Em discurso em Davos, Bolsonaro promete governar pelo exemplo e não detalha reformas

Com voz embargada, presidente diz que missão é compatibilizar preservação ambiental com desenvolvimento

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Davos

Em seu primeiro discurso em um palco internacional como presidente, Jair Bolsonaro defendeu que o Brasil lidere pelo exemplo e afirmou, de improviso, que os países precisam cooperar.

“Hoje em dia um precisa do outro. O Brasil precisa de vocês, e vocês com certeza precisam do nosso querido Brasil”, afirmou, com a voz embargada ao subir na plenária do 49º Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

Foi questionado pelo presidente do fórum, Klaus Schwab, sobre quais passos dará para conseguir o que promete para transformar a economia, conciliar desenvolvimento e ambiente e lidar com a corrupção.

No caso da transformação econômica, Bolsonaro citou a desburocratização dos negócios, o que chamou de “comércio sem ideologia” e repetiu ideias que mencionara no discurso.

A sessão toda durou 15 minutos — oito de discurso de Bolsonaro, incluindo a breve introdução do presidente do fórum, e sete de perguntas de Schwab—, o que é incomum para um chefe de Estado que dispunha, inicialmente, de 45 minutos para falar, depois reduzidos a 30.

O presidente Jair Bolsonaro faz discurso diante de plateia do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça
O presidente Jair Bolsonaro faz discurso diante de plateia do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça - Arnd Wiegmann/Reuters

A plateia, que ocupou grande parte das 1.259 cadeiras disponíveis na plenária, sem contudo lotá-la, reagiu sem maior entusiasmo, mas com interesse. Uma expectativa dos investidores era que Bolsonaro detalhasse suas reformas, o que não aconteceu.

Empresários que acompanharam o discurso nas primeiras filas reagiram friamente ao que chamaram de excesso de objetividade do presidente, algo que ele vinha prometendo desde o início. 

Alguns deles esperavam que a sessão abrisse espaço para perguntas da plateia, o que não aconteceu e não é uma prática constante do Fórum.

O economista-chefe da consultoria IHS Markit, Nariman Behravesh, resumiu a sensação no ar: “Minha primeira reação foi que o discurso era muito curto. Nesses poucos minutos, ele deixou muito claro que adotaria uma agenda pró-negócios, incluindo baixar a carga tributária, reduzir a regulamentação e lidar com a corrupção”, disse.

“Como muitos líderes fizeram no passado, ele fez um aceno para que os líderes globais de negócios invistam no Brasil. Foi um tanto decepcionante que não houvesse detalhe do que ele vai fazer, mas as metas mais amplas são animadoras.”

Bolsonaro fez um discurso incisivo e conciso, no qual se preocupou em mostrar o Brasil como um país pioneiro em preservar o ambiente e aberto a fazer negócios com todos. Ressaltou à plateia internacional, também, sua campanha presidencial, que ele afirma ter tido baixo custo e sofrido ataques de todos os lados.

A ideia central do discurso era mostrar a mudança que ocorre no país, algo enfatizado pelo próprio Schwab ao apresentar o brasileiro no palco. Isso significou tanto falar em abertura a negócios e desoneração como evocar um dos bordões preferidos de Bolsonaro, conduzir o governo “sem ideologia”.

O presidente mencionou três de seus cinco ministros presentes: Sergio Moro, o primeiro citado, “o homem certo para o combate à corrupção e à lavagem de dinheiro”; Paulo Guedes, o condutor das reformas econômicas, que segundo ele colocará o país entre os melhores para se fazer negócio, e Ernesto Araújo, o chanceler, a quem cabe a missão de “implementar uma política externa na qual o viés ideológico deixará de existir.

Na curta sessão de perguntas de Schwab, o presidente insistiu que a América do Sul quer ser grande — uma evocação a Donald Trump — e que hoje está “ficando livre da esquerda, algo que acredito ser bom para o Brasil e para o mundo”.

Mas fez, também, acenos ao multilateralismo, falando em comércio e cooperação, e à proteção do ambiente, embora não tenha detalhado, nem com a insistência de Schwab, como pretende equilibrar ambiente e desenvolvimento — ou agronegócio, citado por ele por ser a principal “commodity” do país.

Ativistas de direitos humanos e ambiente que ouviram o discurso elogiaram compromissos citados, mas ressalvaram que era preciso transformá-los em mais do que palavras. “Chama a atenção quando o presidente diz que nosso país seguirá as 'boas práticas internacionais', citando especificamente a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).

"Este órgão, do qual o Brasil busca fazer parte, reconhece a importância dos princípios de sustentabilidade e direitos humanos, ao lado de objetivos de promoção comercial e combate à corrupção", afirmou a Conectas em nota.

O secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, disse que essa foi a primeira vez que Bolsonaro elogiou o combate à mudança climática, mas também cobrou medidas concretas.

"Infelizmente, é difícil conciliar o discurso com a realidade dos primeiros 21 dias da administração Bolsonaro. O governo federal brasileiro tomou medidas concretas para submeter a agenda ambiental ao agronegócio", afirmou Rittl em nota. "O presidente deve agir rapidamente para corrigir o curso se ele realmente quer implementar o que disse em Davos". 

Para deixar sua marca, o presidente encerrou o discurso citando para o público de empresários, executivos, membros de governos, acadêmicos e ativistas a metade final de seu ​slogan de campanha, “Deus acima de tudo”.

 
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