Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Ativista liberal critica mistura de política e religião por Jair Bolsonaro

Escritora guatemalteca Gloria Álvarez propõe capitalizar a Previdência, cortar gastos e legalizar drogas e aborto

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A escritora e ativista liberal guatemalteca Gloria Álvarez queria ser candidata à Presidência de seu país na eleição em junho, mas esbarrou na Constituição: ela tem 34 anos, e a idade mínima para o cargo é 40 anos.

Lançou então uma candidatura “alternativa” nas redes sociais, em que propõe imposto único, redução do número de ministérios de 14 para 4, sistema de vouchers para educação e a capitalização da Previdência. Ela também defende a legalização das drogas, do aborto, da prostituição e da venda de órgãos.

A ativista liberal guatemalteca Gloria Álvarez - Karime Xavier/Folhapress

Filha de pai cubano exilado após a revolução comunista, Álvarez ficou conhecida em 2015, quando seu vídeo de uma palestra na Espanha atacando o populismo latino-americano se espalhou pela internet.

Veio ao Brasil para o lançamento de seu livro “O Embuste Populista” (editora LVM, 320 páginas, R$ 59,90) e eventos com grupos liberais.

Em conversa com a Folha, distribuiu petardos contra a direita, a esquerda, as feministas e a mistura de política e religião no governo do presidente Jair Bolsonaro

Candidatura 

 É uma candidatura libertária e inconstitucional [risos]. Proponho descentralização, “flat tax” [imposto único], redução de 14 para 4 ministérios, destinação de 50% do orçamento para segurança e justiça, vouchers para a educação e pensões individuais. 

E coloco dez pontos para que a população escolha cinco: legalização da maconha, da cocaína, do aborto e da prostituição, casamento de pessoas do mesmo sexo, adoção homoparental, permissão da eutanásia e da venda de órgãos, eliminação de voto em listas partidárias e fim do controle alfandegário.

Estado Mínimo

A população mais pobre da Guatemala está acostumada a que o Estado não exista. Se você vai a um hospital público, pode morrer, então recorre a organizações de caridade privadas. Assim, é mais fácil aceitarem o Estado mínimo do que é para argentinos ou espanhóis, por exemplo.

Direita

Ao governar, nos anos 1990, a direita não favoreceu o livre mercado. Houve privatizações e abertura, mas foram beneficiados os que estavam mais próximos dos presidentes. A direita é uma coisa em teoria e outra na prática. Na prática, sacrificaram a verdadeira liberdade econômica. Quando isso acontece, as pessoas se voltam ao socialismo. [Hugo] Chávez, [Evo] Morales surgem em reação a essa elite oligárquica protegida do livre mercado.
 

Bolsonaro

Não gosto de quem mescla religião com política. Para os políticos latino-americanos, nunca falta Deus no discurso. Espero que Bolsonaro não tenha medo de ser liberal. Muitas vezes candidatos são eleitos com discurso de baixar impostos, liberar o mercado e, no poder, se preocupam que os eleitores vão se incomodar. Concretamente, o que o governo já fez? O que já reduziu? 

Claro que os presidentes não são o mago Merlin, com uma varinha mágica. Mas no caso da Previdência, por exemplo, o que mudaria de verdade é a capitalização. Se conseguirem, ótimo. Senão, está colocando um curativozinho num câncer terminal. Eu tinha esperança de que [Maurício] Macri [presidente da Argentina] fizesse um contraponto à  esquerda na América Latina, mas isso não ocorreu, e esse posto está vago. Talvez Bolsonaro tenha aí um nicho de oportunidade.

Venezuela

O que se deve fazer é estrangular a ditadura diplomática e economicamente. Os países deveriam expulsar as embaixadas venezuelanas. E baixar decretos para que os venezuelanos possam trabalhar, num processo expresso de migração. E também deixar de comprar petróleo, porque uma ditadura aguenta enquanto tem dinheiro.

Populismo 

É como uma árvore cheia de maçãs. Cada populista arma seu combo, com suas próprias maçãs. Na árvore do populismo, há várias coisas que são chave. Uma é dividir a sociedade com ódio, seja entre ricos e pobres, ou militares e comunistas; outra é prometer coisas que não obedecem a nenhuma lógica econômica, como crescer 15% ao ano.

A maçã econômica é usada mais pelos populistas de esquerda; a direita usa a maçã do nacionalismo.

Feminismo

Eu me considero uma individualista. O feminismo é marxista. A ironia é que feministas dizem que não gostam do patriarcado, mas são súditas do pior pai, o papai governo.

A esquerda se reinventou, não fala mais de expropriações ou controle de preços, se disfarçou de ecologistas, defensores de direitos de gays, feministas. Quando sou insultada, acham normal, porque sou mulher, mas não sou mulher marxista. E apenas as mulheres marxistas merecem respeito.

Raio-x

Gloria Álvarez, 34
Autora do livro “O Embuste Populista”, é ligada ao centro de estudos Caminos de la Libertad (México). Graduada em ciência política e relações internacionais pela Universidade Francisco Marroquín (Guatemala), tem mestrado em desenvolvimento internacional pela Universidade Georgetown

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.