Descrição de chapéu Fórum Econômico Mundial

Leia a íntegra do discurso de Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial em Davos

Presidente falou nesta terça-feira (22) na plenária do evento na Suíça

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O presidente Jair Bolsonaro fala na sessão plenária do Fórum Econômico Mundial, em Davos
O presidente Jair Bolsonaro fala na sessão plenária do Fórum Econômico Mundial, em Davos - Arnd Wiegmann/Reuters
Davos

O presidente Jair Bolsonaro fez nesta terça-feira (22) discurso na abertura da sessão plenária do Fórum Econômico Mundial, evento que acontece em Davos, na Suíça.

Leia a íntegra do discurso, com comentários. 

 

Confesso que estou emocionado e me sinto muito honrado em me dirigir a uma plateia tão seleta. 

Hoje em dia, um precisa do outro. O Brasil precisa de vocês e vocês, como toda a certeza, em parte precisam do nosso querido Brasil.

Boa tarde a todos!

Muito obrigado, professor Schwab [1]!

  • 1. Klaus Schwab é o criador e presidente do Fórum Econômico Global.

Agradeço, antes de mais nada, o convite para participar deste fórum e a oportunidade de falar a um público tão distinto [2]. Agradeço também a honra de me dirigir aos senhores já na abertura desta sessão plenária [3].

  • 2. O Fórum é conhecido por reunir o chamado PIB Global: executivos, políticos, acadêmicos de universidades de ponta, ativistas reconhecidos.
  • 3. A abertura foi feita 4:30 mais cedo por Schwab. Bolsonaro foi, no entanto, o primeiro dos cinco chefes de Estado e governo que discursam neste ano a subir no palco.

Esta é a primeira viagem internacional que realizo após minha eleição, prova da importância que atribuo às pautas que este fórum tem promovido e priorizado.

Esta viagem também é para mim uma grande oportunidade de mostrar para o mundo o momento único em que vivemos em meu país e para apresentar a todos o novo Brasil que estamos construindo [4].

  • 4. Desde o início ele pretendia que esta fosse a tônica de seu discurso.

Nas eleições, gastando menos de 1 milhão de dólares [5] e com 8 segundos de tempo de televisão, sendo injustamente atacado a todo tempo [6], conseguimos a vitória.

  • 5. Em gastos declarados ao TSE.
  • 6. Não está claro se é uma alusão ao atentado à faca que quase o matou ou se é seu rechaço a qualquer crítica, mesmo que objetiva.
     

Assumi o Brasil em uma profunda crise ética, moral e econômica.

Temos o compromisso de mudar nossa história.

Pela primeira vez no Brasil um presidente montou uma equipe de ministros qualificados [7]. Honrando o compromisso de campanha, não aceitando ingerências político-partidárias [8] que, no passado, 
apenas geraram ineficiência do Estado e corrupção.

  • 7. Ministros de governos anteriores tiveram atuação elogiada, e não foram nomeados por filiação partidária.
  • 8. Bolsonaro foi pressionado pelo seu próprio partido e pelo MDB na montagem da equipe. Muitos ministros foram escolhidos por afinidade ideológica com o presidente e seus filhos.

Gozamos de credibilidade para fazer as reformas de que precisamos e que o mundo espera de todos nós.

Aqui entre nós, meu ministro da Justiça, Sérgio Moro, o homem certo para o combate à corrupção e para o combate à lavagem de dinheiro [9].

  • 9. Moro ganhou espaço no noticiário internacional por sua atuação na Lava Jato, mas o escopo de seu ministério vai bem além da corrupção.

Vamos investir pesado na segurança para que vocês nos visitem com suas famílias, pois somos um dos países primeiros em belezas naturais, mas não estamos entre os 40 destinos turísticos mais visitados do mundo [10]. Conheçam a nossa Amazônia, nossas praias, nossas cidades e nosso Pantanal. O Brasil é um paraíso, mas ainda muito pouco conhecido.

  • 10. O país é o 45º mais visitado no mundo segundo lista de 2015 da Organização Mundial do Turismo (a mais recente a citar o Brasil).

Somos o país que mais preserva o meio ambiente [11]. Nenhum outro país do mundo tem tantas florestas como nós [12]. 

  • 11. O Brasil tem 67% do seu território coberto por florestas e campos naturais, mas há países com maior cobertura relativa e absoluta e outros 30 com cobertura acima de 60%; além disso, é um dos países que mais desmata hoje. Mas polui relativamente pouco em comparação a outros.
  • 12. A Rússia tem um Brasil em floresta. O Brasil tem 29% de áreas terrestres protegidas, enquanto a média mundial sem o Brasil é de 10,5%, segundo dados de 2016 citados pela Embrapa; o país não é, porém, o que tem o maior percentual de áreas protegidas, ficando em 52º lugar.

A agricultura se faz presente em apenas 9% do nosso território e cresce graças a sua tecnologia e à competência do produtor rural. Menos de 20% do nosso solo é dedicado à pecuária [13]. Essas commodities, em grande parte, garantem superávit em nossa balança comercial e alimentam boa parte do mundo.

  • 13. Segundo dados da Embrapa e do Ministério da Agricultura, lavouras e florestas plantadas ocupavam 9% do território nacional em 2018; pastagens plantadas, 13%; e pastagens nativas, 8%.

Nossa missão agora é avançar na compatibilização entre a preservação do meio ambiente e da biodiversidade com o necessário desenvolvimento econômico [14], lembrando que são interdependentes e indissociáveis.

  • 14. O presidente reitera o que afirmava na campanha, que ambos são importantes, mas pela primeira vez equipara ambiente a desenvolvimento e agronegócio. Ele não deixa claro, porém, como equilibrá-los.

Os setores que nos criticam têm, na verdade, muito o que aprender conosco [15].

  • 15. Não se sabe a quem o presidente se refere, sobretudo com “aprender”. Mas membros de seu governo tratam críticas a esse aspecto como desrespeito à soberania.
     

Queremos governar pelo exemplo e queremos que o mundo restabeleça a confiança [16] que sempre teve em nós.

  • 16. Bolsonaro tenta reavivar o ‘soft power’ do Brasil, o poder de influência e persuasão de um país.

Vamos diminuir a carga tributária, simplificar as normas, facilitando a vida de quem deseja produzir e empreender, investir e gerar empregos.

Trabalharemos pela estabilidade macroeconômica, respeitando os contratos, privatizando e equilibrando as contas públicas [17].

  • 17. Executivos e analistas gostaram das linhas gerais estabelecidas pelo presidente, mas se frustraram com a ausência de detalhes sobre as reformas. Schwab tentou voltar depois ao assunto, mas Bolsonaro apenas repetiu as linhas gerais do discurso.

O Brasil ainda é uma economia relativamente fechada ao comércio internacional [18], e mudar essa condição é um dos maiores compromissos deste governo.

  • 18. O Brasil é um dos países mais protecionistas nas filas da Organização Mundial do Comércio.

Tenham certeza de que, até o final do meu mandato, nossa equipe econômica, liderada pelo ministro Paulo Guedes [19], nos colocará no ranking dos 50 melhores países para se fazer negócios.

  • 19. Bolsonaro evoca seu “Posto Ipiranga”, figura tão esperada em Davos quanto ele próprio.

Nossas relações internacionais serão dinamizadas pelo ministro Ernesto Araújo, implementando uma política na qual o viés ideológico deixará de existir [20].

  • 20. Araújo já declarou alinhamento aos EUA e a Israel por afinidade ideológica —trocou-se apenas a ideologia do governo de turno.

Para isso, buscaremos integrar o Brasil ao mundo, por meio da incorporação das melhores práticas internacionais, como aquelas que são adotadas e promovidas pela OCDE [21].

  • 21. O Brasil pleiteia um lugar na organização que reúne países desenvolvidos.

Buscaremos integrar o Brasil ao mundo também por meio de uma defesa ativa da reforma da OMC, com a finalidade de eliminar práticas desleais de comércio [22] e garantir segurança jurídica das trocas comerciais internacionais.

  • 22. Esta é uma demanda encampada sobretudo pelos EUA, mas a própria Organização Mundial do Comércio concorda que precisa de adequações para não ficar obsoleta.

Vamos resgatar nossos valores e abrir nossa economia [23].

  • 23. Não está claro como as coisas se relacionam.

Vamos defender a família [24] e os verdadeiros direitos humanos [25]; proteger o direito à vida [26] e à propriedade privada e promover uma educação que prepare nossa juventude para os desafios da quarta revolução industrial, buscando, pelo conhecimento, reduzir a pobreza e a miséria [27].

  • 24. Declaração em desajuste em um fórum que defende a diversidade, inclusive a de orientação sexual.
  • 25. Organizações que monitoram o tema criticaram a expressão, afirmando que não há direitos humanos. “falsos”, já que eles significam tão somente garantia de acesso a saúde, educação, liberdade e dignidade econômica.
  • 26. Inferência ao aborto, também estranha a um fórum que defende o protagonismo feminino.
  • 27. Este tem sido o norte do Fórum.

Estamos aqui porque queremos, além de aprofundar nossos laços de amizade, aprofundar nossas relações comerciais [28].

  • 28. Bolsonaro evitou fazer menções a países específicos, o que é bem visto por analistas e observadores do Fórum.

Temos a maior biodiversidade do mundo e nossas riquezas minerais são abundantes. Queremos parceiros com tecnologia para que esse casamento se traduza em progresso e desenvolvimento para todos.

Nossas ações, tenham certeza, os atrairão para grandes negócios, não só para o bem do Brasil, mas também para o bem de todo o mundo.

Estamos de braços abertos. Quero mais que um Brasil grande, quero um mundo de paz, liberdade e democracia [29].

  • 29. Aqui Bolsonaro se contrapõe à ideia de que seja ultranacionalista e faz um aceno à comunidade global e à cooperação internacional. O discurso foi calibrado desde o início para atestar as credenciais democráticas do presidente, abaladas por declarações que repercutiram negativamente na imprensa internacional.

Tendo como lema “Deus acima de tudo” [30], acredito que nossas relações trarão infindáveis progressos para todos.

  • 30. O presidente usa aqui metade de seu slogan de campanha, mas a menção é estranha a um fórum econômico.

Meu muitíssimo obrigado.

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