O presidente dos EUA, Donald Trump, fez, nesta quinta-feira (10), mais uma tentativa de sensibilizar a opinião pública para a necessidade de construir um muro na fronteira com o México, mas aproveitou para deixar claro que não descarta atropelar o Congresso e declarar emergência nacional para conseguir a barreira.
O republicano fez uma visita a McAllen, cidade no Texas que faz fronteira com o México e que foi epicentro de uma das mais controversas medidas adotadas por seu governo sobre imigração: a separação de famílias, depois revertida.
Ao lado de agentes de patrulha e da secretária de Segurança Doméstica, Kirstjen Nielsen, Trump procurou reforçar o discurso de que os EUA enfrentam uma crise humanitária e de segurança provocadas pelo fluxo de imigrantes ilegais que entram no país e que são responsáveis, segundo ele, por tráfico de drogas e humano e por cometer crimes violentos em solo americano.
O impasse com democratas envolvendo o financiamento ao muro causa uma paralisação parcial que afeta 25% do governo federal e já entra no 21º dia –está prestes a bater o recorde de maior apagão registrado pelos EUA.
São 800 mil funcionários federais de licença ou sem receber. Parques nacionais estão fechados e vários serviços começam a ser comprometidos, como a análise de pedidos de empresas que querem levantar capital em Bolsa.
Em McAllen, Trump defendeu a construção do muro, que, em seu programa de campanha, prometeu que seria pago pelo México. Agora, o discurso é que o país vizinho está pagando indiretamente, depois que os EUA renegociaram, com vantagens, as condições do Nafta, acordo comercial que inclui ainda Canadá e que será substituído.
“Se nós tivéssemos uma barreira de qualquer tipo, seja de aço ou de concreto, eles nem se incomodariam de tentar” entrar no país, afirmou, em referência a imigrantes ilegais.
Os democratas acusam o presidente de fabricar uma crise na fronteira que não existe. “Não é [fabricada].
O que é fabricado é o uso da palavra fabricado”, diz Trump.
A visita à fronteira ocorre conforme o presidente pesa a possibilidade de declarar emergência nacional na fronteira, o que permitiria que construísse o muro sem a aprovação do Congresso, mas que estaria sujeita a questionamentos jurídicos.
Levantamento da CNN indica que, atualmente, os EUA estão com 31 estados de emergência em vigor –que abrangem temas como a proliferação de armas de destruição em massa (1994) e os ataques do 11 de Setembro.
“Eu tenho a opção. Se isso [a negociação com os democratas] não funcionar, eu provavelmente farei isso, definitivamente”, afirmou. No entanto, disse não estar pronto ainda para recorrer à alternativa e que prefere conversar com o Congresso.
“Eu gostaria de fazer o acordo pelo Congresso. Faz sentido fazer o acordo pelo Congresso... seria bom se nós fizéssemos um acordo, mas lidar com essas pessoas é ridículo”, disse o presidente.
Na quarta-feira (9), o presidente abandonou um encontro com os líderes do partido adversário, Chuck Schumer e Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados. O republicano qualificou o encontro de “total perda de tempo”. Segundo Schumer, “infelizmente o presidente simplesmente se levantou e saiu andando.”
O impasse com democratas ganhou fôlego a partir do último dia 3, quando o partido assumiu o controle da Câmara dos Deputados e aprovou duas medidas que buscavam reabrir o governo.
Foram aprovadas duas medidas separadas. Uma incluía dinheiro para financiar temporariamente o Departamento de Segurança Doméstica nos níveis atuais até 8 de fevereiro, dando tempo para que democratas e republicanos continuem as negociações sobre o financiamento ao muro.
Outra proposta financiaria os departamentos de Agricultura, Interior e outros até 30 de setembro, quando termina o atual ano fiscal.
O presidente se recusa a assinar qualquer lei que não contemple verba para a obra. Os democratas rejeitam aprovar qualquer lei que tenha essa provisão.
Sem o dinheiro para o muro, o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, se recusou a colocar as propostas para votação.
Até agora, o governo americano já sofreu 21 paralisações desde que o Congresso introduziu a lei de controle que determina o processo orçamentário no país.
A paralisação parcial já é a segunda maior registrada pelo governo americano, superando a paralisação de 17 dias completos em setembro de 1978, da Presidência de Jimmy Carter.
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