Descrição de chapéu Livros

Livro narra teatro de guerra e intriga que tornou a América independente

Diplomata Marcelo Raffaelli analisa o efeito colateral napoleônico sobre as colônias ibéricas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Napoleão Bonaparte em detalhe do quadro "18.Brumário" - Reprodução
São Paulo

Guerras Europeias, Revoluções Americanas

  • Preço R$ 79,90 (384 págs.)
  • Autor Marcelo Raffaelli
  • Editora Três Estrelas

O teatro da política europeia assistiu, apenas no primeiro quarto do século 19, à ascensão e queda de um imperador ambicioso e gênio militar —Napoleão—, à consolidação do poderio austríaco no continente e dos britânicos nos mares e, no mais insólito dos episódios, à fuga de toda uma corte para sua colônia do outro lado do Atlântico.

Ao invadir Portugal, em 1807, as tropas napoleônicas colocaram o então príncipe-regente d. João 6º rumo ao Brasil, que 15 anos depois se tornaria independente. O mesmo Napoleão, ao impor seu irmão, José Bonaparte, como rei na Espanha ocupada, precipitou as independências das colônias espanholas.

Atenta a tudo, havia uma Grã-Bretanha interessada nos mercados da América Espanhola e Portuguesa, até então acessíveis só às metrópoles.

A interdependência desses movimentos é narrada em “Guerras Europeias, Revoluções Americanas”, de Marcelo Raffaelli, da Três Estrelas, selo editorial do Grupo Folha. Centenas de cartas, diários e memórias dos atores do período foram revisitados pelo diplomata carioca, que trabalhou por mais de quatro anos no livro.

Para situar os nomes relevantes à narrativa, uma lista das Dramatis personae, tal qual uma peça de teatro, enumera os 54 personagens que vão e voltam, entre batalhas militares e negociatas nos palácios.

Para o autor, chama a atenção “a sinceridade” das comunicações entre diplomatas e líderes, especialmente os rivais. Ele cita como exemplo as correspondências entre Napoleão e o ministro do Exterior da Áustria e depois premiê, Klemens von Metternich.

“Duvido que a conversa do Trump com o Xi seja tão aberta assim”, afirma Raffaelli, referindo-se ao presidente americano e ao líder chinês, envolvidos desde o ano passado em uma guerra comercial.

Entremeadas pelas grandes tramas geopolíticas estão as mais mundanas, como casos extraconjugais. Tal qual a quadrilha de Drummond, Junot (general francês que comandou a invasão de Portugal) tinha um caso com Carolina Bonaparte (irmã de Napoleão), que foi amante de Metternich, que por sua vez também foi amante da mulher de Junot.

Raffaelli admite a dificuldade da pesquisa histórica. “Existe sempre a possibilidade de a pessoa não estar dizendo exatamente o que pensava. As memórias tendem a ser favoráveis a quem as escreve.”

Para se municiar do maior número possível de fontes, ele conta ter tido “a grande vantagem” de morar em Washington, perto da Biblioteca do Congresso americano.

Aos 89 anos, 38 dos quais no serviço diplomático, também é autor do livro “A Monarquia e a República: Aspectos das Relações Entre Brasil e Estados Unidos Durante o Império” (Fundação Alexandre de Gusmão, 2006).

Ao se debruçar sobre os interesses em jogo entre Europa e América em meio à independência das colônias ibéricas, Raffaelli destaca algo que, segundo ele, “todo governo procura negar”, mas que sua experiência lhe ensinou: “Política exterior é essencialmente egoísta. Não existe política externa altruísta”.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.