Em pouco mais de uma semana, o nome de Juan Guaidó (pronuncia-se Guaidô) deixou de ser o de apenas mais um deputado da Assembleia Nacional, esvaziada de poder real pelo ditador Nicolás Maduro, para virar o centro do noticiário venezuelano.
Eleito presidente desse órgão no último dia 5, Guaidó, 35, não apenas assumiu com a plataforma clara de opor-se ao regime como, um dia após a posse de Maduro por mais um período (2019-2025), no dia 10, declarou o posto de presidente vago, por considerar, junto à oposição venezuelana e grande parte da comunidade internacional, as últimas eleições, realizadas em maio, fraudulentas.
Guaidó deu, então, declarações dizendo que ele deveria ser proclamado presidente, e que se responsabilizaria por convocar em um período de 30 dias eleições gerais, recebendo apoio de países do Grupo de Lima, da OEA (Organização dos Estados Americanos) e dos Estados Unidos, entre outros.
Não apenas despertou fúria no regime, como foi interceptado e detido por cerca de uma hora no domingo (13), pelo serviço de inteligência do governo, causando ainda mais furor dentro e fora da Venezuela.
Solto em pouco menos de uma hora, Guaidó convocou o povo às ruas e chamou as Forças Armadas para apoiá-lo.
Relatos de venezuelanos contam que Caracas amanheceu nesta segunda-feira (14) com pouco movimento e muito policiamento e ruas cortadas por patrulhas.
Mas quem é esse jovem político que chacoalhou o clima de resignação popular e assustou o governo, que logo tentou descolar-se da detenção, dizendo que tinha sido um ato isolado e sem relação com a cúpula do chavismo?
Guaidó nasceu em La Guaíra, no estado de Vargas, próximo a Caracas, para onde se dirigia quando foi interceptado pelos agentes do Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional).
Ainda jovem começou a militar em um grupo local vinculado à Internacional Socialista.
Passou a se destacar depois da chamada "tragédia de Vargas", em 1999, quando chuvas e inundações deixaram milhares de mortos e desaparecidos na região. Guaidó integrou uma campanha para ajudar os sobreviventes do desastre e para reivindicar ajuda das autoridades nacionais.
Estudou engenharia e administração na Universidade Católica Andrés Bello e passou a militar junto aos que formariam, em 2009, o partido Vontade Popular —o mesmo do preso político Leopoldo López.
Chegou ao Parlamento primeiro como deputado suplente, entre 2010 e 2015, ano em que participou de uma greve de fome, com outros congressistas, para exigir que Maduro escolhesse a data para as eleições legislativas, que ocorreriam naquele ano e seriam vencidas pela oposição.
Foi eleito com mais de 97 mil votos e, desde então, tem tido como bandeira a luta contra a corrupção, exigindo que sejam investigados funcionários da atual gestão por distintos escândalos, entre eles o da empreiteira brasileira Odebrecht, que pagou subornos e caixa 2 no país.
Também fez várias intervenções nas sessões da Assembleia Nacional sobre a situação dos refugiados venezuelanos e sobre a crise humanitária no país. Pediu, ainda, a libertação dos presos políticos do regime.
Mesmo sendo de esquerda, sempre foi um opositor do chavismo e de Maduro, tendo participado dos protestos pelo fim da concessão da RCTV em 2007 e se aliado desde muito cedo aos jovens opositores do país, como Juan Requesens (atualmente preso), Stalin González, Miguel Pizarro e Freddy Guevara (refugiado na embaixada do Chile em Caracas).
Os que o rodeiam dizem que Guaidó tem o modo de raciocinar de um engenheiro, estruturado e racional. Por outro lado, seus discursos são apaixonados e inflamados.
Ele tem uma filha de um ano e é fã de beisebol, um dos esportes mais populares entre os venezuelanos.
Nas redes sociais, o deputado se descreve como "um servidor público apaixonado pela Venezuela".
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