Presidente da Argélia anuncia renúncia após 20 anos no poder

Data de saída de Bouteflika ainda não foi divulgada; ele manterá cargo de ministro da Defesa

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Cairo | Reuters

O presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, renunciará antes que seu mandato termine, em 28 de abril, informou a agência de notícias estatal APS nesta segunda-feira (1º), cedendo a semanas de protestos em massa e pressão do exército para acabar com seu governo, que já dura 20 anos.

A data exata da saída de Bouteflika ainda não foi anunciada. Abdelkader Bensalah, presidente do Senado, assumirá o cargo de presidente interino por 90 dias, até que novas eleições sejam realizadas.

No domingo (31), Bouteflika nomeou uma espécie de governo de transição, composto por 27 ministros e encabeçado pelo primeiro-ministro Noureddine Bedoui. Ele manterá o chefe do exército, Ahmed Gaed Salah, no posto de ministro adjunto de Defesa mesmo após Salah ter declarado que o presidente não estava apto para o cargo. Bouteflika manterá o título de ministro da Defesa.

O governador do Banco Central, Mohamed Loukal, foi nomeado ministro das Finanças, enquanto o ex-chefe do serviço estatal de energia e gás, Mohamed Arkab, assumirá a pasta de Energia. A Argélia, membro da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), é um importante exportador de petróleo e gás natural.

Em foto de 1999, o então candidato Abdelaziz Bouteflika durante discurso Adrar
Em foto de 1999, o então candidato Abdelaziz Bouteflika durante discurso Adrar - Manoocher Deghati/AFP

Bouteflika, 82, raramente visto em público desde que sofreu um derrame em 2013, disse em meados de março que estava abandonando seu planos de concorrer à reeleição pela quinta vez. Ele também anunciou o adiamento das eleições presidenciais, inicialmente previstas para 18 de abril.

O anúncio da renúncia de Bouteflika chegou horas depois de o canal de TV Ennahar afirmar que a Argélia havia apreendido os passaportes de 12 empresários devido a alegações de corrupção, em um aparente ataque a associados do presidente. No domingo (31), autoridades prenderam Ali Haddad, empresário influente que fazia parte do círculo próximo do mandatário.

As manifestações contra o presidente vinham ocorrendo desde a segunda quinzena de fevereiro, e deixaram ao menos 183 feridos. O estopim foi o anúncio de Bouteflika de que concorreria a um quinto mandato presidencial.

Os opositores acusam seu governo de corrupção crônica e de falta de reformas econômicas para combater o alto índice de desemprego, que excede 25% entre pessoas com menos de 30 anos. Também rejeitam a tradição de intervenção militar em assuntos civis no país, e querem desmantelar a elite do poder.

O partido de Bouteflika, a Frente de Libertação Nacional, domina a política algeriana desde que o país se tornou independente da França, em 1962. Sua presidência foi saudada por reconciliar a Argélia, dividida após uma guerra civil nos anos 1990 cujo saldo foi de 200 mil mortos. Em 1991, um golpe militar cancelou as eleições daquele ano, vencidas pela Frente Islâmica de Salvação. Em seguida, os islâmicos pegaram em armas.

As manifestações de 2019 foram as maiores na região desde a Primavera Árabe, em 2011, que derrubou governos em vários países do Oriente Médio e do Norte da África, dentre os quais Líbia e Tunísia, vizinhos da Argélia. Na época, o governo de Bouteflika aumentou os investimentos sociais para evitar uma insurreição semelhante.

Milhares de manifestantes tomam as ruas de Alger, capital da Algéria, para pedir a renúncia do presidente Abdelaziz Bouteflika - Reuters
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