A calma retornou nesta segunda-feira (6) à faixa de Gaza após um cessar-fogo anunciado pelos palestinos, depois da pior escalada de violência com Israel desde novembro, mas sem solução de longo prazo ao conflito.
Os palestinos aceitaram um cessar-fogo que entrou em vigor antes do amanhecer, neste início do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos, informaram três autoridades palestinas e egípcia, sob condição de anonimato.
Israel não confirmou a trégua. Mas, após dois dias de uma escalada que matou 27 civis e combatentes na Faixa de Gaza e 4 civis em Israel, os disparos de foguetes a partir do enclave palestino e as represálias israelenses pararam, efetivamente, na hora combinada para o começo do cessar-fogo, constatou um jornalista da agência de notícias AFP em Gaza.
Em um sinal de apaziguamento, o Exército israelense anunciou o levantamento de todas as restrições impostas às populações civis israelenses vizinhas de Gaza.
O Egito, tradicional mediador do conflito, preparou um acordo para cessar as hostilidades a partir das 4h30 (22h30 de domingo no horário de Brasília), segundo informou um membro do movimento islamita Hamas, que controla Gaza, e um outro responsável da Jihad Islâmica, segunda força no enclave.
Uma autoridade egípcia confirmou a conclusão de um acordo.
O enclave palestino e as cidades israelenses vizinhas foram palco nos últimos dois dias da mais severa escalada de violência desde novembro de 2018, quando lançamentos de foguetes dos dois lados deixaram 8 pessoas mortas e ao menos outras 70 feridas.
O acordo alcançado durante a noite, como os precedentes concluídos após episódios de violência, visa uma flexibilização no bloqueio imposto por Israel à Gaza, segundo o membro da Jihad Islâmica.
Ele prevê medidas que incluem a extensão das zonas de pesca para os palestinos no Mediterrâneo, bem como melhorias no fornecimento de eletricidade e combustível, preocupações primordiais no enclave onde vivem dois milhões de habitantes.
Cerca de 690 foguetes foram disparados desde sábado a partir de Gaza. Destes, mais de 500 atingiram o território israelense, incluindo 35 em áreas urbanas, segundo o Exército israelense.
Nos ataques israelenses, em resposta aos disparos de foguetes, 19 palestinos morreram no domingo, entre eles uma mulher grávida e dois bebês, segundo o ministério da Saúde palestino. Também morreram seis militantes do Hamas, movimento islamita palestino que controla a Faixa de Gaza.
Já a polícia e os meios de comunicação do Estado hebraico reportaram quatro mortos em seu território devido aos bombardeios palestinos.
Os alvos dos ataques de represália de Israel incluíram o quartel-general das forças de segurança do enclave palestino, indicou um comunicado do ministério do Interior de Israel. O edifício, que fica na cidade de Gaza, foi destruído, acrescentou o texto.
Um combatente palestino, apresentado pelo Hamas como um de seus agentes e considerado por Israel como um intermediário financeiro de dinheiro advindo do Irã, também morreu em um ataque israelense.
Os palestinos dispararam os projéteis contra localidades do sul e do centro de Israel. Dezenas de foguetes foram interceptados pela defesa antimísseis, afirmaram as Forças Armadas israelenses, e grande parte caiu em áreas desabitadas.
O Exército israelense disse que seus tanques e aviões atingiram 220 alvos militares em Gaza.
A Turquia, por sua vez, criticou uma "agressividade sem limites", após o ataque israelense contra um edifício de vários andares em Gaza que, segundo Ancara, abriga o escritório da agência de notícias turca Anadolu.
Segundo a Anadolu, os funcionários da agência deixaram o edifício pouco antes do ataque, antecedido de um alerta.
Neste contexto, Israel anunciou o fechamento de passagens fronteiriças de Gaza e a proibição da pesca no litoral do enclave.
O presidente americano, Donald Trump, assegurou no domingo que Israel tem todo o apoio de Washington após a retaliação aos disparos feitos de Gaza.
"Mais uma vez, Israel enfrenta uma série de ataques mortais com foguetes dos grupos terroristas Hamas e Jihad Islâmica. Apoiamos Israel 100% na defesa de seus cidadãos", tuitou Trump.
Israel e Hamas se enfrentaram em três guerras desde 2008.
No fim de março, sob os auspícios de Egito e ONU, negociou-se um cessar-fogo, anunciado pelo Hamas, mas nunca confirmado por Israel. Isto permitiu manter uma relativa tranquilidade durante as eleições legislativas israelenses de 9 de abril.
Mas a situação se degradou nesta semana. Voltaram os disparos de foguetes e balões incendiários palestinos, assim como as represálias israelenses.
Três fatores poderiam pressionar Israel a acalmar a situação: as negociações em curso para formar uma coalizão governamental depois da vitória de Netanyahu nas eleições, o concurso musical Eurovisão, previsto para ser realizado em Tel Aviv em meados de maio, e as comemorações pela criação do Estado de Israel, na quinta-feira.
Desde março de 2018, os palestinos se manifestam na fronteira entre a Faixa de Gaza e Israel contra o bloqueio ao enclave e pelo retorno dos refugiados que foram expulsos ou tiveram que abandonar suas terras após a criação de Israel em 1948.
Ao menos 276 palestinos morreram desde o início da mobilização, nas manifestações ou nos ataques israelenses como represália. Dois soldados e um civil israelense morreram neste período, devido aos confrontos entre Gaza e Israel.
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