Duas mulheres desafiaram, nesta quarta (2), uma proibição centenária de entrar em um templo hindu no estado indiano de Kerala —provocando protestos e ameaças de greves de grupos conservadores.
A polícia atirou gás lacrimogêneo e usou canhões de água para dispersar uma multidão de manifestantes que se formou nos arredores do templo.
Outras cidades no mesmo estado também tiveram protestos.
A Suprema Corte indiana ordenou em setembro que fosse retirada a proibição à entrada de mulheres e meninas que já passaram pela primeira menstruação no templo.
Mas o local, que recebe milhares de visitantes ao ano, se recusou a obedecer e impediu, diversas vezes, a tentativa de mulheres de entrarem.
Bindu Ammini, 42, e Kanaka Durga, 44, tentaram entrar no templo em dezembro e, semanas depois, pediram ajuda da polícia.
“Foi feito um plano para que elas chegassem durante a madrugada, logo depois da abertura do templo”, disse um policial que não quis se identificar. “A escuridão deu a elas, e a nós, cobertura”, completou.
A polícia também fez a segurança da casa das mulheres enquanto se preparava para receber outras visitantes.
Canais locais noticiaram que o sacerdote responsável fechou brevemente o santuário para rituais de purificação depois da chegada das visitantes femininas.
Hindus conservadores acreditam que mulheres podem tornar o templo impuro e, por isso, a proibição foi imposta a mulheres entre dez e 50 anos.
O governo do estado de Kerala fez a proteção das mulheres dispostas a entrar no templo, afirmando que era uma questão de direitos civis.
“Deixei claro que o governo iria oferecer proteção a qualquer mulher que desejasse entrar”, disse Pinarayi Vijayan, ministro-chefe do estado.
Nesta terça (1º) o governo deu apoio a um protesto de milhares de mulheres, que formaram uma corrente humana em favor à equidade de gêneros e ao acesso ao templo.
O estado de Kerala, que fica ao sul e é um dos mais turísticos da Índia, é governado por um partido de esquerda e tem procurado permitir a entrada de mulheres no templo —o que atraiu críticas de outros partidos, incluindo o nacionalista Bharatiya Janata (BJP), do primeiro-ministro Narendra Modi.
Os acontecimentos colocaram a questão religiosa, polêmica na Índia, na agenda política do país meses antes da eleição geral, marcada para maio.
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