Guerrilha ELN assume responsabilidade em atentado que matou 20 em Bogotá

Grupo reivindicou ataque a escola de policiais; governo já havia dito que autor era da organização

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Havana | AFP

A guerrilha Exército de Liberação Nacional (ELN) admitiu ter responsabilidade no ataque a uma academia de formação de policiais na Colômbia, que deixou 20 mortos na última quinta-feira (17), evocando uma operação "lícita" de guerra.

"A operação realizada contra tais instalações e tropas é lícita dentro do direito da guerra, não houve nenhuma vítima não combatente", afirmou a direção nacional da guerrilha em um comunicado divulgado na madrugada desta segunda-feira (21) em seu site.

Colombianos pedem paz em manifestação em Bogotá
Colombianos pedem paz em manifestação em Bogotá no sábado - Luisa Gonzalez/Reuters

A explosão de um carro-bomba matou, além de 20 estudantes da Escola de Cadetes da Polícia Nacional, em Bogotá, o motorista. 

Na sexta-feira (18), o governo colombiano já havia responsabilizado o ELN pelo ataque, mas o grupo ainda não tinha se manifestado.

José Aldemar Rojas, 56, foi apontado como o motorista da SUV que continha 80 kg de explosivos. O governo colombiano afirma ter evidências de que Rojas era membro do ELN há 25 anos, sob o pseudônimo Mocho Kiko por ter perdido a mão direita em uma detonação ("mocho" é canhoto, em espanhol).

Ainda de acordo com o ministro, ele atuava como chefe de inteligência da frente Domingo Laín, que opera no estado de Arauca, na fronteira com a Venezuela. 

Segundo o comunicado do ELN desta segunda, o ataque seria uma resposta de "legítima defesa" diante de atividades militares realizadas pelo governo de Iván Duque durante o cessar-fogo unilateral oferecido pela guerrilha no Natal e no fim do ano.

"O presidente não deu a dimensão necessária ao gesto de paz" e "sua resposta foi realizar ataques militares contra nós, em todo o território nacional", diz o ELN, citando um bombardeio a um de seus acampamentos no ida 25 de dezembro, que teria afetado uma família de camponeses que estava próxima ao local.

Manifestantes em Bogotá, Colômbia, protestam contra atentado que matou 20 em escola militar
Manifestantes em Bogotá, Colômbia, protestam contra atentado que matou 20 em escola militar - Jhon Paz/Xinhua

O texto diz que a Escola de Cadetes da Polícia Nacional é uma instalação militar e nela "recebem instrução e treinamento os oficiais que depois realizam inteligência de combate, conduzem operações militares, participam ativamente da guerra constrainsurgente e dão tratamento de guerra ao protesto social".

A guerrilha exortou o presidente a retomar os diálogos de paz em Havana, iniciados pelo governo anterior.

O alto comissário para a Paz, Miguel Ceballos, lembrou que o atual governo "jamais" reativou os diálogos com a guerrilha e disse que as políticas públicas de paz são políticas de governo, e não de Estado, e a administração atual não é obrigada a retomar o diálogo.

Duque reativou, na sexta-feira, as ordens de captura contra os negociadores do grupo rebelde e anunciou que vai redobrar a perseguição contra o que descreveu ser uma "máquina criminosa de sequestros e atentados".

Também exigiu que o governo cubano prenda e entregue à Colômbia "esses criminosos, para que se faça justiça".

Anfitriã das negociações de paz, Havana condenou o atentado e afirmou, na sexta-feira, que cumprirá com os compromissos fixados diante da suspensão das negociações.

Os protocolos compreendem a intervenção de um país amigo para o retorno da delegação da guerrilha, mas Ceballos afirmou que essas medidas "de nenhuma maneira foram assumidas nem reconhecidas" pelo governo atual.

O chanceler Bruno Rodríguez escreveu no Twitter nesta segunda que "Cuba jamais permitiu nem permitirá que seu território seja usado para a organização de atos terroristas contra nenhum estado".

No domingo, milhares de pessoas foram às ruas repudiar o atentado, vestidas de branco e levando bandeiras da Colômbia com cartazes como "assassinos covardes" e "a vida é sagrada".

Com cerca de 1.800 combatentes e uma extensa rede de apoio em algumas cidades, O ELN opera em uma dezena dos 32 departamentos colombianos. 

Surgida em 1964 sob a influência de Che Guevara, a organização reivindica uma política nacionalista e é, ao lado das dissidências das Farc e de quadrilhas de narcotraficantes, o principal desafio de segurança enfrentado pela Colômbia.

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