Presidente do Equador diz que Assange tentou montar centro de espionagem em embaixada

Fundador do WikiLeaks foi preso após país sul-americano retirar o asilo que havia lhe concedido

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O presidente do Equador, Lenín Moreno, fala sobre Assange em evento em Latacunga, Equador - Pablo Cozzaglio - 11.abr.2019/AFP
Londres | AFP e Reuters

Julian Assange tentou criar um "centro de espionagem" na Embaixada do Equador em Londres, afirmou neste domingo (14) o presidente equatoriano, Lenín Moreno, justificando sua decisão de retirar o asilo do fundador do WikiLeaks, preso na quinta-feira (11).

Moreno, no poder desde 2017, lamentou em entrevista concedida ao jornal britânico The Guardian que o governo anterior tenha oferecido na embaixada equipamentos que permitiram a Assange "interferir nos assuntos de outros Estados".

"Não podemos permitir em nossa casa, a casa que abriu suas portas, nos tornarmos um centro de espionagem", declarou Moreno. "Essa atividade viola as condições de asilo", acrescentou, assegurando que a decisão de retirar o asilo de Assange "não é arbitrária, mas se baseia no direito internacional".

O presidente equatoriano denunciou também a atitude "absolutamente repreensível e escandalosa" de Assange na embaixada e seu "comportamento inapropriado em matéria de higiene". Ele teria sujado as paredes com suas fezes, segundo o governo do Equador.

Entrevistada pela Sky News na manhã deste domingo, a advogada de Assange, Jennifer Robinson, negou essas acusações, que classificou de "escandalosas".

Robinson afirmou que o fundador do WikiLeaks está disposto a cooperar com as autoridades suecas caso decidam reabrir o processo de estupro contra ele, mas que sua prioridade continua sendo evitar a extradição para os Estados Unidos.

"Estamos absolutamente felizes de responder a estas perguntas se e quando forem apresentadas", declarou Jennifer Robinson ao canal Sky News.

"A questão chave no momento é [o pedido de] extradição dos Estados Unidos", completou.

Assange foi detido na quinta-feira na Embaixada do Equador em Londres, onde havia obtido asilo há sete anos para escapar de uma ordem de detenção britânica por acusações de estupro e agressão sexual na Suécia —ele nega ter cometido os crimes.

A denúncia por agressão sexual prescreveu em 2015. A justiça da Suécia arquivou as acusações no segundo caso em maio de 2017, por falta de condições para ouvir Assange. 

Mas, com o anúncio de sua detenção, a advogada da denunciante pediu a reabertura da investigação.

O australiano de 47 anos foi detido também devido a um pedido de extradição dos Estados Unidos, onde a justiça o acusa de ter ajudado a ex-analista de inteligência Chelsea Manning a obter uma senha de acesso a milhares de documentos sigilosos.

Este pedido será analisado pela Justiça britânica em 2 de maio.

Se a Suécia solicitar a extradição, "pediremos as mesmas garantias que já formulamos, que [Assange] não seja enviado aos Estados Unidos", declarou Robinson.

A advogada explicou que seu cliente buscou refúgio na Embaixada do Equador ante a falta de tais garantias.

Visita de deputados

Mais de 70 parlamentares britânicos assinaram uma carta enviada ao Ministério do Interior na qual pedem prioridade a uma possível ordem de extradição sueca.

"Julian nunca se preocupou em enfrentar a justiça britânica ou a justiça sueca", disse Robinson. "Este caso é e sempre foi sobre sua preocupação de ser enviado para a injustiça americana", completou.

O presidente equatoriano declarou ao Guardian ter recebido "garantias escritas" de Londres de que Assange não será extraditado a um país em que ele possa ser vítima de tortura, de maus tratos ou condenado à pena de morte.

Segundo o WikiLeaks, a cônsul australiana visitará na segunda-feira (15) o embaixador do Equador em Londres, Jaime Marchán.

A eurodeputada espanhola Ana Miranda (do grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia) e dois deputados alemães do partido de esquerda Die Linke, Heike Hansel e Sevim Dagdelen, chegarão a Londres nesta segunda-feira (15), para tratar do caso de Assange.

 
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