Jovem saudita que fugiu da família narra 'vida de escrava' em entrevista

Adolescente diz que já pensou em suicídio e que foi renegada pelos pais ao chegar ao Canadá

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Montreal | AFP

Rahaf Mohamed al-Qunun, a jovem que recebeu asilo no Canadá, contou que fugiu da Arábia Saudita por causa de sua "condição de escrava" e pela violência física infligida a ela por sua mãe e seu irmão.

O caso da moça de 18 anos, que passou vários dias entrincheirada em um quarto de hotel em Bancoc fazendo uma campanha nas redes sociais por seu pedido de refúgio, causou uma mobilização internacional. Ela finalmente obteve asilo no Canadá, onde, aparentemente, pretende começar uma vida nova.

 
Rahaf Mohammed al-Qunun, 18, conta sua história em um centro educacional de Toronto, no Canadá
Rahaf Mohammed al-Qunun, 18, em uma palestra no centro educacional de Toronto, no Canadá - Mark Blinch/Reuters

"Meu maior medo era que (meus pais) me encontrassem", declarou ela, em árabe, à emissora CBC, em sua primeira entrevista desde que chegou a Toronto, no sábado (12).

Ela também admitiu ter considerado o suicídio como uma alternativa para escapar da família.

"Fiquei trancada durante seis meses porque cortei o cabelo", explicou, acrescentando que sofria regularmente "violência física" por parte do irmão e da mãe.

"As mulheres sauditas são tratadas como escravas", enfatizou.

No Canadá, ela contou ter recebido uma carta da família, na qual foi informada, entre outras coisas, de que eles a renegam como filha.

Por esta razão, a adolescente pediu para ser chamada apenas de Rahaf Mohammed e, assim, eliminar o sobrenome de sua família, Al-Qunun.

"Muitas pessoas me odeiam, seja da minha família, ou na Arábia Saudita em geral", acrescentou a jovem com voz embargada.

Com a ajuda de uma ONG, ela diz que quer estudar inglês e encontrar um emprego no Canadá.

"Senti que não poderia realizar meus sonhos vivendo na Arábia Saudita", acrescentou, reiterando sua felicidade por ter recebido asilo.

"Eu tive a impressão de que renasci, especialmente quando senti todo esse amor e essa acolhida", explicou. "Diga aos canadenses que eu os amo", agradeceu.

A jovem foi detida na Tailândia na semana passada, ao chegar a Bancoc, procedente do Kuait, onde tinha conseguido escapar de sua família. Inicialmente, as autoridades tailandesas ameaçaram deportá-la de volta para casa, a pedido da Arábia Saudita.

Rahaf se entrincheirou em um quarto de hotel no aeroporto, tuitando várias mensagens e vídeos desesperados. Logo, chamou a atenção do mundo.

Depois de uma intensa mobilização a seu favor nas redes sociais, as autoridades tailandesas renunciaram à ideia de deportá-la e lhe permitiram sair do aeroporto com representantes do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

A Arábia Saudita é um dos países mais restritivos do mundo em termos de direitos das mulheres, que estão sujeitas à tutela de um homem (pai, marido, ou outro parente). Essa figura masculina exerce autoridade arbitrária sobre elas e toma decisões importantes em suas vidas.

O caso da jovem ocorreu em um período em que muitos olhares se voltam para a questão do respeito aos direitos humanos no país árabe, meses depois do assassinato do jornalista saudita dissidente Jamal Khashoggi, na Turquia.

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