Autoridades do alto escalão do Departamento de Justiça americano discutiram se deveriam convencer membros do gabinete a invocar a 25ª emenda constitucional e remover o presidente Donald Trump do cargo, preocupadas com a decisão do republicano de demitir o ex-diretor do FBI James Comey.
A declaração faz parte de um trecho de entrevista dada por Andrew McCabe, ex-vice-diretor da polícia federal americana, ao programa “60 Minutes”, da emissora CBS, que vai ao ar neste domingo (17). Trechos da conversa foram divulgados nesta quinta (14).
Na entrevista, McCabe diz que, preocupado com as ações do presidente, ordenou à equipe do FBI que investiga a interferência russa nas eleições de 2016 que expandisse seu escopo para verificar se Trump teria obstruído a Justiça ao demitir Comey. A intenção era verificar se o presidente estaria trabalhando em benefício da Rússia contra os interesses americanos.
O ex-vice-diretor do FBI, que lança na próxima semana o livro “The Threat: How the F.B.I. Protects America in the Age of Terror and Trump” (“A ameaça: como o FBI protege a América na era do terror e Trump”, em tradução livre), afirmou que conversou com o presidente após a demissão de Comey. No dia seguinte, reuniu-se com o time que estava investigando a interferência russa nas eleições.
“Eu fiquei preocupado em colocar o caso da Rússia em um terreno absolutamente sólido”, afirmou. “Que se eu fosse removido rapidamente, deslocado ou demitido, o caso não seria encerrado ou desapareceria na noite sem nenhum rastro.”
Em março de 2018, na véspera de sua aposentadoria, McCabe foi demitido pelo ex-secretário de Justiça Jeff Sessions, que alegou falta de sinceridade.
No trecho divulgado, o jornalista Scott Pelley afirma que o ex-vice-diretor do FBI confirmou que o subsecretário de Justiça Rod Rosenstein sugeriu usar uma escuta em reuniões com Trump e que autoridades do Departamento de Justiça discutiram recrutar membros do gabinete para invocar a 25ª emenda para remover Trump.
“Houve encontros no Departamento de Justiça nos quais foi discutido se o vice-presidente e uma maioria do gabinete poderiam ser convencidos a remover o presidente dos Estados Unidos sob a 25ª emenda”, afirmou Pelley. “Esses foram os oito dias após a demissão de Comey até o ponto em que Robert Mueller foi nomeado procurador especial. E as autoridades de mais alto nível da supervisão da lei americana estavam tentando descobrir o que fazer com o presidente.”
Ex-oficiais de justiça disseram que as declarações foram feitas durante encontros em 16 de maio de 2017. McCabe e seus ex-colegas guardaram memorandos sobre suas trocas com Trump e autoridades do Departamento de Justiça.
Um dos memorandos, escrito por McCabe, indica que o ex-agente do FBI escreveu que a capacidade do presidente esteve sob discussão, assim como a possibilidade de ele ser removido do escritório sob a 25ª emenda. O subsecretário de Justiça indicou que analisou a questão e determinou que seriam necessários uma maioria, ou 8 de 15 membros do gabinete. McCabe acrescentou que Rosenstein sugeriu que ele teria apoiadores na Secretaria de Justiça e no Departamento de Segurança Doméstica.
Rosenstein contesta a informação sobre a escuta e sobre a 25ª emenda.
O jornal The New York Times diz que um ex-oficial do Departamento de Justiça presente quando Rosenstein propôs usar uma escuta afirmou que a declaração foi feita sarcasticamente.
Cerca de duas horas depois de o trecho com a entrevista ir ao ar, Trump criticou McCabe em uma rede social.
O republicano acusou o ex-vice-diretor do FBI, chamado de “fantoche de Comey”, de fingir ser “um pobre anjinho” quando, na verdade, “ele era parte importante do escândalo da Hillary Desonesta e da Farsa Russa”.
O escândalo a que Trump fez referência envolve a investigação de que Hillary teria usado seu email pessoal enquanto ocupava o cargo de secretária de Estado.
A farsa russa seria a investigação sobre a possível coordenação entre a campanha de Trump e a Rússia para interferir no resultado das eleições de 2016.
Em comunicado enviado à CBS, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, afirmou que McCabe tinha iniciado uma investigação “completamente sem base” sobre o presidente.
Já o Departamento de Justiça respondeu à entrevista e disse que Rosenstein considera a descrição dos eventos factualmente incorreta e inexata.
A nota diz ainda que, como o subsecretário já havia afirmado antes, não há base para invocar a 25ª emenda, e nem a Secretaria de Justiça esteve em posição de considerar isso.
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