Descrição de chapéu The New York Times

Às vésperas das eleições, rede de perfis falsos difamam oponentes de Netanyahu

Primeiro-ministro de Israel pode perder cargo para candidato centrista após 10 anos no poder

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The New York Times

Uma organização israelense de fiscalização identificou uma rede de centenas de contas de mídia social, muitas das quais falsas, usadas para difamar os oponentes do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu na campanha para a eleição da semana que vem, e para reforçar a mensagem de seu partido, Likud, de acordo com um relatório que será publicado na segunda-feira (1).

As mensagens, postadas em contas do Twitter e Facebook associadas à rede, são frequentemente reproduzidas por dirigentes importantes da campanha do Likud e pelo filho do primeiro-ministro, Yair Netanyahu, o relatório afirma.

A organização de fiscalização, chamada Big Bots Project, é um grupo independente cujo objetivo é expor o uso nocivo de mídia social, e não encontrou elos diretos entre a rede e Netanyahu, seu partido ou seu filho, mas disse que as contas parecem operar de modo coordenado com o partido e com a direção da campanha pela reeleição de Netanyahu.

"A rede opera por meio de manipulações, difamação, mentiras e pela difusão de boatos", o relatório afirma. "Em seus dias de maior atividade, ela posta milhares de tuítes por dia."

A atividade da rede aumentou em quase 500% desde que a eleição foi convocada, em dezembro, afirma o relatório, acrescentando que ela "se mobiliza em momentos cruciais para Netanyahu, como o anúncio de um indiciamento contra ele".​

O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, durante encontro com a imprensa em sua casa em Jerusalém - AFP

O relatório afirma que a rede pode estar violando leis israelenses quanto a normas eleitorais, financiamento de campanhas políticas, privacidade e tributação.

Um porta-voz do Likud disse que este não operava uma rede de contas falsas. "Todas as atividades digitais do Likud são inteiramente autênticas e se baseiam no grande apoio dos cidadãos de Israel ao primeiro-ministro Netanyahu e às grandes realizações do Likud", disse o porta-voz, Jonathan Urich, no domingo.

Netanyahu, que está enfrentando um indiciamento por acusações de corrupção, está envolvido em uma disputa acirrada para o que espera venha a se tornar seu quarto mandato consecutivo como chefe de governo. Ele tem um rival forte em Benny Gantz, comandante reformado do exército, na eleição de 9 de abril.

De acordo com o relatório, 154 das contas da rede usam nomes falsos e outras 400 estão sob suspeita de serem falsas. As contas parecem ser operadas por pessoas, e não por robôs, o que torna sua detecção muito mais difícil, segundo o relatório. Os posts, todos em hebraico, receberam mais de 2,5 milhões de visitas, estimam os autores do relatório, em um país com 8,7 milhões de habitantes.

Os autores do relatório são Noam Rotem e Yuval Adam, fundadores do Big Bots Project. Eles contaram com a assistência da Aliança Israelense, uma organização de inclinações progressistas, e a investigação foi bancada pelo Drove, um site de "crowdfunding" israelense.

O The New York Times e o jornal israelense Yediot Ahronot receberam cópias do relatório antes da publicação.

Uma das contas leva o nome de "Moshe", e a bela foto usada no perfil na verdade retrata o modelo grego Theo Theodoridis. Moshe, cujos posts elogiam Netanyahu e criticam severamente os seus rivais, tuitou apenas 16 vezes nos três primeiros meses de 2018. Em contraste, nos três primeiros meses deste ano, com a campanha eleitoral em curso, ele postou 2.856 tuítes.

Os membros da rede parecem trabalhar em sincronia, afirma o relatório. Quando um postou um boato, falso, de que Gantz era estuprador, muitas das demais contas reproduziram a mensagem. Na quinta-feira (28), muitos dos integrantes da rede começaram a tuitar quase simultaneamente que Ganz era doente mental, ecoando um vídeo distribuído pelo comando da campanha do Likud.

Os dois principais rivais de Binyamin Netanyahu, os políticos da coalizão centrista Benny Ganz (à esquerda) e Yair Lapid (direita) - Jack GUEZ/AFP

Porque Gantz se tornou o principal rival de Netanyahu, a rede vem concentrando suas atenções nele. A atividade da rede muitas vezes atinge picos quando surgem eventos políticos importantes.

Na noite anterior ao anúncio do procurador geral da Justiça de que Netanyahu seria indiciado, a rede circulou um post de Facebook de uma mulher americana que acusava Gantz de assediá-la sexualmente quando os dois eram estudantes de segundo grau.

Gantz negou a acusação e não surgiu material que a sustentasse, mas as contas falsas a promoveram com tuites como "prisão para o estuprador Gantz" e "estuprador imundo escória".

Todas as contas da rede têm links para com uma pessoa real, Yitzhak Haddad, morador da cidade de Ashdod.

O relatório menciona um canal de YouTube do qual Haddad é frequentador ativo, no qual uma mensagem oferece dinheiro para pessoas que queiram trabalhar "respondendo no Facebook e na internet com mensagens políticas".

Não está claro se a mensagem está ligada à rede de contas falsas na mídia social ou se Haddad é o operador da rede.

Perguntado sobre a rede no domingo, Haddad respondeu que "é tudo mentira".

Ele se recusou a confirmar ou negar que é a pessoa por trás da conta no Twitter que porta sua foto e endereço de email, e a responder sobre suas conexões com o Likud, ou sobre seu relacionamento com o canal do YouTube que recruta trabalhadores para a campanha eleitoral.

Urich, o porta-voz do Likud, disse que não conhecia Haddad e que ele não era empregado do Likud e não tinha qualquer conexão com o partido.

As mensagens da rede foram encaminhadas a pessoas importantes na equipe de campanha do Likud. Yair Netanyahu, que serve como assessor extraoficial da campanha de seu pai, reproduziu mensagens de membros da rede 154 vezes, de acordo com o relatório. A rede respondeu suas mensagens e as marcou com "likes" em 1.481 ocasiões, e as compartilhou 429 vezes.

Yair Netanyahu não respondeu a um pedido de comentário.

Cartaz com os integrantes do partido Likud, de Binyamin Netanyahu - REUTERS

Tradução de Paulo Migliacci

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