Manobra mantém militares no poder na Tailândia

Primeira eleição após golpe deve trazer pouca mudança no cenário político

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O general Prayut Chan, primeiro-ministro da Tailândia, vota em uma zona eleitoral da capital, Bangcoc - Rachen Sageamsak/Xinhua
São Paulo

Cinco anos depois de um golpe que instalou uma ditadura militar e oito depois do pleito anterior, a Tailândia votou neste domingo (24). O resultado foi o mesmo da eleição anterior, e a consequência será a mesma: ganhou, contados 93% dos votos, o ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, exilado desde 2008, mas os militares que o afastaram e tomaram o poder nele permanecerão.

A diferença, desta vez, é que não será preciso pôr tanques nas ruas: os militares, além de manipularem os distritos eleitorais, inventaram um Senado biônico de 250 integrantes, que votarão junto com os 500 deputados para escolher o primeiro-ministro.

O partido de fachada criado pelos militares (Palang Pracharath, ou Partido do Estado do Poder do Povo) ficou, sempre com 93% dos votos contados, com 117 deputados. Somados aos 250 senadores biônicos, chegarão ao quórum justo (367) para reconduzir o general Prayuth Chan Ocha à chefia do governo.

Em princípio, nem precisará do apoio de partidos menores, alguns dos quais sempre dispostos a aderir a quem tem poder. É sintomático que Abhisit Vejjajiva, líder do mais antigo partido tailandês (o Democrata), renunciou ao cargo neste mesmo domingo, mas anunciou que está pronto a participar de uma coalizão governista.

O partido do exilado Thaksin (Phuea Thai, ou Partido dos Tailandeses, terceira encarnação da corrente política do líder exilado) foi o mais votado (36,86% dos votos, o que corresponde a 129 deputados). Se não fosse a previsível fidelidade dos senadores biônicos aos militares, poderia até tentar montar uma coligação para governar.

Contaria, em tese, com uma crescente onda de rejeição ao governo militar, cuja expressão mais midiática é o partido Forward Future, liderado pelo carismático empresario Thanathorn Juangroongruangkit. Obteve mais de 5 milhões de votos (quase 8%) e 78 cadeiras no Parlamento, com uma campanha assentada na promessa de mudanças e retirada de privilégios aos militares, além de um uso intenso das redes sociais.

É a grande novidade do pleito, ao lado do Bhumjaithai (Partido do Orgulho Tailandês), com sua ousada proposta de legalização da maconha, além do apoio a iniciativas empresariais modernas, como Airbnb e Grab, uma espécie de Uber tailandês. Ficou com 49 cadeiras.

Parece evidente a razão principal pela qual os militares usaram o trambique dos senadores biônicos para se manter no poder: análise recente da firma de investimentos Credit Suisse mostra que a Tailândia era, em 2018, o país mais desigual do mundo. O 1% mais rico ficava com 67% da riqueza.

São 20 pontos percentuais mais do que a média da já iníqua distribuição global de renda, que a mesma análise situava em 47,2% para o 1% mais rico.

Mas, ao mesmo tempo, a Tailândia conhecia, nos 20 anos mais recentes, forte crescimento econômico: seu Produto Interno Bruto saltou de US$ 88,4 bilhões (R$ 345,2 bilhões) em 1990 para mais de U$ 455 bilhões (R$ 1,7 trilhão) em 2017, com base em uma economia focada na exportação.

O problema, diz Pasuk Phongpaichit da Universidade Chulalongkorn, é que essa riqueza vai predominantemente para os habitantes das cidades, deixando à margem os do campo e os do setor informal.

Tanto é assim que a mediana de riqueza por adulto é de apenas US$ 1.085 (R$ 4.237), menos da metade da média na região Ásia-Pacífico, sempre segundo o relatório do Credit Suisse.

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