O Grupo de Lima, formado pelos países mais relevantes da América Latina mais o Canadá, cobrou, em reunião nesta segunda-feira (4), que a “Força Armada Nacional da Venezuela manifeste sua lealdade ao presidente encargado [o interino Juan Guaidó] em sua função constitucional de comandante em chefe”.
O grupo também conclamou os militares “a não impedir o ingresso e o trânsito da ajuda humanitária aos venezuelanos”.
O apelo transforma o fornecimento de ajuda humanitária à Venezuela em evento talvez decisivo para encaminhar uma saída para a crise no país.
Estados Unidos e Colômbia já estão há dias armando um sistema de entrega de ajuda humanitária, mas nesta segunda-feira, o Canadá deu um passo adiante mais significativo: durante reunião de 13 dos 14 países do Grupo de Lima (o México não está participando), o primeiro-ministro Justin Trudeau anunciou a liberação de US$ 53 milhões (R$ 194 milhões) para amenizar a crise humanitária na Venezuela.
Trudeau deixou claro que o principal do pacote irá para “organizações de confiança na própria Venezuela e para os países vizinhos”, para cooperar com o gerenciamento do fluxo de refugiados.
O premiê especificou do que trata o pacote: assistência alimentícia, cuidados com a saúde, água, educação e serviços de proteção à população, “com foco nas necessidades de mulheres e meninas".
Ou seja, contorna funções primárias do governo de Nicolás Maduro para dar poderes às ONGs e também ao governo autonomeado de Juan Guaidó, o presidente da Assembleia Nacional.
Acontece que, na mesma reunião do Grupo de Lima, realizada em Ottawa, os 13 participantes decidiram “incorporar o governo legítimo da Venezuela, ao qual dão as boas vindas". A incorporação foi proposta pelo chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, após pedido de Julio Borges, um dos líderes políticos venezuelanos exilados.
Antes, os principais países europeus já haviam anunciado o reconhecimento de Guaidó como presidente legítimo da Venezuela.
Foi decisão conjunta de Alemanha, França, Reino Unido, Espanha, Áustria, Portugal, Suécia e Dinamarca.
Representantes de quase todos eles participaram da reunião em Ottawa, com o que o Grupo de Lima passa a ter uma representatividade que vai bem além da América Latina e torna-se um conglomerado intercontinental.
É ante esse panorama de crescente isolamento do governo de Maduro que os militares venezuelanos terão que decidir, nos próximos dias, se deixam ou não entrar a ajuda humanitária.
O dilema que se apresenta às Forças Armadas é assim exposto pelo jornal britânico Financial Times: “A cúpula militar tem agora a escolha entre romper o vínculo com o presidente [Maduro] e distribuir a ajuda, ou se recusar a fazê-lo e, assim, aumentar as chances de intervenção militar estrangeira".
O presidente Donald Trump não descartou uma intervenção militar, ao dizer que “todas as opções estão sobre a mesa", mas o Grupo de Lima, agora com seus parceiros europeus, rejeita-a sempre.
O comunicado oficial desta segunda-feira reitera o apoio “a um processo de transição pacífica por meios políticos e diplomáticos sem o uso da força”.
Tudo somado, fica claro que não é retórica a frase com que o premiê Trudeau abriu o encontro de Ottawa: “Este é um momento crucial para a Venezuela".
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.