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A desigualdade urbana na América Latina

Em poucos lugares do mundo é possível encontrar contrastes tão extremos como os das principais cidades da região

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David Castells-Quintana
Latino América 21

Um passeio por Bogotá pode levar o caminhante a passar por bairros dotados de casas e edifícios de alto luxo, parques e restaurantes de classe internacional, mas também a subúrbios com ruas sem pavimentação e construções precárias onde as pessoas vivem à beira da miséria.

Essa realidade não é exclusiva da capital da Colômbia, mas sim evidente para quase qualquer pessoa que tenha estudado um pouco praticamente qualquer uma das grandes cidades da América Latina. De fato, em poucos lugares do mundo é possível encontrar contrastes tão extremos como os encontrados nas principais cidades de nossa região. 

Mas, deixando de lado os passeios, o que dizem os dados sobre as diferenças que existem dentro das cidades latino-americanas?

Há décadas estamos mensurando as desigualdades em nível nacional. Os dados quanto a isso refletem o fato de que os países latino-americanos estão entre os mais desiguais do planeta. É evidente que essa desigualdade hoje tem um forte componente urbano, e por isso recentemente começamos a medir a desigualdade dentro das cidades. 

Analisando dados da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), pode-se apreciar como muitas das principais metrópoles latino-americanas apresentam desigualdades de renda muito elevadas, na maioria dos casos superiores à média nacional.

Por exemplo, enquanto a Colômbia apresenta um coeficiente Gini (uma medida de desigualdade em escala de 0 a 1) da ordem de 0,53, o que a torna um dos países mais desiguais do planeta, em Bogotá o Gini supera o 0,6. De maneira semelhante, enquanto a desigualdade nacional da Argentina gira em torno de 0,43, em Buenos Aires ela supera 0,5. (Para mais dados e análise melhor, ver o artigo publicado recentemente na revista acadêmica Journal of Regional and Urban Economics).

Os dados analisados também refletem que, quanto maior for a metrópole, maior tende a ser a desigualdade experimentada por seus habitantes. Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e a Cidade do México, as três com mais de 20 milhões de habitantes, são, por larga margem, os maiores aglomerados urbanos da América Latina.

As três apresentam índices Gini de distribuição de renda muito altos, em torno de 0,6. Já Montevidéu, com uma população de menos de dois milhões de habitantes, apresenta coeficiente Gini de penas 0,45, muito mais baixo que o da maioria das grandes metrópoles latino-americanas.

A desigualdade elevada dentro das cidades se traduz em grandes carências para boa parte dos moradores, em nossas cidades mais importantes. Por exemplo, na Colômbia até 15% dos moradores de áreas urbanas não têm acesso a serviços básicos de esgoto. Em diversos países da América Central, essa proporção sobe a 20%, e na Bolívia ela atinge os 40%.

Se considerarmos que as grandes áreas urbanas atuam como polo de atração, e por isso continuam a crescer de forma acelerada, cabe esperar que seus níveis de desigualdade continuem a aumentar, a menos que implementem ações decisivas para evitar que isso aconteça. A desigualdade vem sendo tradicionalmente um dos principais flagelos e causa de muitos outros males em nossa região. 

Hoje, o desafio da desigualdade tem principalmente uma dimensão urbana, que ameaça a viabilidade socioeconômica e política de nossas cidades e, por consequência, de nossas sociedades.
 


David Castells-Quintana é professor de economia na Universidade Autônoma de Barcelona, especializado em economia internacional, economia urbana e desenvolvimento econômico. Publicou recentemente "¿Qué Planeta Heredarán Nuestros Nietos?" [que planeta herdarão nossos netos].
 
www.facebook.com/Latinoamerica21
@latinoamerica21
 
Tradução de Paulo Migliacci

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