Canadenses celebram dia da maconha seis meses após legalização da droga

Em Vancouver, organizadores tiveram negociações e brigas públicas para realizar o evento

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Antes e depois do relógio bater 16h20, quando pessoas acenderam em conjunto seus cigarros de maconha no parque Sunset Beach, Vancouver, Canadá
Antes e depois do relógio bater 16h20, quando pessoas acenderam em conjunto seus cigarros de maconha no parque Sunset Beach, Vancouver, Canadá - Fernanda Ezabella/Folhapress
Vancouver

Exatamente às 16h20 de sábado (20), uma nuvem de fumaça branca tomou a multidão aglomerada no parque Sunset Beach, numa praia de Vancouver, no Canadá, para celebrar o primeiro evento anual da maconha após a legalização da droga no país, seis meses atrás

O horário é simbólico na cultura canábica desde os anos 1970, e a data 20 de abril (ou 4/20 no calendário norte-americano) virou dia internacional de protesto pela legalização da droga. Em Vancouver, os organizadores estimaram o público em 150 mil pessoas.

“Aproveitem, apenas US$ 15 [R$ 60]”, gritava uma mulher de grandes cílios postiços, vendendo saquinhos com 14 gramas de maconha solta (ou “buds”, flores secas). Ela era uma dos mais de 180 vendedores credenciados para evento gratuito 420 Vancouver, em sua 25ª edição. 

Dezenas de outros vendedores não credenciados também circulavam com seus produtos, numa feira montada na praia, atrás do palco usado para discursos e atrações musicais, como a banda californiana Cypress Hill. 

Pipoca, pirulitos, torta cheesecake, sais de banho e garrafas de vinho (não alcoólico) eram algumas das curiosidades feitas de cannabis à venda, ainda que comestíveis não tenham sido ainda regulamentados na legalização da droga feita em outubro. Muitos vendedores davam amostras de cookies e brownies para provar, enquanto outros davam cigarros de graça.

Pouco antes de bater 16h20, os organizadores jogaram do palco centenas de baseados para a plateia, que acendeu em conjunto, formando uma extensa neblina branca, em contraste com o céu azul. Após uma semana de dias nublados e chuva, Vancouver teve um sábado de sol, com temperatura amena de 13ºC. 

O cogumelo foi outra estrela do evento. As tendas mais populares eram as que comercializavam a droga alucinógena, tanto no formato de chocolates como secos. Pelas leis canadenses, é ilegal vender ou usar "cogumelos mágicos" sem licença ou prescrição médica.

“Temos cogumelos do México, Equador e Colorado”, explicava um vendedor com uma camiseta “Straight Out of Jamaica”. Ele vendia saquinhos com cogumelos secos por US$ 20 (R$ 78), além de cápsulas com sementes de maconha jamaicana.

Um canadense de 29 anos, que trabalha como garçom na cidade, circulava na multidão com uma placa de papelão anunciando chocolates alucinógenos por CA$ 10 (R$ 30). Ele contou ter feito mais de 600 com ajuda de dois amigos. 

Em 2018, no mesmo evento, vendeu mais de CA$ 6 mil (R$ 18 mil). “Neste ano, apesar de ter mais gente, tem muito mais concorrência de cogumelo. Não sei se vamos vender tudo”, comentou. “É ilegal, mas maconha também era. Nunca tivemos problema.”

Para um dos organizadores do evento, o ativista veterano Dana Larsen, “a luta pela legalização da cannabis faz parte de uma luta maior por todas as plantas medicinais, plantas sagradas de povos indígenas do mundo”, disse, incluindo folha de coca e peyote.

Além da pletora de drogas, havia comidinhas normais para os usuários. Mas era difícil saber o que tinha ou não THC e psilocibina, elementos psicoativos da maconha e do cogumelo. 

“Tem certeza que não vai dar barato?”, repetia o canadense Johnny Leung, 44, para uma vendedora de tortas de morango. Leung nunca havia usado drogas e queria continuar assim. “Queria muito ver o Cypress Hill”, disse. “Estou achando tudo legal, muito tranquilo.”

Os organizadores passaram os últimos meses em negociações e brigas públicas com o departamento de parques da cidade, que não deu permissão oficial. Mas outros órgãos colaboraram, e o evento também contratou empresas particulares de segurança e equipe médica, espalhada em quatro tendas.

Políticos e moradores reclamam que o evento não deveria mais existir já que a droga foi legalizada, enquanto ativistas acreditam que ainda há muito o que protestar. 

“As regras da legalização são desnecessariamente muito duras e punitivas”, diz o panfleto do evento, citando multas de CA$ 5 mil e três meses de cadeia se alguém vir na rua uma de suas plantas legais. “Ao longo dos anos, fizemos um bom progresso. Mas infelizmente os usuários ainda sofrem estigma e perseguição.”

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