Descrição de chapéu Venezuela

Maduro pede às Forças Armadas plano de mobilização na fronteira com a Colômbia

Ditador quer que militares reforcem segurança diante de ameaças de Trump e Duque

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Caracas | AFP

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, pediu nesta sexta-feira (15) aos militares que prepararem um "plano especial de implementação" na fronteira com a Colômbia, diante do que qualificou como "planos de guerra" dos governos dos presidentes americano, Donald Trump, e colombiano, Iván Duque.

O ditador Nicolás Maduro no Palácio Miraflores, em Caracas, na Venezuela - Andres Martinez Casares - 8.fev.19/Reuters

Em um ato com o alto comando das Forças Armadas, Maduro prometeu avaliar "quais novas forças" são necessárias para que "a fronteira seja inviolável, imbatível, inexpugnável". "Isso é para já", afirmou.

O ditador justificou a declaração lembrando que Trump e Duque anunciaram "planos de guerra contra a Venezuela" em reunião na Casa Branca na última quarta-feira (13).

Na reunião, Trump afirmou que considera "todas as opções" diante da crise na Venezuela e que Maduro comete um "erro terrível" ao impedir a entrada de ajuda humanitária no país.

Também nesta sexta, Maduro qualificou de "migalhas" de "comida podre" a ajuda humanitária enviada pelos Estados Unidos a pedido do opositor Juan Guaidó, reconhecido por 50 países como presidente interino do país.

"É uma armadilha, fazem um show com comida podre e contaminada", afirmou Maduro durante um ato em Ciudad Bolívar, sudeste da Venezuela, reiterando que os Estados Unidos querem invadir militarmente o país.

Apesar das críticas, as Forças Armadas americanas vão transportar cerca de 200 toneladas de ajuda humanitária para a Colômbia em um avião de carga C-17, informou uma fonte anônima do Departamento de Defesa dos EUA.

O ditador culpou a "guerra da oligarquia" e as sanções dos Estados Unidos, que congelaram contas e ativos venezuelanos, pela escassez de alimentos e remédios que afeta o país. Caracas cifra em US$ 30 bilhões o dano à economia.

Maduro afirmou que seu governo entrega caixas de alimentos a preços subsidiados a seis milhões de famílias, e que nesta semana comprou 933 toneladas de medicamentos e insumos médicos da China, Cuba e Rússia. "Pagamos com nosso dinheiro porque não somos mendigos de ninguém", disse.

Um carregamento de remédios e alimentos está armazenado desde 7 de fevereiro em Cúcuta, na fronteira da Colômbia com a Venezuela, perto de uma ponte bloqueada por militares venezuelanos com contêineres e uma cisterna.

Guaidó diz que essa assistência entrará a todo custo em 23 de fevereiro, quando completará um mês que se declarou presidente interino, depois que o Congresso —de maioria opositora— declarou Maduro "usurpador" ao denunciar sua reeleição como "fraudulenta".

Maduro acusou o opositor de 35 anos de ser um "fantoche" do presidente Donald Trump e um "Judas" por pretender "que o império americano invada e ocupe militarmente" o país e "se apodere" das riquezas petroleiras e do ouro da Venezuela.

"Isso se chama traição à pátria (...) O pior é estimular a loucura imperial de um governo extremista da Ku Klux Klan que está à frente da Casa Branca", manifestou.

Delegados de Guaidó anunciaram na quinta-feira na sede da OEA terem recolhido nas últimas três semanas mais de US$ 100 milhões em ajuda à Venezuela, que vive uma severa crise que provocou o êxodo de cerca de 2,3 milhões de venezuelanos desde 2015, segundo a ONU.

Maduro reiterou que acredita no "diálogo como a fórmula mágica" para resolver a crise venezuelana e disse esperar a convocação de uma negociação em virtude dos esforços de México, Uruguai e dos países caribenhos do Caricom.

Guaidó manifestou que não participará de um diálogo "falso", depois de acusar o governo de ter ganhado tempo com negociações anteriores.

REUNIÕES SECRETAS EM NY

Apesar do acirramento das tensões, Maduro revelou, nesta sexta, que seu chanceler Jorge Arreaza se reuniu duas vezes com o representante especial norte-americano para a Venezuela recentemente em Nova York.

"Fizemos duas reuniões com o senhor Elliott Abrams em Nova York", disse Maduro à Associated Press.

O mandatário reafirmou sua disposição a se reunir com Abrams. "Convidei Elliott Abrams a vir à Venezuela. Em particular, publicamente, em segredo. Diga onde, quando e como, e eu vou", declarou.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse nesta sexta que o fato de Maduro "ter dito publicamente que deseja conversar com os Estados Unidos não é novo".

No entanto, acrescentou Pompeo, "mostra que ele está cada vez mais entendendo que o povo venezuelano está rejeitando seu modelo, e que o presidente interino, [Juan] Guaidó, é ao mesmo tempo o líder constitucional daquele país e que liderará a Venezuela e seu povo rumo a eleições livres" e a uma recuperação econômica.

Nesta sexta, o presidente da Colômbia, Iván Duque, pediu, em discurso na sede da Organização dos Estados Americanos (OEA), "que o cerco diplomático se intensifique e se fortaleça, que se convide de forma clara os membros das Forças Armadas da Venezuela a apresentarem sua lealdade à Assembleia Nacional e ao presidente Guiadó e que sejam concedidas as garantias para que deixem o povo venezuelano falar com tranquilidade".

"Denunciar os abusos dessa ditadura é um dever à luz do sistema interamericano (...). Se mantivermos silêncio e não falarmos, seremos cúmplices daquela horrenda ditadura", afirmou.

Duque falou horas antes de uma sessão extraordinária do Conselho Permanente da OEA para analisar a situação na Venezuela.

Durante a sessão, especialistas da OEA disseram que realizar novas eleições nesse país "levará tempo" e apontaram como condição imprescindível que Maduro deixe o poder. Os técnicos da OEA também afirmaram que o organismo pode garantir eleições transparentes na Venezuela.

"Não é possível realizar eleições com o sistema eleitoral nas condições atuais, e repará-lo levará tempo", disse Francisco Guerrero, secretário de Fortalecimento da Democracia da OEA, acrescentando que a saída de Maduro "é uma condição 'sine qua non'".

Brenda Santamaría, chefe da Seção de Observação Eleitoral da OEA, destacou que uma vez convocadas novas eleições no âmbito de um governo de transição, é possível implementar na Venezuela uma missão "que acompanhe todo o processo".

"A OEA poderia gerar as condições mínimas que garantam que os venezuelanos expressem sua vontade", afirmou. Nesta sexta, Duque prometeu a Guaidó, durante uma videoconferência, que o apoiará de "forma decidida" para que a ajuda humanitária enviada pelos EUA entre na Venezuela.

"Estamos com vocês (...). Estaremos atentos para ajudar de forma decidida para que a ajuda humanitária chegue a Venezuela", disse Duque a Guaidó, em uma breve videoconferência difundida publicamente, ao vivo, por meio de uma rede social.

Duque pôs à disposição de Guaidó "o território colombiano, a cidade de Cúcuta e outras cidades do país" para "que chegue a ajuda humanitária". Também ofereceu apoio "logístico" e disse que administrará o apoio da OEA.

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