Descrição de chapéu Governo Trump

Após Trump anunciar taxação de produtos, presidente mexicano pede diálogo

Republicano ameaça tarifar bens do México caso o país não detenha fluxo de imigrantes ilegais

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Cidade do México e São Paulo | AFP e Reuters

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador (AMLO), enviou na quinta-feira (30) à noite uma carta a Donald Trump, na qual pede diálogo ao americano e diz que "não quer confronto" com os Estados Unidos.

A missiva veio horas após Washington anunciar a adoção de tarifas sobre produtos mexicanos a partir de 10 de junho caso o país não freie o fluxo de imigrantes ilegais que entram nos EUA pela fronteira sul, a partir do México —o número vem aumentando.

"Presidente Trump: os problemas sociais não se resolvem com impostos ou medidas coercitivas. Expresso que não quero confronto, e proponho aprofundar o diálogo, buscar alternativas ao problema migratório", escreve na carta. 

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador - Edgard Garrido/Reuters

O esquerdista AMLO também anunciou que uma delegação mexicana encabeçada pelo chanceler Marcelo Ebrard viajaria aos Estados Unidos nesta sexta (31) para conversar sobre "um acordo em benefício das duas nações". Ebrard disse no Twitter que o tratamento dos EUA é "injusto" e que as tarifas "não têm sentido econômico para ninguém."

Na carta, o mandatário mexicano diz ainda que está ajudando os países da América Central, a principal origem de imigrantes ilegais para os EUA, na criação de empregos. Acrescenta que, "em pouco tempo, os mexicanos não terão necessidade de pedir socorro aos Estados Unidos, e a migração será opcional, não forçada". 

Ele explica que o país está combatendo a corrupção e que se transformará em uma "potência com dimensão social". 

O México é a principal rota para imigrantes ilegais da América Central que, fugindo da violência em seus países de origem, pretendem alcançar os Estados Unidos. Os números vêm crescendo, como mostram informações divulgadas recentemente pelos governos dos dois países.

A quantidade de imigrantes sem documentação entrando nos Estados Unidos pela fronteira com o México bateu recordes neste ano: mais de 58 mil em janeiro, 76 mil em fevereiro e 103 mil em março, segundo cifras da Agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras americana (CBP). São os maiores índices desde 2014. 

Pelo lado mexicano, AMLO, que assumiu em dezembro do ano passado, detém e deporta menos imigrantes da América Central do que a administração de seu antecessor, Enrique Peña Neto.

Nos três primeiros meses de 2019, foram detidos 31.675 ilegais pelas autoridades migratórias mexicanas, segundo dados divulgados pela Secretaria de Governo do país. No mesmo período do ano passado, o número foi de 33.881.

Foram deportados entre janeiro e março deste ano um total de 22.614 ilegais —sendo a quase totalidade oriunda da América Central—, enquanto no ano passado o número foi de 28.331, a grande maioria hondurenhos e guatemaltecos.

Caso a taxação de 5% a todos os bens mexicanos seja de fato adotada pelos EUA, a economia do país latino vai sofrer, uma vez que 80% de sua produção é exportada para seu vizinho do norte, de abacates e tequila a carros e televisões. 

As tarifas seriam aumentadas em 5% a cada mês, podendo chegar a 25% em outubro, disse Trump.

A reação ao anúncio de Trump foi negativa, mesmo entre membros do Partido Republicano. O senador Chuck Grassley, presidente do Comitê Financeiro, órgão que tem a mais poderosa jurisdição sobre o comércio do país, disse que apoia "quase todas as políticas imigratórias de Trump, mas não esta". E completou: "Política comercial e segurança na fronteira são assuntos separados. Eu insisto que o presidente considere outras opções", afirmou.

A Câmara de Comércio americana está procurando meios legais de barrar a possível implantação das taxas. Outros grupos de empresários também criticaram Trump, dizendo que a medida seria prejudicial para negócios, fazendeiros e consumidores dos EUA, que já têm de lidar com a atual guerra comercial com a China. 

Montadoras de automóveis expressaram preocupação de que uma guerra tarifária minaria os esforços do presidente em aprovar no Congresso um novo acordo comercial com o Canadá e o México, que substituiria o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). A renegociação do tratado foi uma das suas principais promessas de campanha. ​

Em abril, Trump não levou a cabo a ameaça de fechar a fronteira sul do país com o México, diante da pressão de companhias preocupadas com o caos que a medida causaria nos negócios. 

Nesta sexta (31), em entrevista para jornalistas, AMLO pediu ao povo mexicano que tenha fé e disse que o país irá superar a atitude dos Estados Unidos, além de afirmar crer que Donald Trump faria "retificações" em seu anúncio. 

Em quase seis meses no poder, AMLO procurou manter a política da boa vizinhança e evitar confrontos com o presidente americano. 

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