Terceira maior democracia do mundo, com cerca de 193 milhões de eleitores aptos a votar, a Indonésia vai às urnas na quarta-feira (17).
A eleição tem números superlativos e é marcada por questões que estiveram presentes nos pleitos de Brasil, em 2018, e Índia, neste ano: descrença nos candidatos, disseminação de fake news e risco de alto índice de abstenção nas urnas.
Além de um novo presidente, também serão eleitos os membros da Assembleia Consultiva do Povo (DPR), órgão legislativo, e do Conselho Representativo Regional (DPD), uma espécie de Senado enfraquecido, sem o poder de editar leis nem de vetá-las. Por fim, os indonésios votarão nos legisladores locais das 34 províncias do arquipélago.
Serão as primeiras eleições em que o presidente, o vice e os membros do DPR serão escolhidos no mesmo dia. Em função da logística da contagem de milhões de votos em papel, o resultado oficial levará semanas para ser divulgado.
O pleito será decidido entre concorrentes de perfis antagônicos, que se enfrentam nas urnas pela segunda vez seguida.
O favorito é o atual mandatário, Joko Widodo, 57. Ex-marceneiro e fã de heavy metal, Jokowi, como é chamado, era visto como “homem do povo” quando se elegeu, em 2014, e com esperança devido ao discurso anticorrupção e pró investimento estrangeiro.
Ele, no entanto, recebe críticas por não ter promovido as mudanças que prometeu.
Na economia, o crescimento do país está em 5% anuais, um pouco aquém dos esperados 6%, e a desigualdade social continua expressiva.
A dívida externa aumentou 48%, resultado do investimentos de US$ 300 bilhões em projetos de infraestrutura para conectar as 17 mil ilhas indonésias, segundo a agência Bloomberg. O gasto na área, por outro lado, agrada tanto a cidadãos quanto a negócios.
Seu principal concorrente, cerca de 20 pontos percentuais atrás nas pesquisas de intenção de voto, é o militar da reserva Prabowo Subianto, 67.
De perfil estatizante na economia e apoiado por grupos islâmicos conservadores, o general amante de cavalos foi acusado de envolvimento no desaparecimento de 13 militantes pró-democracia no final da década de 1990, quando comandava o Exército do país.
Por isso, seu perfil é associado ao regime militar de Suharto que durou mais de 30 anos —o fato de ter criado uma conta no Instagram para seu gato Bobby não parece ajudá-lo na tentativa de suavizar sua imagem. Não bastasse, Subianto é ex-genro do ditador Suharto.
O cenário é de descrédito, diz Colin Brown, do Instituto Asiático da Universidade Griffith, na Austrália, e autor de livros sobre o país. “A questão talvez não seja quem é o melhor, mas sim quem é o menos pior.”
O descrédito com os candidatos, sobretudo junto aos jovens —45% dos eleitores têm entre 17 e 36 anos—, revela-se em um índice de comparecimento às urnas de 69% nas últimas eleições. Em 2009, esse dado foi de 78%. O voto no país não é obrigatório.
Outro ponto de preocupação para analistas é a disseminação de notícias falsas via redes sociais. A Indonésia é o quarto país em número de usuários do Facebook, atrás de Índia, EUA e Brasil.
A variedade de notícias falsas vão desde a participação de Jokowi em um comício comunista em 1955 —ele nasceu seis anos mais tarde—até a insinuação de que o atual presidente não seria um muçulmano verdadeiro, e sim um chinês que entrou no país e assumiu a identidade local.
Diante do cenário, o governo criou um gabinete que se reúne semanalmente para debater o assunto, conta Fausto Godoy, coordenador do Núcleo de Estudos Asiáticos da ESPM e diplomata.
Maior nação muçulmana do mundo (90% da população), a Indonésia também viu o papel do islã se tornar foco do processo eleitoral. Influenciado pelas tensões relacionadas à condenação do cristão de origem chinesa Basuki “Ahok” Tjahaja Purnama, ex-governador de Jacarta, por blasfêmia contra o islã, Jokowi escolheu como vice Ma’ruf Amin, 75, presidente do principal órgão clerical islâmico no país. A escolha foi criticada por grupos de direitos humanos porque Ma’ruf defende a proibição da homossexualidade, entre outros pontos.
Este é o quinto pleito após a queda de Suharto, em 1998. A ditadura, apoiada pelos EUA, foi marcada pelo massacre de ao menos 300 mil opositores e censura à imprensa. Ao mesmo tempo, o regime promoveu o crescimento econômico do país a uma taxa anual de 7%.
Embora considere o país uma “democracia vibrante, Godoy pondera que a Indonésia precisa melhorar em termos de tolerância religiosa, pois “os traumas da ditadura persistem na memória nacional”.
Candidatos à Presidência
Joko Widodo, 57
Nascido em uma favela de Surakarta, onde foi prefeito, é criticado pelo crescimento econômico aquém do esperado
Prabowo Subianto, 67
Promete uma política econômica nacionalista, com menor dependência da China e aumento das exportações
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