Departamento de Justiça dos EUA discutiu remover Trump após demissão de chefe do FBI

Declaração é de ex-vice-diretor da polícia federal americana em entrevista a canal de TV

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Nova York

Autoridades do alto escalão do Departamento de Justiça americano discutiram se deveriam convencer membros do gabinete a invocar a 25ª emenda constitucional e remover o presidente Donald Trump do cargo, preocupadas com a decisão do republicano de demitir o ex-diretor do FBI James Comey.

A declaração faz parte de um trecho de entrevista dada por Andrew McCabe, ex-vice-diretor da polícia federal americana, ao programa “60 Minutes”, da emissora CBS, que vai ao ar neste domingo (17). Trechos da conversa foram divulgados nesta quinta (14).

Andrew McCabe, ex-vice-diretor do FBI, em foto de 2017
Andrew McCabe, ex-vice-diretor do FBI, em foto de 2017 - Jim Watson/AFP

Na entrevista, McCabe diz que, preocupado com as ações do presidente, ordenou à equipe do FBI que investiga a interferência russa nas eleições de 2016 que expandisse seu escopo para verificar se Trump teria obstruído a Justiça ao demitir Comey. A intenção era verificar se o presidente estaria trabalhando em benefício da Rússia contra os interesses americanos.

O ex-vice-diretor do FBI, que lança na próxima semana o livro “The Threat: How the F.B.I. Protects America in the Age of Terror and Trump” (“A ameaça: como o FBI protege a América na era do terror e Trump”, em tradução livre), afirmou que conversou com o presidente após a demissão de Comey. No dia seguinte, reuniu-se com o time que estava investigando a interferência russa nas eleições.

“Eu fiquei preocupado em colocar o caso da Rússia em um terreno absolutamente sólido”, afirmou. “Que se eu fosse removido rapidamente, deslocado ou demitido, o caso não seria encerrado ou desapareceria na noite sem nenhum rastro.”

Em março de 2018, na véspera de sua aposentadoria, McCabe foi demitido pelo ex-secretário de Justiça Jeff Sessions, que alegou falta de sinceridade.

No trecho divulgado, o jornalista Scott Pelley afirma que o ex-vice-diretor do FBI confirmou que o subsecretário de Justiça Rod Rosenstein sugeriu usar uma escuta em reuniões com Trump e que autoridades do Departamento de Justiça discutiram recrutar membros do gabinete para invocar a 25ª emenda para remover Trump.

“Houve encontros no Departamento de Justiça nos quais foi discutido se o vice-presidente e uma maioria do gabinete poderiam ser convencidos a remover o presidente dos Estados Unidos sob a 25ª emenda”, afirmou Pelley. “Esses foram os oito dias após a demissão de Comey até o ponto em que Robert Mueller foi nomeado procurador especial. E as autoridades de mais alto nível da supervisão da lei americana estavam tentando descobrir o que fazer com o presidente.”

Ex-oficiais de justiça disseram que as declarações foram feitas durante encontros em 16 de maio de 2017. McCabe e seus ex-colegas guardaram memorandos sobre suas trocas com Trump e autoridades do Departamento de Justiça.

Um dos memorandos, escrito por McCabe, indica que o ex-agente do FBI escreveu que a capacidade do presidente esteve sob discussão, assim como a possibilidade de ele ser removido do escritório sob a 25ª emenda. O subsecretário de Justiça indicou que analisou a questão e determinou que seriam necessários uma maioria, ou 8 de 15 membros do gabinete. McCabe acrescentou que Rosenstein sugeriu que ele teria apoiadores na Secretaria de Justiça e no Departamento de Segurança Doméstica.

Rosenstein contesta a informação sobre a escuta e sobre a 25ª emenda.

O jornal The New York Times diz que um ex-oficial do Departamento de Justiça presente quando Rosenstein propôs usar uma escuta afirmou que a declaração foi feita sarcasticamente.

Cerca de duas horas depois de o trecho com a entrevista ir ao ar, Trump criticou McCabe em uma rede social.

O republicano acusou o ex-vice-diretor do FBI, chamado de “fantoche de Comey”, de fingir ser “um pobre anjinho” quando, na verdade, “ele era parte importante do escândalo da Hillary Desonesta e da Farsa Russa”.

O escândalo a que Trump fez referência envolve a investigação de que Hillary teria usado seu email pessoal enquanto ocupava o cargo de secretária de Estado.

A farsa russa seria a investigação sobre a possível coordenação entre a campanha de Trump e a Rússia para interferir no resultado das eleições de 2016.

Em comunicado enviado à CBS, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, afirmou que McCabe tinha iniciado uma investigação “completamente sem base” sobre o presidente.

Já o Departamento de Justiça respondeu à entrevista e disse que Rosenstein considera a descrição dos eventos factualmente incorreta e inexata.

A nota diz ainda que, como o subsecretário já havia afirmado antes, não há base para invocar a 25ª emenda, e nem a Secretaria de Justiça esteve em posição de considerar isso.

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