Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

'Pelo semblante, percebi que Bush se preocupa com situação na Argentina', diz Bolsonaro

Presidente volta a falar contra possível reeleição de Cristina Kirchner, após encontro com ex-líder americano em Dallas

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Dallas

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira (15) que discutiu com o ex-presidente dos EUA George W. Bush a situação política na Argentina e que, pelo semblante do americano, pode perceber que ele compartilha sua preocupação com o possível retorno de Cristina Kirchner ao poder no país sul-americano.

Após reunião de cerca de uma hora com Bush —dez minutos deles somente com um tradutor, já que o brasileiro não fala inglês— Bolsonaro afirmou que não se pode correr o risco de ver Cristina ganhar mais uma vez a eleição, o que, nas suas palavras, seria um “gol contra” que levaria o populismo de volta àquele país.

O presidente Jair Bolsonaro se encontra com o ex-presidente dos EUA George W. Bush em Dallas, no Texas
O presidente Jair Bolsonaro se encontra com o ex-presidente dos EUA George W. Bush em Dallas, no Texas - Jair Messias Bolsonaro no Facebook

“Eu não sou vidente mas, pelo semblante, eu entendi que ele [Bush] tem preocupação não só com a Venezuela, bem como a questão da Argentina”, disse Bolsonaro a jornalistas após o encontro.

“Nós queremos sim, sabemos a dificuldade da Venezuela, voltar à normalidade. Mas, mais importante do que fazer um gol é evitar outro, e esse gol contra seria a Argentina voltando para as mãos da Kirchner."

Bolsonaro manteve o discurso da ala militar de seu governo de que não se envolve na política interna de outros países mas disse que teme que a Argentina, com Cristina, vire uma “Venezuela no sul da América do Sul”.

“Então há interesse nosso, apesar de não nos envolvermos na política externa, em, como cidadão, como patriota, como democrata e amante da liberdade, nós gostaríamos que a Argentina não retrocedesse nessa questão ideológica.”

No início deste mês, em transmissão ao vivo nas redes sociais, Bolsonaro apelou aos eleitores argentinos para que não reconduzam Cristina ao poder. 

O presidente Mauricio Macri tem um posicionamento alinhado ao de Bolsonaro, mas seu governo tem enfrentado uma crise econômica, e seu desempenho em sondagem recente foi inferior ao da senadora em um eventual segundo turno.

Da primeira parte da reunião, de cerca de 50 minutos, participaram, além de Bolsonaro e Bush, os ministros Paulo Guedes (Economia), Augusto Heleno (GSI), Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Filipe Martins, assessor da Presidência para assuntos internacionais —foi ele quem traduziu, em seguida, a conversa privada dos dois líderes.

Segundo presentes, Bolsonaro e Bush discutiram ainda parcerias no setor de óleo e gás —forte no Texas—, a crise na Venezuela, a relação do Brasil com os republicanos e a guerra comercial entre China e EUA.

Para Bolsonaro, o Brasil vai se beneficiar naturalmente da disputa de tarifas entre os dois países —o setor de agricultura, por exemplo, ganha importância e mercado com a guerra entre as duas potências.

“Temos um pequeno problema econômico entre Estados Unidos e China, não digo que nós vamos tirar proveito disso, o proveito disso cai naturalmente, como se fosse pela manobra, né, nós tivéssemos um ganho nessa guerra comercial que existe no mundo todo”, afirmou o presidente.

A reunião com Bush foi tratada como o trunfo da viagem de Bolsonaro a Dallas —articulada às pressas pelo Itamaraty depois que o presidente cancelou sua ida a Nova York devido a protestos inclusive do prefeito da cidade, o democrata Bill de Blasio.

Auxiliares do Planalto disseram que Bush afirmou que Bolsonaro acertou ao buscar investidores e empresários fora dos grandes centros, como Dallas, no Texas.

Nesta quinta (16), Bolsonaro vai se reunir com empresários e políticos para receber a homenagem de Pessoa do Ano, promovida pela Câmara de Comércio Brasil-EUA, que deveria ter sido entregue a ele em Nova York.

O ex-embaixador dos EUA no Brasil Cliff Sobel articulou a reunião de Bolsonaro com Bush. O ex-presidente americano era próximo de Lula e hoje, no Partido Republicano, é uma das vozes mais críticas a Donald Trump —de quem o brasileiro é fã declarado.

“Quando foi decidido vir para cá, logicamente o nome do Bush foi levado em conta, e interessava a gente ter esse contato com ele. Solicitamos e, de pronto, ele se manifestou favorável também. Então, tivemos uma reunião bastante proveitosa”, completou Bolsonaro.

Bolsonaro almoçou hambúrguer numa lanchonete perto do hotel e foi a pé com sua comitiva ao escritório de Bush, a cerca de 300 metros do local. 

A caminhada de menos de cinco minutos foi escoltada por seguranças do serviço secreto americano.
No fim da tarde, Bolsonaro fez uma visita com seus principais ministros ao Sixth Floor Museum, que exibe a história do assassinato do ex-presidente dos EUA John F. Kennedy.

De acordo com aliados, o presidente brasileiro ficou bastante impressionado com o museu —ao se lembrar do atentado a faca que sofreu ainda durante a campanha no ano passado.

À noite, ele deve ter um jantar com empresários. 

 
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