Parte da oposição venezuelana duvidava se a decisão de Juan Guaidó de se autodeclarar presidente encarregado era uma boa opção, disse nesta quinta (31) Henrique Capriles, 46, duas vezes candidato à Presidência —em ambas, derrotado pelo chavismo.
Ele afirma, porém, que ficou surpreso com o apoio que Guaidó recebeu no exterior e que isso impediu uma reação mais dura do ditador Nicolás Maduro, incluindo o fechamento da Assembleia Nacional, presidida por Guaidó e de maioria opositora.
Por uma diferença de pouco mais de 1% dos votos, Maduro venceu Capriles na eleição presidencial de 2013. No ano anterior, o opositor já tinha sido derrotado pelo então presidente Hugo Chávez (1954-2013).
As duas disputas transformaram Capriles em um dos principais líderes da oposição e em um de seus nomes mais conhecidos no exterior. Acusado pelo regime Maduro de mau uso do dinheiro público, ele perdeu seus direitos políticos por 15 anos.
Apesar disso, continua a morar na Venezuela, onde deu uma entrevista a jornalistas estrangeiros.
Como a oposição preparou este momento?
Em 5 de janeiro, quando Guaidó toma posse na Assembleia (Parlamento), a posição majoritária dentro da oposição venezuelana era que Guaidó não devia fazer o juramento como presidente. Considerava-se que isto poderia desencadear um confronto político. Havia a dúvida dentro da oposição de que este ato público teria consequência, levando o governo a fechar a Assembleia Nacional.
Chega o 23 de janeiro e Juan [Guaidó] faz o juramento como presidente interino. Não tínhamos a informação. Surpreendeu muitos dirigentes.
Quem é Juan Guaidó?
É uma pessoa bastante racional, não é um extremista, não é um louco, não é violento; uma pessoa centrada.
A oposição esperava tanto apoio internacional?
Alguns dizem que este é um plano que orquestramos: isso não é verdade, porque a conta da oposição eram só Brasil, Estados Unidos e Colômbia, em termos de reconhecimento a Guaidó, e o secretário-geral da OEA, Luis Almagro. Todos ficamos surpresos com o efeito dominó que houve.
Sem este apoio internacional, hoje Guaidó estaria preso?
Provavelmente sim porque o governo diria, 'tenho controle da força, dos poderes, tenho o povo com medo, já baixei o pau no povo em 2017 [em manifestações que deixaram 125 mortos], sigo em frente'. A reação internacional tem sido uma contenção".
Maduro denuncia um golpe de Estado opositor conduzido pelos Estados Unidos. Como o senhor responde?
Se vitimiza. Quer fazer crer que Maduro foi um presidente eleito em uma votação e que Guaidó não foi eleito por ninguém, que ele se autoelegeu: isso é falso. Guaidó é um deputado, presidente da Assembleia Nacional e cumpriu a nossa Constituição, ante a usurpação de Maduro.
[Nas eleições presidenciais de maio de 2018,] Maduro inabilita os principais candidatos, ilegaliza os principais partidos e assim quis disputar as eleições. Olha, que fácil! Então, quem elegeu Maduro? Ninguém, foi uma farsa, foi uma montagem. Diante disso, o que o Poder Legislativo faz? Assume suas competências constitucionais.
Juan Guaidó tornará possível a unidade da oposição?
Qual é o objetivo máximo da oposição? Uma mudança política no país. Onde houve debate? Em como conseguimos essa mudança política, como é possível que a Venezuela possa recuperar a sua democracia porque isto não é uma democracia, isto parece que é um autoritarismo caminhando para um totalitarismo.
O passo que Guaidó deu, sem tê-lo previsto, trouxe um processo de composição imediata interno da oposição, mais uma esperança para o venezuelano, mais uma sensação que vocês colhem na rua: 'agora sim, isto caminha para um desenlace'".
O que fazer para aumentar a pressão sobre o governo?
Para que isto termine de rachar, é preciso explicar ao povo que não basta a sociedade internamente dizer 'reconheço a Assembleia'. Ninguém deu este passo internamente, Fedecámaras, Igreja, sindicatos, ninguém disse: não reconhecemos Maduro. Dizem: reconhecemos a Assembleia. Até que não seja dado este passo, Maduro acredita que tem o controle interno.
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