Pelo menos 40 mil pessoas deixam último reduto do Estado Islâmico

Alguns dos que saem proclamam lealdade ao grupo terrorista, que ocupava parte da Síria

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Província Deir Al-Zor, Síria | Reuters

Nos últimos três meses pelo menos 40 mil pessoas de várias nacionalidades saíram do último reduto do Estado Islâmico na Síria, sob escolta de forças apoiadas pelos Estados Unidos.

Parte de Baghouz, um pequeno aglomerado de aldeias e fazendas nas margens do rio Eufrates, na fronteira com o Iraque, foi o que restou da ocupação do grupo terrorista na Síria.

Civis fugindo do grupo do Estado Islâmico em Baghouz, na Síria
Civis fugindo do grupo do Estado Islâmico em Baghouz, na Síria - Fadel Senna - 14.fev.19/AFP

Nas últimas semanas, milhares de civis e combatentes abandonaram a região. Os membros do EI que permanecem no local se preparam para enfrentar uma ofensiva final liderada pelas Forças Democráticas da Síria (FDS), coalizão de milícias curdas e árabes, apoiada militarmente pelos Estados Unidos.

A batalha deve pôr fim ao califado proclamado em junho de 2014 pelo líder da facção, Abu Bakr al-Baghdadi –o paradeiro do terrorista iraquiano é desconhecido, e não se sabe se ele está vivo ou morto.

Mulheres do Iraque, da Síria, da Rússia, do Azerbaijão e da Polônia, um menino indonésio e meninas yazidis traumatizadas e escravizadas estavam entre os que fugiram dos confrontos nas últimas 48 horas. Eles deixaram a região em caravanas.

O número superou as estimativas iniciais e atrasou os planos da FDS de invadir a região ou forçar os combatentes a se renderem. À medida que os caminhões chegam, centenas de mulheres com véus cobrindo o rosto fazem fila para serem revistadas, receber pão e água e subir nos veículos com os filhos.

Elas foram levadas para os campos de refugiados no nordeste da Síria. 

Homens que chegaram nos campos de refugiados foram revistados, interrogados e obrigados a ajoelhar-se no chão. Alguns estavam com os pés amputados, outros usavam muletas.

Desde o início do avanço do Estado Islâmico na cidade de Kobani, na fronteira turca, no início de 2015, combatentes da FDS lutam no norte e no leste da Síria, sob ajuda da coalizão liderada pelos EUA.

Alguns homens disseram que não eram combatentes, mas administradores do Estado Islâmico, e que não participaram da violência. Outros disseram que acabaram trabalhando como motoristas de ônibus ou comerciantes para o EI.

"Nossas forças especiais investigam as identidades dos homens, no caso de terroristas infiltrarem-se como civis", disse um representante da FDS. Em Baghouz, o Exército sírio encontrou bombas, coletes suicidas e silenciadores de armas.

O Estado Islâmico atraiu pessoas de todo o mundo. Um menino indonésio de 11 anos disse que esteve na Síria por quatro anos, trazido por seus pais, para se juntar ao grupo terrorista. Eles viviam no Iraque e no leste da Síria e ele usou armas, afirmou o menino.

Na terça-feira (26), duas jovens garotas yazidi saíram de Baghouz em um caminhão com números de telefone escritos em seus braços. Elas foram capturadas por combatentes do Estado Islâmico na região de Sinjar, no Iraque, e mantidas em cativeiro. 

Mas muitos dos que fugiram de Baghouz ainda apoiam o grupo terrorista. Marwa, uma iraquiana de 19 anos, disse que veio para a Síria depois que seu pai foi preso e seu irmão foi morto em um ataque aéreo no Iraque.

"Eu sinto que estou em um sonho. Saí do Estado Islâmico e vim para cá, saí de um sonho", disse ela.

Umm Hisham, uma jovem de Aleppo, na Síria, disse que a situação em Baghouz era miserável. "Todo mundo está morrendo. Centenas de irmãs estão morrendo. As crianças morrem de fome", disse ela.

Seu marido, que é do Estado Islâmico, foi ferido e insistiu que ela deixasse a região com seus dois filhos pequenos.  "Eu não me arrependo de me juntar ao Estado Islâmico. Não, eu não me arrependo ... é a mesma morte se eu morrer aqui ou em Baghouz", disse ela.

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