Um curioso fenômeno marca a disputa pelas 74 vagas da França no Parlamento Europeu, que chega a seu clímax neste domingo (26).
Trata-se da multiplicação dos “clones” do presidente Emmanuel Macron —ou, vá lá, do que ele representava em 2017, ao ser eleito: uma combinação de juventude, fotogenia e promessa de renovação dos códigos da política.
Espalhados pelo espectro partidário, os Macrons genéricos tentam reproduzir a alquimia que, em nove meses, levou um obstinado ministro da Economia de menos de 40 anos ao Palácio do Eliseu.
Do “laboratório” saiu, por exemplo, o professor de filosofia François-Xavier Bellamy, 33, cabeça de chapa de Os Republicanos, partido mais tradicional da direita francesa.
Da mesma cepa são o ensaísta Raphaël Glucksmann, 39, que já flertou com o conservadorismo, mas lidera uma coligação entre o seu Praça Pública e o combalido Partido Socialista (PS), quinto na presidencial de 2017; ou ainda o prefeito-adjunto de Paris, Ian Brossat, 39, chefe de fileira comunista.
Pela esquerda radical (França Insubmissa) concorre a ativista Manon Aubry, 29, ligada à ONG Oxfam. Por fim, há o quase pós-adolescente Jordan Bardella, 23, pinçado das “divisões de base” da Reunião Nacional, partido de ultradireita derrotado no segundo turno por Macron há dois anos.
Para enfrentar o batalhão de clones, Macron e sua República em Marcha (REM) escalaram a diplomata de carreira Nathalie Loiseau, 54, até há pouco ministra para Assuntos Europeus e de competência reconhecida. A campanha mostrou, porém, que falta à candidata traquejo eleitoral.
Primeiro, ela se enrolou sobre a adesão a uma organização estudantil de tendência ultradireitista, há décadas. Chegou a negar a filiação antes de reconhecê-la, minimizando-a.
Os deslizes podem ter contribuído para a estagnação governista nas pesquisas. Na última, divulgada na sexta (24), a REM surge com 23%, atrás dos 25% da Reunião Nacional (em trajetória ascendente). O mano a mano reedita o segundo turno de 2017, entre Macron e Marine Le Pen.
No pelotão intermediário, Os Republicanos surgem com 13%, e a esquerda paga pela pulverização, tanto no extremo (na luta entre França Insubmissa e comunistas, o placar é de 7,5% a 2,5%) quanto na ala moderada. O PS tem 5,5% das preferências e corre o risco de ficar fora do Parlamento Europeu —o piso é de 5%.
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