Babá chilena, acusada de sequestro durante ditadura de Pinochet, é presa na Austrália

Secretária de ex-comandante da polícia política da ditadura chilena foi detida na terça (19)

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Sydney | AFP

As autoridades australianas anunciaram nesta quarta-feira (20) a prisão de uma babá que mora há mais de três décadas no país. Adriana Rivas, 66, foi secretária de Manuel Contreras, ex-comandante da polícia política da ditadura de Augusto Pinochet.

Ela foi detida na terça-feira (19), de acordo com um porta-voz da Procuradoria-Geral da Austrália. A detenção ocorreu depois que o Chile solicitou sua extradição devido a acusações de sequestro e tortura durante o regime Pinochet. 

Cena do documentário "O Pacto de Adriana", sobre a vida de Adriana Rivas
Cena do documentário "O Pacto de Adriana", sobre a vida de Adriana Rivas - 01.set.18

De acordo com a Procuradoria, a detenção foi solicitada para que a mulher "enfrente processo no Chile por crimes de sequestro com agravante".

Residente desde 1978 na Austrália, Adriana Elcira Rivas González foi detida em 2007 durante uma de suas visitas ao Chile, mas fugiu para a Austrália em 2010, quando estava em liberdade condicional.

De acordo com o site chileno Memória Viva, dedicado a investigar as circunstâncias das mortes e desaparecimentos das vítimas da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), Rivas fez parte da temida DINA (Diretoria de Inteligência Nacional), ao qual se atribui a maioria das mais de 3.200 mortes e desaparecimentos registrados na ditadura, que torturou mais de 38 mil pessoas.

O site exibe uma foto de uma mulher apresentada como Rivas, na qual ela aparece sorridente ao lado de Contreras, considerado pelo governo chileno "um dos personagens mais obscuros da história do país".

A Justiça chilena quer a extradição de Rivas por seu suposto envolvimento no caso conhecido como "Calle Conferencia", referência a uma rua da capital Santiago.

Ela é suspeita de ter integrado a Brigada Lautaro da DINA, que executou operações em 1976 contra a diretoria clandestina do Partido Comunista chileno, que teve diversos líderes sequestrados, torturados e assassinados.

Em 2014, a Justiça chilena solicitou a extradição de Rivas por seu papel no sequestro do sindicalista Víctor Díaz Lopez, dirigente do Partido Comunista desaparecido em maio de 1976, aos 56 anos.

Rivas, que trabalhava como babá e faxineira em Bondi, na região de Sydney, comparecerá a um tribunal no dia 1º de março.

Em uma entrevista em 2013 ao canal australiano SBS, Adriana Rivas afirmou que era inocente, mas defendeu o uso da tortura no Chile naquela época. "Eles tinham que quebrar as pessoas, aconteceu em todo o mundo, não apenas no Chile", disse. 

O general Pinochet morreu em 2006, sem ter sido levado a julgamento. Manuel Contreras, morto em 2015, foi condenado a 529 anos de prisão por 40 casos de tortura, desaparecimentos e sequestro de opositores.

O caso de Rivas é retratado no documentário "O Pacto de Adriana". A diretora chilena Lissette Orozco investiga o que aconteceu com sua tia Adriana, personagem mítica de sua família, que, ao desembarcar em Santiago, chegando da Austrália, foi imediatamente presa.

Orozco dedica-se então a buscar, por trás dos segredos familiares, essa tia. Tenta falar com outras mulheres que participaram da organização, mostra fotos, expõe a negação reiterada de Adriana, que não teria participado de nada, que não sabia de nada. ​

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