Descrição de chapéu Venezuela

Venezuelanos aproveitam reabertura de fronteira para comprar gasolina no Brasil

Antes, brasileiros cruzavam para o país vizinho em busca de combustível barato

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João Paulo Pires
São Paulo

A reabertura da fronteira da Venezuela com o Brasil na última semana intensificou o fluxo de venezuelanos que vêm fazer compras e abastecer em Pacaraima (RR).

As vendas de itens de cesta básica e materiais de construção foram aquecidas com a presença dos venezuelanos, segundo o representante da associação comercial e empresarial de Pacaraima, João Kléber Soares. 

“Já nos primeiros 15 dias de fronteira fechada o comércio aqui despencou. Houve demissões, e alguns comércios fecharam as portas, tiraram férias”, disse.

Movimento na fronteira entre Brasil e Venezuela, em Pacaraima (Roraima) - Antonello Veneri - 10.mai.2019/AFP

Segundo Soares, a média de compradores em Pacaraima antes do fechamento flutuava entre 800 a 1.200 diariamente —a cidade tem 15 mil habitantes. Nos meses de bloqueio, o número caiu para entre 400 e 650 pessoas. 

“Como temos muitos atacadistas, e agora eles [venezuelanos] podem vir de carro, essa quantidade está voltando a ser como era”, disse.

O soldador Elwin Delgado, 32, viaja semanalmente a Pacaraima para fazer compras. Além de arroz, feijão, leite, farinha, óleo e itens de limpeza, ele e o irmão mais novo, Erismar, 28, aproveitam para levar medicamentos básicos como aspirina e ibuprofeno, que dividem com a mãe, que está doente, e outros cinco irmãos.

Parte do que ele compra na fronteira é revendida para comércios, vizinhos e amigos em San Félix de Guayana, no estado Bolívar, onde mora. Ele começou a trabalhar como atravessador de mercadorias em 2017, quando perdeu o emprego em uma siderúrgica.

“Lá [na Venezuela] você não encontra nada. Não tem comida nem remédio, todos estão doentes e passando fome. A solução é vir comprar aqui no Brasil e levar, mesmo pagando mais caro”, afirmou.

O fechamento da fronteira pelo governo venezuelano não impediu o trabalho informal dos dois. Segundo Delgado, ele e o irmão chegaram a caminhar cerca de 12 km sob sol escaldante em trilhas no território vizinho, algumas vezes entrando em comunidades indígenas pemón para evitar guardas nacionais bolivarianos que pedem subornos em dinheiro ou mercadorias como “pedágio”.

Com a fronteira aberta, eles agora voltam à rotina anterior ao fechamento: transportam a mercadoria em táxis de cooperativa até a rodoviária de Santa Elena de Uairén —primeira cidade venezuelana após a fronteira— e a embarcam no primeiro ônibus até San Félix, distante cerca de 600 km da linha.

Desde sexta (10), venezuelanos vêm cruzando a fronteira para abastecer no único posto de combustíveis de Pacaraima, aberto há dois meses.

O frentista João Paulo Queiroz disse que desde a reabertura 8 em cada 10 clientes são do país vizinho, dispostos a pagar R$ 4,95 pelo litro da gasolina e R$ 4,25 pelo diesel. 

“Eles vêm, enchem o tanque e levam para o outro lado. A maioria vem de Santa Elena, mas tenho atendido muito garimpeiro de lá que leva uns dois galões a mais”, disse.

Antes, o fluxo acontecia no sentido contrário: brasileiros formavam filas quilométricas para abastecer os veículos em um posto gerenciado pelo governo venezuelano localizado próximo à linha de fronteira, a um preço mais barato que o vendido em Roraima.

A professora venezuelana Yurisbeth González, 43, é uma das clientes do posto brasileiro. Moradora de Santa Elena, ela relatou que há pelo menos cinco dias não há combustível em todo o estado Bolívar, que faz fronteira com o Brasil.

“Ninguém sabe o que houve, mas está faltando combustível em várias partes do país há quase uma semana. Só dizem que não tem estoque. Aqui na fronteira estamos numa situação relativamente confortável porque podemos vir para o Brasil e comprar, mas quem está mais para dentro do país está vivendo um caos”, afirmou.

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