Descrição de chapéu The Washington Post Venezuela

Petróleo oferece poucas opções para Venezuela retaliar EUA

Óleo venezuelano é essencial para a produção de diesel nos Estados Unidos

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Posto de gasolina Citgo, de propriedade da Venezuela, em Nova Jersey - Eduardo Munoz - 24.set.2014/Reuters
Adam Taylor Thomas Heath
The Washington Post

Uma dramática escalada das tensões entre os EUA e a Venezuela causou temores de que as coisas possam piorar rapidamente. Mas se o governo liderado por Nicolás Maduro quiser revidar os EUA por meio de pressão diplomática ou da produção de petróleo, poderá ser uma má estratégia.

Em um primeiro sinal de que Caracas pode latir mais que morder, os mercados de petróleo na semana passsada em geral não se importaram com a sugestão de que a Venezuela poderá usar sua produção de petróleo cru nos EUA como arma para prejudicar as refinarias americanas —um duro contraste com crises anteriores que abalaram as empresas de energia dos EUA e um reflexo da difícil situação da indústria petrolífera venezuelana. 

A pressão diplomática parece que também será ineficaz. Na quarta (23), Maduro deu aos EUA 72 horas para retirar seus diplomatas da Venezuela —oferta rejeitada pelo secretário de Estado, Mike Pompeo, que respondeu que “os EUA não reconhecem o regime Maduro como governo da Venezuela”. 

Os EUA têm uma embaixada em Caracas, mas ela está sem embaixador em tempo integral desde 2010. A embaixada disse que continuará aberta para os cidadãos americanos que precisem de “serviços de emergência”; havia poucos sinais de algo incomum no local na quinta, segundo um repórter que esteve no bairro.

Os EUA têm planos de contingência para a segurança dos diplomatas, especialmente os que ocupam postos de alto risco como em Caracas.  

Moises Rendon, membro do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais, disse que Maduro e seus aliados já fizeram ameaças semelhantes, que acabaram sendo apenas retórica. “Eles entendem plenamente as implicações de prejudicar ou pôr em perigo qualquer membro da comunidade diplomática”, disse.

A pressão econômica encerra riscos diferentes, embora não menos importantes, para Maduro. A Venezuela tem os maiores depósitos mundiais de petróleo cru, com 302 bilhões de barris de reservas comprovadas. 

Grande parte das reservas venezuelanas está na forma de “óleo pesado”, de consistência espessa e difícil de refinar. Algumas refinarias nos EUA, como a Valero, a Citgo e outras, estão equipadas para refinar o cru venezuelano em gasolina e outros líquidos.

No entanto, a indústria de petróleo da Venezuela foi dizimada sob os governos de Hugo Chávez e de seu sucessor, Maduro. A produção de petróleo cru diária média caiu de mais de 3 milhões de barris em 1997, antes de Chávez tomar o poder, para menos de 2 milhões hoje.

Os EUA até agora evitaram impor sanções ao petróleo venezuelano, em parte devido a uma relação simbólica entre as indústrias dos dois países.

“O petróleo venezuelano é essencial para a produção de diesel nos EUA”, disse John Kilduff, da Again Capital. “Diante da sensibilidade de Trump ao aumento de preços, ele evitará impor sanções à Venezuela.

Nós daríamos um tiro no pé, e eles estão desesperados por dinheiro para nos isolarem.”

As refinarias americanas na Costa do Golfo ainda têm um suprimento da Venezuela para manter suas operações com eficiência. No início deste ano, cerca de 500 mil barris por dia de cru venezuelano eram importados pelos EUA. Mas essa relação dá pouca vantagem à Venezuela, pois o país precisa desesperadamente do dinheiro que ela fornece.

“Setenta e cinco por cento das exportações de petróleo que geram receita vêm para cá”, disse Modell. Embora a Venezuela exporte uma quantidade considerável de cru para aliados como a Rússia e a China, quase todo ele é usado para saldar dívidas. 

Shannon O’Neill, especialista em América Latina no Conselho para Relações Exteriores, disse que outras tentativas de usar a economia para revidar contra os EUA também seriam prejudiciais à Venezuela. Por exemplo, recusar-se a comprar solventes ou outras substâncias químicas dos Estados Unidos “atingiria a Venezuela muito mais que os EUA”, disse O’Neill.

A vantagem financeira de Maduro será agudamente complicada pelo fato de que o governo americano designou Juan Guaidó, chefe da Assembleia Nacional, como presidente interino. A medida também poderá permitir que os EUA confisquem ativos do governo Maduro e os redistribuam à Assembleia Nacional —incluindo os associados à indústria de petróleo e a Citgo, empresa sediada em Houston que é propriedade da Venezuela desde 1990.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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