Papa critica nacionalismo e defende pacto de migração da ONU

Francisco diz que situação atual lembra a do entreguerras e pede que países não atuem sozinhos

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O papa Francisco durante seu discurso nesta segunda (7) aos diplomatas que servem no Vaticano
O papa Francisco durante seu discurso nesta segunda (7) aos diplomatas que servem no Vaticano - Ettore Ferrari/AFP
Vaticano | AFP e Reuters

Em um discurso no Vaticano nesta segunda-feira (7), o papa Francisco criticou o fortalecimento do nacionalismo e do populismo e afirmou que os países não devem tentar solucionar a questão migratória com ações unilaterais ou isolacionistas.

O pontífice também defendeu o Pacto Global de Migração da ONU, alvo de políticos identificados com o nacionalismo, como o presidente americano Donald Trump, o premiê húngaro Viktor Orbán, o vice-primeiro-ministro da Itália, Matteo Salvini, e o presidente brasileiro Jair Bolsonaro —seu chanceler, Ernesto Araújo, disse que a gestão pretende tirar o país do acordo.   

Sem citar os líderes, o papa disse que esse tipo de discurso e a situação política atual lembra a de cem anos atrás, no período entre a Primeira e a Segunda Guerra.   

"O ressurgimento das tendências nacionalistas (...) mina a vocação das organizações internacionais de serem um espaço de diálogo e encontro para todos os países", afirmou Francisco, em seu discurso anual aos diplomatas credenciados no Vaticano. 

"As tendências populistas e nacionalistas prevaleceram sobre a ação da sociedade de nações. O reaparecimento desses impulsos hoje está progressivamente enfraquecendo o sistema multilateral, fruto de uma falta geral de confiança, uma crise de credibilidade da política internacional e uma crescente marginalização dos membros mais vulneráveis da família das nações", disse ele.  

Para o papa, esse fortalecimento do nacionalismo é, em parte, uma resposta à dificuldade do sistema internacional em resolver de forma satisfatória alguns problemas, como a questão dos imigrantes. Mas pediu que os países lutem contra o isolacionismo.    

"Tenho consciência de que as ondas migratórias destes anos causaram desconfiança e preocupação entre a população de muitos países, especialmente em Europa e América do Norte, e isto levou vários governos a limitar em grande medida o fluxo dos que entram", afirmou.

"As recentes emergências mostraram que é necessário haver uma resposta comum, coordenada por todos os países, sem prevenções e respeitando todas as instâncias legítimas, tanto dos Estados como dos migrantes e refugiados".

Segundo o jornal venezuelano El Universal, Francisco também citou a crise no país sul-americano e pediu que todos os lados busquem as "vias institucionais e pacíficas" para resolver a questão.

O discurso incluiu referência ainda há outras questões contemporâneas, incluindo o escândalo de acobertamento de casos de abusos sexuais cometidos por padres, que atinge a igreja em todo o mundo e que ele classificou como "uma das pragas de nosso tempo".

Francisco citou ainda a situação na península coreana e comentou sobre a viagem que fará em breve a dois países de maioria muçulmana, Marrocos e Emirados Árabes Unidos.

"Serão duas ocasiões importantes para acrescentar ainda mais o diálogo inter-religioso e o entendimento mútuo entre os fiéis de ambas as religiões", afirmou, assinalando que as visitas ocorrem no âmbito do 800 anos do encontro (em 1219) entre São Francisco de Assis e o sultão Al-Malik al-Kamil do Egito, no tempo das Cruzadas.

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