Descrição de chapéu Venezuela

Com apagão na Venezuela, Roraima usa energia de termelétricas

Empresa brasileira afirma que parque térmico tem capacidade para abastecer estado por até oito dias

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João Paulo Pires
Boa Vista

O apagão que deixou a Venezuela no escuro desde quinta-feira (7) também afetou o fornecimento de energia elétrica ao estado brasileiro de Roraima, que teve de acionar termelétricas locais para garantir o abastecimento do Estado.

Segundo a Roraima Energia, às 10h22 de quinta, as cinco termelétricas foram ativadas em razão do desligamento do Linhão de Guri, considerada a terceira maior hidrelétrica do mundo.

Roraima é o único estado no país que depende da energia venezuelana e não faz parte do sistema interligado nacional (SIN).

Após a primeira interrupção, o fornecimento de energia a partir da Venezuela voltou a funcionar ainda pela manhã, mas às 16h53 ocorreu novo corte na interligação, e as termelétricas foram reativadas para atender 100% do consumo local.

Nesse período ocorreram oscilações de energia em Roraima. À noite, segundo a empresa, “foram realizadas novas tentativas de restabelecimento pela interligação Brasil-Venezuela, mas houve novo desligamento” e, desde as 20h24 de quinta, Roraima ficou sem receber energia venezuelana, dependendo exclusivamente das termelétricas.

“Até o momento não recebemos informação concreta das causas dos desligamentos na interligação, e o sistema continua sendo atendido 100% pelo parque termelétrico”, informou a Roraima Energia em comunicado na manhã desta sexta.

A empresa afirma que o parque térmico tem capacidade para abastecer o Estado por até oito dias, com consumo médio de 450 mil litros de diesel por dia.

Em meio ao apagão na Venezuela e o uso das térmicas locais, moradores relataram na quinta-feira oscilações de energia maiores que o habitual e até falhas nos sinais de telefone e internet.​

No entanto, empresas de telefonia procuradas pela Folha informaram que o problema de sinal não teve relação com o desligamento da energia venezuelana. O problema, segundo as empresas, ocorreu devido a uma falha no meio de transmissão que atende a região.

“Ontem ficamos o dia todo lidando com quedas de energia. Tivemos medo que os nossos equipamentos queimassem, mas isso não aconteceu, e hoje não ocorreram mais oscilações”, disse Rosemary Rodríguez, funcionária de uma padaria em Boa Vista. 

Ela disse que o comércio não teve perdas, mas teme que, a longo prazo, a instabilidade gere períodos mais longos sem energia, o que causaria prejuízos, como a perda de produtos perecíveis.

Procurado, o governo estadual disse não ter registrado nenhuma avaria de equipamento relacionada aos picos de energia elétrica ocorridos nesta quinta nas 31 unidades de saúde, entre hospitais de médio e grande porte, além de laboratórios e unidades ambulatoriais, todas equipadas com gerador de acionamento automático em caso de queda de energia.

As aulas da rede estadual, que foram adiadas por um mês, também não foram afetadas pela instabilidade energética.

O regime de Nicolás Maduro mantém a fronteira com o Brasil fechada há quinze dias. A medida foi tomada no dia 21 de fevereiro em retaliação à decisão do governo federal de enviar, em cooperação com os EUA, carregamentos de comida e medicamentos ao país vizinho.

Linhão de Guri

Sem integrar o sistema interligado nacional, Roraima depende em 50% do fornecimento da usina hidrelétrica de Guri.

O acordo de fornecimento de energia foi feito em 2001 pelos então presidentes Hugo Chávez e Fernando Henrique Cardoso, quando as usinas térmicas de Roraima já não eram suficientes para atender a toda população.

Com o passar dos anos e o agravamento da crise social e econômica na Venezuela, o fornecimento para o estado foi se tornando mais instável.

Só em 2018, Roraima registrou 85 apagões. Destes, 72 foram causados por falhas na Venezuela, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica, o que gerou um gasto de R$ 597 milhões divididos entre os consumidores de todo o país.

No dia 27 de fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro declarou o linhão de Tucuruí como obra de interesse nacional. O projeto visa criar uma linha de transmissão de Manaus a Boa Vista para colocar Roraima no SIN.

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