Putin perde influência em eleição presidencial na Ucrânia

Não há candidato próximo do Kremlin com chance na votação deste domingo (31)

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Cartaz com imagem de Vladimir Putin, em protesto em Kiev, na Ucrânia
Cartaz com imagem de Vladimir Putin, em protesto em Kiev, na Ucrânia - Vasily Fedosenko - 28.mar.19/Reuters
São Paulo

O primeiro turno da eleição presidencial ucraniana, que será disputado neste domingo (31), não deverá apontar um vencedor imediato. Um perdedor, contudo, já está definido: o presidente russo, Vladimir Putin.

Obviamente, o relacionamento com a Rússia é ainda o principal tema para quem estiver à frente do governo em Kiev, mas a influência direta do Kremlin sobre o processo político em si é quase nula.

Diferentemente das eleições anteriores ao turbulento 2014, não há candidato próximo do Kremlin com chance. O nome mais perto disso, Iuri Boiko, não deve passar do quarto lugar.

A situação é decorrente das ações do próprio Putin, que acabaram por isolar grupos políticos pró-Rússia no país.

Há cinco anos, seu protegido na Presidência ucraniana, Viktor Ianukovitch, foi apeado do poder. Ato contínuo, Moscou anexou a península de maioria russa étnica da Crimeia e fomentou separatistas na região leste ucraniana.

Geopoliticamente, a Rússia não tolera a noção de que a Ucrânia faça parte das estruturas ocidentais militares (a Otan) e político-econômicas (União Europeia).

Ambas as ações foram condenadas no exterior, e no caso da insurreição que já matou 10 mil pessoas no leste o resultado não saiu bem como a Rússia desejava.

Seu objetivo inicial, o de evitar estabilidade política na Ucrânia e integração ao Ocidente, foi atingido. Mas a Rússia paga o preço de sanções ocidentais até hoje, e viu a oposição a si na Ucrânia se galvanizar.

Além disso, o separatismo acabou não atingindo grandes cidades fora da região do Donbass. Mesmo a relação de Moscou com os rebeldes é conflituosa, e não há hoje nem a perspectiva de que Putin de fato busque absorvê-los nem que Kiev consiga reintegrá-los ao país.

Os dois movimentos retiraram na prática cerca de 12% do eleitorado ucraniano, que só poderiam votar com um intrincado processo de registro separado, feito para não funcionar. Sobraram 34,5 milhões que estão aptos a ir às urnas neste domingo.

Mais importante, limitaram a cerca de 25% o potencial de voto de russos étnicos, segundo estimativas do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev.

Nas duas eleições anteriores a 2014, alternaram-se candidatos pró-Ocidente e pró-Moscou. Agora, os três candidatos disputando vaga no segundo turno podem ser considerados hostis a Putin.

O favorito para chegar na frente, segundo não exatamente muito confiáveis pesquisas de opinião, é o comediante Volodimir Zelenski, que vive numa série de TV um professor comum que vira presidente após ter um discurso anticorrupção viralizado na rede por seus alunos. 

Ele surfa uma onda semelhante à que levou populistas e “outsiders” ao poder do Brasil aos EUA, de rejeição à política tradicional.

Esta está representada pelos dois concorrentes pela vaga na rodada final, o presidente Petro Porochenko e a ex-primeira-ministra Iulia Timochenko.

Segundo a Folha ouviu de observadores da cena política local, Zelenski poderia se mostrar um nome mais palatável para o Kremlin por não ser muito convicto de suas credenciais pró-Ocidente.

Contra isso há a associação que é feita entre ele e o bilionário Ihor Kolomoiski, francamente hostil à Rússia.

Há também a aposta do cientista político russo Konstantin Frolov, de que a imprevisibilidade de Zelenski faz dos dois velhos adversários de Putin uma opção mais interessante para Moscou.

Porochenko é um rival mais duro do russo, mas usa a autonomia das chamadas repúblicas populares de Donetsk e Luhansk no leste pró-Moscou como peça de apoio retórico à sua Presidência.

Já Timochenko tem um histórico de relação ambígua com Putin, no período em que ela foi chefe de governo do país. Em 2009, assegurou um acordo energético com a Rússia benéfico à Ucrânia.

Discursos hostis não acabarão com o fato de que os rivais têm passado cultural e linguístico comum e muitos pontos de ligação.

Moscou deixa US$ 3 bilhões anuais nos cofres ucranianos para passar seu gás rumo à Europa. O problema para quem vencer a eleição é que isso irá acabar em 2020, com a abertura de um gasoduto alternativo pelo mar do Norte.

As minorias russas ainda são significativas no país (eram 17% antes de 2014; não há números novos) e há um dado curioso: os ucranianos gostam da Rússia. 

Segundo pesquisa do independente Centro Levada de Moscou, 57% dos ucranianos veem os vizinhos com bons olhos, contra 37% que os desaprovam. Na contramão, 55% dos russos veem os rivais de forma desfavorável, contra 34% que os aprovam.

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