Descrição de chapéu Venezuela

Anistia pode incluir Maduro, diz Guaidó

Em Brasília, líder da oposição da Venezuela acena com reconciliação para saída de ditador

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Brasília

O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, afirmou nesta quinta-feira (28) que sua proposta de anistia para os aliados do chavismo que contribuam para a transição de governo no país vizinho pode incluir o ditador Nicolás Maduro

"Desde 5 de janeiro estamos pensando na transição venezuelana, no futuro do nosso país. Este é o foco. Sabemos que a usurpação deve acabar. Há uma ditadura na Venezuela e por isso oferecemos anistias e garantias a funcionários civis e militares que colaborem com o fim da usurpação, com o governo de transição e com eleições livres. Isso pode ou não incluir Nicolás Maduro", disse Guaidó à Folha, no hotel em que está hospedado em Brasília. 

Guaidó realizou nesta quinta-feira (28) uma visita à capital federal, onde se encontrou com o presidente Jair Bolsonaro.

O presidente Jair Bolsonaro e o oposicionista venezuelano Juan Guaidó se cumprimentam no Palácio do Planalto - Ueslei Marcelino/Reuters

Ele ressaltou que a anistia não pode incluir funcionários do regime de Maduro que tenham violados direitos humanos.

Questionado sobre se Maduro não teria cometido crimes de lesa humanidade ao bloquear a entrada de ajuda humanitária em seu país no último fim de semana, Guaidó disse que seria preciso "avaliar" o caso. 

"Eu não sou juiz. Eu sou deputado e presidente encarregado. Teria que avaliar se está contemplado ou não nos supostos dos direitos humanos", afirmou.

Mais cedo, em uma entrevista coletiva, Guaidó foi perguntado por uma jornalista se concordava com a opinião vocalizada pelo vice-presidente Hamilton Mourão, de que é necessário oferecer uma "porta de saída" para Maduro.

Segundo o vice disse a interlocutores, apenas a anistia oferecida até agora por Guaidó é insuficiente para convencer os militares mais próximos a Maduro a abandoná-lo.

O líder oposicionista disse que "as violações dos direitos humanos não são anistiáveis", mas citou transições ocorridas no Chile pós-Pinochet e na própria Venezuela, em 1958, quando a ditadura de Marcos Pérez Jiménez terminou, para argumentar que o objetivo central de uma mudança de regime deve ser "gerar governabilidade que permita atender à crise e ao cidadão".

"O que não podemos fazer é viver com ressentimentos, porque eles nos prenderiam a um passado e a um presente muito tortuosos", afirmou o presidente autoproclamado, na entrevista coletiva.

Guaidó também foi indagado se ainda havia espaço para diálogo com Maduro. Ele disse que foram estabelecidas sucessivas mesas de negociação nos últimos anos, mas que o chavismo nunca deu condições para que eleições livres fossem celebradas na Venezuela.

De acordo com ele, não é possível estabelecer um "falso diálogo" apenas para que o governo Maduro ganhe tempo.

Ele evitou reafirmar suas declarações recentes, nas quais avaliava solicitar apoio da comunidade internacional para uma intervenção militar estrangeira na Venezuela.  

"A substituição do atual modelo, ante a não observância da democracia na Venezuela, tem a ver com todas as capacidades possíveis que não gerem custo social. Que gerem governabilidade, estabilidade e que abram caminho à democracia. Nesse sentido, estamos convencidos que temos que ter tudo para poder alcançar esse objetivo", afirmou. 

O líder opositor fez ainda um chamado para que Rússia e China —duas potências que apoiam Maduro— se juntem ao esforço de remover o ditador do poder. Ele citou os interesses desses dois países na Venezuela e disse que vai atuar para que os contratos sejam respeitados.

"Todos os convênios e acordos que foram assinados legalmente na Venezuela serão respeitados. Hoje Maduro não protege ninguém da fome nem da insegurança. Mas também não protege os investidores: como um país ou uma empresa que investiu milhões de dólares na Venezuela consegue recuperar seu investimento com uma inflação de 2.000.000%?", disse.

A inflação no país sul-americano em crise, na verdade, já chegou a 10.000.000%.

Durante o pronunciamento ao lado de Bolsonaro, o líder anti-chavista apresentou diversos dados para ilustrar a crise social que assola a Venezuela.

"Há 300 mil venezuelanos em risco de morte pela emergência humanitária completa", disse Guaidó. Ele argumentou ainda que o PIB (Produto Interno Bruto) sofreu uma contração de mais de 50% nos últimos anos e que Caracas é a cidade mais violenta do mundo.  

Guaidó disse ainda que retornará ao seu país até a próxima segunda-feira (4/3), mesmo diante das ameaças feitas por Maduro.

"Como sabem, eu recebi ameaças pessoais e a familiares, mas também ameaças de prisão por parte do regime de Maduro. Mesmo assim, isso não vai evitar o nosso retorno à Venezuela, no fim de semana ou, no mais tardar, na segunda-feira", declarou a jornalistas.

Guaidó saiu da Venezuela no último fim de semana pela fronteira com a Colômbia para participar da tentativa frustrada de envio de ajuda humanitária coordenada pelos Estados Unidos.

Ao deixar seu país, ele desafiou uma ordem judicial emitida pelo regime chavista, que havia proibido Guaidó de viajar ao exterior.

Maduro afirmou que Guaidó deverá prestar contas à Justiça se retornar à Venezuela.

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