Descrição de chapéu Venezuela

Tensão com países da região leva regime Maduro a prender jornalistas

Repórteres de Brasil e Chile dizem ter ouvido que seus governos eram inimigos de Caracas

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Cartagena (Colômbia)

As detenções e o cerceamento do trabalho dos correspondentes internacionais na Venezuela têm ocorrido abertamente por questões políticas.

Tanto o brasileiro Rodrigo Lopes, do jornal Zero Hora, como os chilenos Rodrigo Pérez e Gonzalo Barahona ouviram de seus captores que seus governos eram inimigos da Venezuela.

Homem passa por mosaico representando Hugo Chávez e o ditador Nicolás Maduro em Caracas
Homem passa por mosaico representando Hugo Chávez e o ditador Nicolás Maduro em Caracas - Juan Barreto/AFP

“Eles falaram várias vezes do Bolsonaro, da postura dele, do que estava falando sobre Maduro”, contou a Folha o gaúcho Rodrigo Lopes. O mesmo ocorreu com os chilenos, que ouviram críticas a Sebastián Piñera.

Na manhã desta quinta-feira (31), o chanceler colombiano, Carlos Holmes Trujillo, afirmou que "desde que soubemos da desaparição de Leonardo Muñoz, que se encontrava cobrindo a situação na Venezuela para a agência espanhola Efe, estamos atentos para que nossos representantes diplomáticos resolvam sua situação. Exigimos respeito à sua integridade e a liberdade de imprensa".

A desaparição de Muñoz causou grande repercussão na imprensa e na sociedade colombiana. Colômbia e Venezuela são vizinhos e parceiros históricos desde a época da independência de ambos, na primeira metade do século 19.

O Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa na Venezuela informou que Muñoz, sua conterrânea e colega de agência Efe Maurén Barriga Vargas, e o espanhol Gonzalo Domínguez serão deportados para seus países ainda nesta quinta-feira.

Dois jornalistas franceses, Pierre Caillet e Baptiste des Monstiers, que trabalham para o programa Quotidien da emissora TMC, também seriam deportados nesta quinta-feira.

O secretário-geral do sindicato venezuelano de imprensa, Marco Ruiz, afirmou que foram registradas 40 agressões apenas neste mês contra jornalistas —destas, 19 foram detenções, a maioria de correspondentes internacionais. "Deportações não são a solução", disse a jornalistas em Caracas.

A SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa, na sigla em espanhol) pediu a liberação imediata dos jornalistas e o respeito ao trabalho da imprensa.

"Com a afronta cotidiana ao direito do povo à liberdade de reunião e à liberdade dos jornalistas em exercer sua função, o governo de Maduro se desnuda cada vez mais como um regime opressor, ditatorial, que busca aferrar-se ao poder com mais repressão e violência", afirmou a presidente da SIP, Maria Elvira Domínguez, diretora do jornal colombiano El País, de Calí.

A deterioração da relação entre Bogotá e Caracas começou após a eleição de Iván Duque, afilhado do ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010). Apesar de se definir como de centro, foi eleito com amplo apoio da direita e pelo Centro Democrático, partido de Uribe.

Seu antecessor, Juan Manuel Santos (2010-2018), evitou confrontos e críticas ao ditador Maduro porque precisava de sua ajuda para concretizar o acordo de paz da Colômbia com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Em várias ocasiões, Santos disse que sem a ajuda venezuelana seria impossível concluir a negociação, aprovada em finais de 2016. “Pela paz, me tornei o melhor amigo da Venezuela”, dizia Santos à época, ainda sob várias críticas.

Já Duque preferiu o embate aberto, o que além de ter produzido como efeito colateral a prisão do fotógrafo colombiano em Caracas, jogou por terra o acordo de paz com a segunda maior guerrilha do país, o ELN (Exército de Libertação Nacional).

A participação da Venezuela nesses tratados é essencial porque as guerrilhas colombianas se escondem e acampam em território venezuelano.

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