Nesta segunda-feira (3), militares reprimiram um protesto organizado por civis pela democracia no Sudão e deixaram ao menos 35 mortos e centenas de feridos em Cartum, capital do país, afirmaram fontes médicas.
Os manifestantes estavam acampados em frente ao Ministério da Defesa quando começaram os tiros.
Para a Associação de Profissionais do Sudão, sindicato que liderou o protesto, o ocorrido foi “um massacre numa tentativa traiçoeira de dispersar o protesto”.
O Conselho Militar de Transição do país, no entanto, negou que o intuito da ação fosse dispersar o acampamento.
Em entrevista ao canal Sky News Arabia, o general Shams al-Deen al-Kabashio, porta-voz do governo, afirmou que as forças de segurança buscavam controlar uma zona de atividades ilícitas próxima ao protesto e, durante a ação, criminosos se infiltraram no acampamento.
“As barracas continuam no local, e os jovens podem circular livremente", afirmou o general.
A área do ataque era ocupada por acampamentos desde abril deste ano, quando o ditador Omar al-Bashir foi destituído após três décadas no poder, e uma junta militar tomou controle político do país.
O grupo de oposição Aliança pela Liberdade e a Mudança (ALC) anunciou na mesma manhã a interrupção de todo contato e negociação com o Conselho Militar.
Em um comunicado, a ALC também convocou os manifestantes a uma “greve e desobediência civil total e indefinida a partir de hoje”.
O ataque alarmou as organizações internacionais. As embaixadas dos Estados Unidos e do Reino Unido no país também criticaram a ação dos militares sudaneses.
Em uma rede social, o embaixador britânico, Irfan Siddiq, afirmou que “não há desculpas para tal ataque”.
A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, afirmou que o uso de armas pelos militares próximo às instalações médicas é “extremamente alarmante”.
“Insisto às forças de segurança suspender imediatamente esses ataques e garantir acesso seguro e desimpedido aos serviços médicos,” pediu Bachelet.
A União Europeia também instou os militares a permitir o protesto pacífico de civis. A Comissão da União Africana, que já pediu aos líderes para entregarem o poder político à população, defendeu uma investigação imediata.
Eleições
O Conselho Militar de Transição anunciou na terça (segunda à noite em Brasília) que realizará eleições em no máximo nove meses.
A medida foi uma resposta às críticas recebidas pelo episódio de violência em um acampamento em frente ao Ministério da Defesa na segunda (3).
O conselho também afirmou que cancelou todos os acordos firmados com a principal coalizão de oposição, a Declaração de Liberdade e Forças da Mudança (DFCF, na sigla em inglês). As partes chegaram a um impasse após semanas de negociação.
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