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Maduro toma posse para novo mandato na Venezuela sob contestação

Oposição e governos estrangeiros não reconhecem eleição de maio; mandato é de mais seis anos

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Buenos Aires

O ditador venezuelano, Nicolás Maduro, começa nesta quinta (10) um novo mandato à frente do país, desta vez até 2025, sob forte suspeita de ter fraudado o resultado das eleições de maio.

O pleito ocorreu sem observadores internacionais, com vários líderes opositores impedidos de participar e a desaprovação dos países vizinhos reunidos no Grupo de Lima (exceto o México), dos EUA e da União Europeia.

Aos 56, Maduro lidera um país cuja inflação supera 1.000.000% ao ano e do qual já fugiram mais de 3 milhões de habitantes (grande parte, para Colômbia e Brasil) ante à falta de comida e remédios.

Após um período de protestos quase diários no primeiro semestre de 2017 e de muita repressão (o saldo de mortos em confronto com as forças de segurança está em torno de 130 pessoas, segundo a ONG Foro Penal), Maduro conseguiu fragmentar a oposição.

Os principais líderes têm rusgas entre si, e a maioria foi inabilitada a disputar cargos públicos —incluem-se aí Henrique Capriles, Freddy Guevara, Leopoldo López, Antonio Ledezma, Julio Borges e outros. 

A oposição também perdeu aprovação popular porque, depois de receber apoio da maioria dos que votaram em um referendo informal pedindo eleições diretas em 2017, aceitou negociar com Maduro sob mediação do Vaticano e do ex-presidente espanhol José Luiz Zapatero.

As conversas, na República Dominicana, foram uma vitória para o ditador, que conseguiu que todos aceitassem que ele terminasse o atual mandato e depois descumpriu o que prometera, como respeitar o calendário eleitoral e as regras de uma eleição legítima.

Hoje, decepcionada ainda traumatizada pela forte repressão de 2017, a população vive um momento de resignação. Apesar da falta de alimentos, remédios e dinheiro vivo, as manifestações têm sido poucas e pontuais. 

A reportagem da Folha visitou Caracas em dezembro e encontrou ruas mais vazias, quarteirões sem luz e grande parte do comércio fechado mesmo em período natalino. A maioria das pessoas ouvidas mais reclamava de questões de sobrevivência do que se entusiasmava com a possibilidade de mudança política, sensação palpável em 2017.

 

Maduro diz que o país está nesta situação porque EUA e Colômbia promovem uma guerra econômica contra seu governo. As afirmações do americano Donald Trump contemplando uma intervenção militar na Venezuela ajudaram o regime a reforçar o discurso nacionalista.

A posse desta quinta será em dois atos, um no Palácio de Miraflores, sede do governo, outro diante da Assembleia Nacional Constituinte, espécie de parlamento alternativo que, na prática, substituiu o Parlamento eleito em 2015, de maioria opositora. 

A constituinte foi eleita também sob suspeita de fraude, em julho de 2017, numa jornada de violência que deixou quase 20 pessoas mortas.

Três chefes de Estado apenas devem assistir à posse: o boliviano Evo Morales, o dirigente cubano, Miguel Díaz-Canel, e o ditador nicaraguense, Daniel Ortega. A Turquia, com a qual Maduro tem alinhavado tratados de colaboração, deve mandar uma delegação.

Estão previstas manifestações pró-Maduro e protestos de opositores em Caracas, e a OEA (Organização dos Estados Americanos) fará uma reunião entre os representantes de seus países membros para coordenar uma resposta.

No fim de semana, a Assembleia Nacional elegeu um novo presidente, o oposicionista Juan Guaidó, do Voluntad Popular (partido de Leopoldo López), que prometeu que o Parlamento continuará a funcionar e a fazer oposição.

Em sua posse, Guaidó, 35, afirmou que pretende procurar Maduro para negociar uma saída pacífica dele do governo e a convocação de eleições.

 

Pesquisa recente do instituto Datanálisis, respeitado internacionalmente, mostrou que só 35% dos venezuelanos aprovam uma intervenção militar externa para resolver a crise e derrubar o governo.

Já uma saída negociada do ditador do poder é apoiada por 63% da população, contra 26% que preferem que ele cumpra o novo mandato (11% dizem não saber responder).

Motorista de ônibus e sindicalista antes de entrar na política, Maduro ascendeu com cargos de destaque no período de Hugo Chávez (1999-2013). 

Foi chanceler, de 2006 a 2013, e vice-presidente, de 2012 a 2013. É casado com a advogada Cilia Florez, que chegou a presidir a Assembleia Nacional. Hoje sem cargo formal, ela exerce grande influência sobre o Judiciário.

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