Locomotiva da Europa, Alemanha vê soluço preocupante na economia

Desempenho modesto tem reflexos nas eleições ao Parlamento Europeu desta semana

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Paris

Locomotiva da União Europeia (UE), a Alemanha elege no domingo (26) seus 96 representantes no Parlamento continental emitindo sinais de perda de fôlego.

Incertezas econômicas e políticas, tanto no plano doméstico quanto no externo, colocam em xeque o modelo de austeridade fiscal e aposta em exportações que valeu ao país uma década de esplendor.

Angela Merkel, chanceler da Alemanhã, visita o terminal de contêineres Altenwerder no porto de Hamburgo, região norte da Alemanha
Angela Merkel, chanceler da Alemanhã, visita o terminal de contêineres Altenwerder no porto de Hamburgo, região norte da Alemanha - Patrik Stollarz - 6.mai.2019/AFP

O sintoma mais evidente de que a engrenagem engasga é a variação do PIB. Nos dois últimos trimestres de 2018, o crescimento econômico foi ora negativo (entre julho e setembro), ora inexistente (entre outubro e dezembro).

A atividade se recuperou nos primeiros três meses de 2019, puxada pelo consumo interno. Mas os prognósticos permanecem sombrios: o FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê alta de apenas 0,8% para 2019, muito menos do que os 2,2% de 2017 ou mesmo que o 1,4% de 2018.

O palpite do governo, já revisto duas vezes para baixo, é ainda mais cauteloso: crescimento de 0,5%. 
Mas o que está descarrilando o trem pilotado com destreza por tantos anos pela chanceler Angela Merkel, ainda mais em um contexto de desemprego abaixo (5%, um recorde em 30 anos) e salários em ascensão?

Há fatores externos, como a indefinição que cerca a saída do Reino Unido da UE e a imprevisibilidade da guerra comercial entre EUA e China.

Já no front interno, somaram-se reviravoltas circunstanciais e vulnerabilidades estruturais que começaram a cobrar um preço. 

No primeiro grupo, está, por exemplo, a dificuldade da indústria automotiva alemã em adaptar sua produção aos tetos de emissão de CO2 (dióxido de carbono) fixados pela UE e em vigor a partir de 2021.

No segundo, entram variáveis como a falta de mão de obra qualificada —havia, no fim de 2018, mais de 1,2 milhão de postos não ocupados no país—, as barreiras à entrada de trabalhadores não originários da UE e as lacunas de infraestrutura —redes ferroviária e rodoviária defasadas, assim como telecomunicações.

A sobreposição de carências afeta a competitividade da indústria alemã, ainda mais quando se leva em conta a elevada carga tributária local, em um contexto de enxugamento da folha de impostos sobre o setor produtivo —caminho da França e dos EUA. 

Por causa da trepidação da economia, a arrecadação do governo deve diminuir. Um documento do Ministério da Economia obtido pela agência Reuters em fevereiro citava uma previsão de déficit anual de até 5 bilhões de euros (R$ 22,6 bi), a partir de 2019.

Isso em um país que se orgulha há tempos de ser o “aluno exemplar” da Europa em matéria de equilíbrio fiscal —no ano passado, o superávit foi de 11 bilhões de euros (R$ 50 bi).

O prognóstico desfavorável freia qualquer ímpeto de investimento que o governo Merkel possa ter para reenergizar a economia.

A líder conservadora já entregou a chefia de seu partido (União Democrata-Cristã, CDU) à sucessora, Annegret Kramp-Karrenbauer, e sinalizou que deixará a chancelaria no mais tardar daqui a dois anos. A impressão de fim de uma era (e as dúvidas sobre os contornos que terá a próxima) contribui para a depressão do ambiente econômico alemão.

As sondagens para a eleição de domingo espelham o enfraquecimento dos partidos tradicionais que se vê em outras latitudes europeias.

A CDU lidera, mas deve encolher mais de cinco pontos percentuais em relação a 2014. A queda dos social-democratas, da coalizão de Merkel, pode ser ainda mais aguda, na casa dos 10 pontos, o que os deixaria no patamar dos Verdes.

Em outro eco da política europeia (e ocidental), a Alternativa para a Alemanha, de ultradireita, deve avançar de 7% há cinco anos para algo em torno de 12%.

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