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Após pedido de May para adiar o brexit, UE dá ultimato ao Reino Unido

Bloco diz que saída britânica só será remarcada se o Parlamento aprovar acordo de separação

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A primeira-ministra Theresa May durante os debates no Parlamento britânico nesta quarta (20)
A primeira-ministra Theresa May durante os debates no Parlamento britânico nesta quarta (20) - Mark Duffy/ UK Parliament/AFP
 
Londres

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse nesta quarta-feira (20) que os líderes do continente poderiam concordar com um adiamento do Dia D do brexit, ainda agendado para 29 de março. 

A declaração foi dada horas após Londres pedir um adiamento de três meses na data de saída da União Europeia, que passaria assim para o fim de junho.

Para que isso aconteça, porém, o Parlamento britânico precisaria aprovar o acordo que rege a separação do país do bloco, já rejeitado duas vezes.

A declaração do nº 1 do grupo que reúne presidentes e primeiros-ministros dos 28 países-membros da União Europeia veio na véspera da cúpula de chefes que, esperava-se até aqui, confirmaria a prorrogação (por alguns meses) da filiação do Reino Unido à UE.

Como previsto, a primeira-ministra britânica, Theresa May, escreveu nesta quarta para Tusk pedindo um tempo complementar para convencer seus conterrâneos a endossar os termos do divórcio.

A líder conservadora solicitou que a despedida fosse remarcada para 30 de junho, mas não fixou data para uma terceira votação do acordo no Legislativo –só afirmou que ela ocorreria “o mais rápido possível”.

Na segunda (18), o presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow, surpreendeu governo e parlamentares ao vetar a realização de uma nova consulta sem que o texto a ser apreciado tivesse sofrido mudanças substanciais.

Na carta a Tusk, May escreve que uma extensão maior do prazo para saída implicaria em participação britânica na eleição para o Parlamento Europeu, a ser realizada no fim de maio –a nova legislatura inicia seus trabalhos em 1º de julho. Para ela, tal cenário não corresponde a interesses de nenhuma das partes envolvidas no processo.

Reiterando essa convicção, May disse mais tarde no plenário do Parlamento londrino que, enquanto primeira-ministra, não se via adiando o brexit para além de 30 de junho. O que isso sinaliza é que ela pode renunciar, se a UE concordar com os três meses de salvo-conduto, mas o impasse não tiver se resolvido ao fim deles.

Em resposta à correspondência de Londres, Tusk estabeleceu a condição europeia para a concessão do período de graça, sem tecer comentários sobre a viabilidade da data estabelecida pela líder conservadora.

Mais cedo, entretanto, o presidente da Comissão Europeia (braço executivo da UE), Jean-Claude Juncker, havia dito que qualquer data após 23 de maio, quando começam as eleições europeias, poderia criar dificuldades institucionais e incerteza jurídica para o bloco.

​​Tusk deixou em aberto a possibilidade de convocar uma reunião extraordinária de líderes europeus na semana que vem, a depender da tramitação do acordo no Parlamento britânico.

“Ainda que a fadiga ligada à discussão do brexit seja cada vez mais visível e justificável, não podemos desistir de buscar, até o último segundo, uma solução positiva –é claro, sem reabrir o acordo [fechado em novembro de 2018]”, disse ele.

Diante do “rito” fixado pelo Conselho Europeu para aceitar o adiamento do brexit, os parlamentares britânicos serão confrontados nos próximos dias com uma escolha simples: aprovar o pacto de May ou conduzir o Reino Unido a um “divórcio litigioso” da UE, um adeus sem acordo no próximo dia 29 (o “no deal”).

Em discurso transmitido pela TV, a primeira-ministra pediu aos parlamentares que aprovem o acordo que ela negociou com Bruxelas. Segundo ela, se isso não acontecer, só há duas opções para o Legislativo decidir: sair sem acordo ou permanecer no bloco.    

Ela também descartou a possibilidade de pedir um adiamento maior do brexit e afirmou que participar das eleições europeias não faria sentido uma vez que a população britânica já decidiu que não quer fazer parte da UE.

Analistas dizem que a ruptura a seco, sem período de transição, teria impacto negativo nos dois lados, mas seria claramente mais deletéria para o britânico.

Em teoria, há maioria no Parlamento contra esse rompimento brusco –foi o que o plenário sinalizou na semana passada, depois de refutar pela segunda vez o acordo delineado por May.

Ninguém espera que os partidários do “brexit duro” mudem de opinião a essa altura. A questão é se o Partido Trabalhista, principal força de oposição, que defende uma relação mais próxima com a Europa do que a desenhada no acordo atual, vai terminar endossando a versão de May para evitar um “mal maior”.

Apesar de pequeno, o Partido Democrático Unionista (da Irlanda do Norte), peça-chave do bloco governista, também pode ajudar a fazer a balança pesar contra ou a favor da primeira-ministra.

Até aqui opositor ferrenho do pacto, talvez se veja constrangido a finalmente ratificá-lo, diante dos prognósticos tenebrosos para o território de 2 milhões de habitantes em caso de “no deal”.

Mas nenhum exame de consciência no Reino Unido terá valido se a UE não aprovar a prorrogação dias mais tarde –a decisão precisa ser unânime.

Na quarta, a França deu novos sinais de que fará jogo duro. O porta-voz do governo, Benjamin Griveaux, afirmou que May precisa explicar por quanto tempo e por que deseja permanecer no consórcio por mais tempo do que o previsto, além de oferecer garantias.

“Um adiamento [da saída britânica] não é algo certo nem automático”, enfatizou.

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