Atirador da Nova Zelândia se diz fascista e contrário a imigrantes em manifesto

Australiano era personal trainer e atendia crianças de graça; polícia prendeu quatro suspeitos

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Cena do vídeo do ataque mostra arma usada no ataque à mesquita na Nova Zelândia - Reprodução/Facebook/AFP
São Paulo e Christchurch (Nova Zelândia) | AFP e Reuters

O australiano Brenton Tarrant, 28, que realizou ataques a tiros em uma mesquita da Nova Zelândia nesta sexta-feira (15, noite de quinta no Brasil), trabalhou como personal trainer que atendia crianças de forma gratuita, segundo pessoas próximas a ele ouvidas pelo site australiano ABC.

Nos ataques, ao menos 49 pessoas morreram. A polícia prendeu quatro suspeitos, mas não confirmou se Tarrant é um dos detidos. O governo australiano disse que um cidadão de seu país foi preso na Nova Zelândia, por ter relação com o caso.

Tarrant transmitiu ao vivo, pelo Facebook, cenas de um ataque com armas a uma mesquita. Ele também publicou um manifesto de mais de 70 páginas em uma rede social, no qual se descreveu como "etnonacionalista e fascista".

O atirador disse ser "um homem branco comum, de uma família comum", que nasceu na Austrália em uma família trabalhadora e de baixa renda, além de ressaltar sua origem europeia. "As origens da minha língua são europeias, minha cultura, minhas crenças filosóficas, minha identidade é europeia e, mais importante, meu sangue é europeu", escreveu, apontando vir de uma linhagem de escoceses, irlandeses e ingleses.

No manifesto, conta que levou dois anos planejando o ataque, e que sua intenção é fazer com que menos pessoas queiram migrar para "terras europeias" e "mostrar aos invasores que nossas terras nunca serão as terras deles, enquanto um homem branco viver, e que eles nunca irão substituir nosso povo". Ele disse ainda que queria passar a mensagem de que não há lugar seguro no mundo.

O vídeo transmitido durante o ataque foi gravado com uma câmera presa no capacete. Nas imagens, o atirador invade a mesquita com uma arma de grosso calibre e atira contra as pessoas. Ele dá tiros pelas costas e também em vítimas que já estavam caídas no chão. As cenas também mostram disparos à queima-roupa.

A AFP estabeleceu a autenticidade do vídeo por meio de uma investigação digital, comparando as capturas de tela das imagens do atirador mostrando a mesquita com várias imagens da mesma área disponíveis na internet.

Testemunhas afirmaram que por volta das 13h40 de sexta (21h40 de quinta no horário de Brasília) um homem branco e loiro, vestido com trajes militares invadiu a mesquita Al Noor, no centro da cidade, e começou a atirar.  

Pessoas que estavam no local saíram correndo para escapar dos ataques, muitos descalços —é costume tirar os sapatos dentro da mesquita. Sexta-feira é um dia no qual os templos costumam estar mais cheios, por ser um dia especial de orações para os muçulmanos.

Brenton Tarrant, 28, deixou manifesto antes de assassinar pessoas na Nova Zelândia
Brenton Tarrant, 28, deixou manifesto antes de assassinar pessoas na Nova Zelândia - Reprodução

Personal trainer e viajante

Tarrant trabalhou em uma academia na cidade de Grafton, a 612 km de Sidney, na Austrália, entre 2009 e 2011. Segundo sua chefe à época, ele era um profissional dedicado, que levava os exercícios físicos muito a sério. Ele participava de um programa voluntário para treinar as crianças do bairro. 

Seu pai morreu aos 49 anos, vítima de câncer. Após a perda, ele partiu em uma viagem pelo mundo que durou sete anos.

A viagem pela Europa e pela Ásia foi paga com dinheiro que ele ganhou ao investir em moedas virtuais, chamadas de bitcoins. Pessoas próximas acreditam que sua radicalização tenha ocorrido durante esse período.

Em uma dessas viagens, ele chegou a Coreia do Norte. O australiano foi fotografado durante uma visita a um monumento do país.

No manifesto, Tarrant diz que escolheu ChristChurch como alvo há três meses. "Eu só vim para a Nova Zelândia para viver temporariamente enquanto eu planejava e treinava, mas logo vi que o país era um alvo", escreveu. 

Toque de recolher

Perto da meia-noite de sábado na Nova Zelândia (8h de sexta em Brasília), policiais protegiam mesquitas, hotéis e outros possíveis alvos na cidade. Todas as escolas de Christchurch fecharam as portas e toda a região central da cidade, de 404 mil habitantes, a terceira maior da Nova Zelândia, entrou em toque de recolher.

Casos semelhantes são pouco comuns no país. O último massacre a tiros que se tem registro na Nova Zelândia aconteceu em 1990, quando 13 pessoas foram mortas por um atirador, incluindo duas crianças. O ataque ocorreu após uma briga de vizinhos. 

Mesquitas se tornaram alvo de ataques em diversos países recentemente. Em junho de 2017, um homem foi morto e dez ficaram feridos quando uma van avançou sobre um grupo que estava em uma mesquita no norte de Londres. 

O manifesto do atirador cita Darren Osbourne, numa referência ao nome de um terrorista que atacou a mesquita em Londres e cumpre prisão perpétua, e também o assassino em massa norueguês Anders Behring Breivik, terrorista de extrema-direita que realizou ataques em 2011 que deixaram 77 mortos.

Na Nova Zelândia, a venda de armas é liberada para maiores de 16 anos e não há registro dos armamentos.

O número de mortos no massacre, 49, é maior do que a soma do total de assassinatos no país ao longo de um ano inteiro. Em 2017, houve 35 homicídios em toda a Nova Zelândia, que tem 4,7 milhões de pessoas. Neste século, o ano com mais assassinatos no país foi 2009, com 68 casos.

Como comparação, o Brasil teve 63.880 mortes violentas em 2017. O país tem 209 milhões de habitantes. 

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