westminster, segundo um diplomata.

Em vez de se arriscar em uma cúpula com “nada para discutir”, o lado da UE quer que as negociações se desenvolvam de modo que qualquer demanda britânica por revisões seja clara e plausível. “O pior para todos será um Conselho Europeu que deságue em desacordo e mais caos”, disse um segundo diplomata da UE.

Divisões táticas significativas surgiram no lado europeu sobre como lidar com o desfecho do divórcio. A França, a Irlanda e Tusk adotaram uma abordagem dura aos pedidos de May para garantias adicionais, enquanto a Alemanha e Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, estavam mais flexíveis.

As diferenças se dão devido a motivos variados. Angela Merkel, a chanceler alemã, está cada vez mais preocupada com um não acordo ou um “brexit” duro, e com as consequências geopolíticas de uma separação amarga.

Emmannuel Macron, na França, está mais sintonizado com as ramificações do “brexit” em relação à política populista em casa e à integridade do projeto europeu, mas sugeriu, na sequência da votação desta terça-feira (15), que “um ou dois pontos” no acordo poderiam ser melhorados.

Juncker está ansioso para chegar a um consenso. Em contraste, Tusk deixou claro que, para ele, o resultado ideal é o “brexit” não acontecer.

Essa opinião é provavelmente compartilhada por um bom número de líderes da UE.

Mas altos funcionários do governo francês e da Comissão Europeia dizem temer que um segundo plebiscito arrisque a importação do mal-estar político do Reino Unido para uma UE vulnerável, causando danos permanentes.

“Eles [a União Europeia] acham que é melhor tê-los [o Reino Unido] fora e à distância”, afirmou uma figura sênior do bloco europeu.

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