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Projeto de filantropia do TED arrecada mais de R$ 2,6 bilhões em um ano

Iniciativas para educar garotas na Índia e preservar oceanos estão entre as selecionadas

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homem e mulher falam no palco da conferência TED
O apresentador Chris Anderson e Anna Verghese falam durante a conferência TED 2019 - Bret Hartman/TED
Vancouver

A inglesa Anna Verghese tem em suas mãos alguns dos maiores problemas da humanidade. Mas aparentemente ela conhece um pessoal com potencial de resolvê-los: empreendedores sociais com ideias visionárias.

Seu trabalho é apenas conseguir conectá-los com os doadores mais generosos e ricos do planeta.

Verghese, diretora-executiva do Projeto Audacioso, admite que a missão é um tanto estressante, embora não impossível. Em um ano, ela e sua equipe de dez pessoas levantaram mais de US$ 680 milhões (cerca de R$ 2,67 bilhões) em doações para ajudar 16 projetos sem fins lucrativos, voltados para temas como preservação dos oceanos, educação de garotas na Índia e pornografia infantil online.

“A mágica é inspirar e convencer”, disse Verghese à Folha, um dia após anunciar os oito projetos escolhidos da edição 2019.

“Você precisa mostrar aos doadores que existe um líder com uma grande solução e com um plano de ação convincente.”

Antes de sair atrás dos doadores, é preciso convencer o time do Projeto Audacioso, lançado em 2018 como o braço filantrópico do TED, a organização responsável pelos populares “TED Talks”.

As palestras sobre tecnologia, entretenimento e design acontecem uma vez por ano, durante uma semana em Vancouver. Seu logo é “ideias que valem a pena espalhar”.

Após o lançamento no TED 2018, o Projeto Audacioso recebeu inscrições de 1.500 iniciativas, das quais saíram as oito selecionadas da edição 2019, como a da ONG Nature Conservancy, que quer proteger quatro milhões de quilômetros quadrados de oceano nos próximos cinco anos.

A proposta é comprar a dívida de 20 ilhas e nações costeiras em troca do compromisso dos governos de que usarão o dinheiro para proteger pelo menos 30% de suas áreas marinhas.

Outro escolhido foi o projeto da ONG Educate Girls, que planeja levar um milhão de garotas para as salas de aula por meio de parcerias com 35 mil voluntários em vilarejos da Índia.

​E há também a iniciativa Thorn, que quer eliminar da internet material de abuso sexual infantil ajudando ativistas e policiais com as mais avançadas tecnologias.

“Passamos meses conhecendo esses empreendedores e suas ideias. No final, eles se tornam parte de nossa família. Você realmente quer ajudá-los e dar o seu melhor para conseguir esse dinheiro. É uma responsabilidade intensa”, diz Verghese, que nasceu na Inglaterra e hoje mora em Nova York.

“Metade do meu trabalho é administrar emoções, tanto dos empreendedores como da nossa equipe que realmente quer ver esses projetos darem certo.”

A ideia do Projeto Audacioso é criar uma plataforma financeira, como existe no setor privado, para que empreendedores sociais não precisem gastar entre 70% e 80% do seu tempo tentando levantar fundos em inúmeras reuniões individuais.

O processo de seleção durou mais de seis meses e contou com a ajuda do grupo global Bridgespan.

Os oito projetos foram analisados e aprovados por especialistas independentes e ganharam até uma proposta de investimento, que foi então apresentada a possíveis doadores. Quem mostrava interesse era convidado para eventos onde os projetos eram apresentados.

“Depois que você faz o trabalho pesado, tem que deixar as ideias atraírem interesse e paixão. De alguma forma, as pessoas aparecem”, diz  Verghese, filha de uma indiana e um malaio

“Você precisa também estar pronto para arriscar, da mesma maneira como acontece no setor privado. Nem tudo precisa estar resolvido.”

Entre os projetos mais ambiciosos e futurísticos estava o do Institute for Protein Design, que quer criar novas proteínas para uma nova geração de remédios, vacinas e combustíveis, e do The Salk Institute for Biological Studies, que propõe fazer plantas mais poderosas para capturar e armazenar carbono em suas raízes, graças a uma molécula chamada suberina.

Mais de 30 pessoas doaram dinheiro para os selecionados de 2019, incluindo Laurene Powell Jobs, que trabalha com diversos projetos sem fins lucrativos e é viúva de Steve Jobs —lembrado por ter se recusado a fazer doações.

Após anunciar os oito novos projetos e as contribuições iniciais de US$ 280 milhões (R$ 1,1 bilhão), na terça-feira (16), Verghese e Chris Anderson, organizador do TED, pediram aos presentes mais doações.

É o local ideal, já que para participar do evento é preciso pagar ingressos de até US$ 25 mil (cerca de R$ 100 mil).

“No mundo da filantropia de hoje, há muita tensão em torno do motivo pelo qual os ricos não estão doando. Então penso que é um bom casamento: os doadores que têm os meios de darem mais no pontapé inicial e, agora, o público, pessoas como eu e você, que podem contribuir com uns US$ 20 (cerca de R$ 80).”

Verghese é formada em artes e trabalhou com a jornalista Christiane Amanpour até se envolver com o TED, há 11 anos. Ela foi trabalhar justamente na equipe do TED Prize, uma premiação criada em 2005 para a realização de um “sonho para mudar o mundo”.

O primeiro que ela ajudou a concretizar foi do venezuelano José Antonio Abreu, que queria expandir nos EUA seu programa educacional El Sistema, voltado ao ensino de instrumentos musicais para jovens.

O prêmio de US$ 100 mil, dado pela própria organização, subiu para US$ 1 milhão em 2012, até ser substituído pelo Projeto Audacioso. “A gente escuta tantas ideias incríveis no TED, e sempre houve na comunidade um desejo de ação, de ajudar. Essa foi a inspiração inicial, mas os sonhos foram ficando cada vez maiores.”

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