Magros 50 dias depois de uma eleição, o Knesset (Parlamento israelense) dissolveu-se e, em consequência, haverá uma nova votação (em setembro).
Já é uma situação inédita (e insólita) a de haver duas votações no mesmo ano. Mas torna-se surrealista quando se sabe o motivo que impediu o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu de formar uma coligação com maioria suficiente para governar (ao menos 61 dos 120 deputados).
Israel está à espera de um plano de paz entre israelenses e palestinos que o genro do presidente Donald Trump, Jared Kushner, deve apresentar em breve.
Foram divergências em torno desse plano que motivaram o colapso do Knesset recém-eleito? Não.
Há intensa movimentação em torno do programa nuclear do Irã, país que Israel vê como uma ameaça existencial.
Os deputados divergiram sobre qual política a seguir nesse xadrez, impedindo configurar uma coalizão? Também não.
Israel é um país que, tecnicamente, ainda está em guerra com dois de seus quatro vizinhos (Líbano e Síria).
Havia propostas conflitantes entre os deputados sobre como lidar com essa situação, sempre desagradável? Não.
O que levou ao colapso das negociações para formar governo foi uma discordância sobre o serviço militar para os estudantes das yeshivas (as escolas de formação judaicas) entre um partido de extrema-direita, mas laico, e um partido de extrema-direita, mas religioso.
Paralisar o governo por essa questão —que só existe em Israel— demonstra o peso do extremismo religioso no país, apesar de os haredi, os tementes a Deus, serem apenas 11% da população.
E, para fechar o teatro do absurdo, a lógica mais elementar indica que a nova eleição dificilmente apresentará resultados muito diferentes dos que emergiram das urnas de abril: fragmentação dos partidos (11 estão representados no Knesset, apenas dois com deputados na casa dos dois dígitos), predomínio da direita e da extrema-direita.
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